– As coisas decairam um pouco. – Disse John ao se aproximar de casa e passar pela pequena floricultura de sua mãe a alguns metros da entrada da casa. – Aonde estão as rosas brancas? – Perguntou ao perceber que o lugar aonde sua mãe as colocava para vender estava vazio.– As coisas estão difíceis por aqui. – Disse sua mãe, abrindo a porta e colocando uma pequena mochila com as roupas do loiro em uma mesinha de madeira. – Não tenho dinheiro para pagar o fornecedor que distribui as rosas.
– Não teria problema se retirace um pouco da herança e comprasse novas espécies de flores. – John adentrou na sala e colocou a mala, que continha o resto de seus pertences, próximo ao sofá de couro já bem gasto pelo tempo.
– Não vamos começar com este assunto novamente. – A mulher disse, se sentando no sofá e inclinando-se para frente, de modo que sua mão alcançasse uma caixinha de remédios que estava na mesa e colocando imediatamente uma das pílulas na boca, juntando o máximo de saliva possível para engoli-la.
– Eu sei que não é uma boa hora para entrar neste assunto. – Seu filho se sentou ao lado da mãe, que ainda forçava a garganta para engolir o comprimido, seus movimentos peristalticos eram quase nulos. – Mas... Se caso eu passar nesta prova, eu terei que me mudar para Londres. – Conseguia ver a respiração de sua mãe oscilar. – E a senhora teria que abrir mão de parte da herança para que eu possa ir para a nova escola, pelo menos para gastos necessários.
Sua mãe não respondeu, apenas bufou e passou as mãos pelos cabelos, como se estivesse prestes a ter um pequeno ataque de nervoso. Não queria tocar naquele assunto, queria esperar a resposta da escola e apenas depois se preocupar com a questão.
– Ok. – John começou, vendo que sua mãe não iria responder e ele não queria provocar ainda mais estresse. – Vou te ajudar esses dias aqui em casa. Vamos fazer de conta que estamos nos velhos tempos. – Tentou sorrir e soar o mais amigável possível. Levantou seu braço e passou-o por cima das costas de sua mãe, que permanecia com as mãos na cabeça e a envolveu em um abraço.
Os velhos tempos que John queria dizer, eram os tempos em que seu pai estava vivo e seu irmão ainda não havia entrado no mundo alcoólatra. Lembrava-se de todas as férias brincar com seu pai no enorme quintal da casa e encobrir as confusões de seu irmão, que vivia aprontando com os vizinhos. Adorava ouvir as histórias que seu pai contava sobre o que havia vivido no exército, sempre exaltando o trabalho dos médicos. John os via como anjos da guarda em meio a fúria dos homens e aquilo alimentava ainda mais seu desejo de seguir a área da medicina.
Sempre que podia, seu pai fazia questão de reunir a família na parte externa e jantar ao ar livre. Seu pai era excelente no violino, John adorava ouvir as diversas sinfonias, todas bem armazenadas na cabeça de seu pai. Sempre teve curiosidade de aprender a tocar o instrumento, mas nunca tivera coragem de pedir para que ele lhe ensinasse, afinal seu pai tinha uma vida agitada entre o exército e a casa e quando finalmente parou em casa, foi por causa de sua doença e a última coisa que John queria era incomidá-lo.
Seu pai morreu, não tivera a chance de pedir para que lhe ensinasse a tocar o instrumento, que nem existia mais, seu irmão havia vendido para pagar a dívida que fizera em um pub, assim como os outros pertences de seu pai, se salvando apenas a bengala, que permanecia na segurança de John.
Agora John se encontrava abraçado com sua mãe depressiva, que achava que o único jeito de manter a alma de seu pai viva, era guardando a herança. Olhava para a enorme janela da sala, dando vista para o quintal, que agora tinha sua parte ocupada pela barraca de flores, único passatempo de sua mãe, que devido a depressão, não conseguia nem mais cuidar de si mesma, abandonada por um filho alcoólatra, que só Deus saberia aonde ele se encontrava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de Verão
FanfictionUm menino, atendido pelo nome de John Watson, perdido na imensidão de Londres, recém chegado de Lacock, novato em uma das principais escolas da região, sentido com a recente morte do pai, obrigado a aprender a conviver com a depressão de sua mãe e o...