P.O.V. Sherlock
Minha cabeça doía, sentia meu corpo sedado e a boca seca. Tentei abrir os olhos, mas as luzes irritavam minha visão.
Cheguei a conclusão que a melhor opção seria ficar com os olhos fechados e tentar descobrir através dos sons aonde, exatamente, eu estava.
Me lembrava de estar no refeitório, minha visão era turva e eu não conseguia me equilibrar. Alguém havia falado comigo e me levado a algum lugar. Perdi a consciência e sentia apenas as pessoas me guiando e falando coisas que eu não entendia. Senti toda minha visão escurecer e meu corpo não pertencer mais a mim. Talvez aquela fosse a maravilhosa sensação da morte. Por que não me deixaram ficar com ela?
Agora eu estava na enfermaria de certo, uma vez que ouvia o som dos aparelhos e de algumas enfermeiras falando no corredor. Meu braço direito estava com uma agulha, creio que estava recebendo soro e medicamento em um outro furo um pouco acima do meu pulso.
Meu peito estava descoberto, sentia o vento bater em meu abdômen coberto de fios e aparelhos ligados próximos a meu coração.
O enjoo que sentia antes de perder a consciência havia passado, mas minha cabeça latejava e meu olho direito doía. Com muito esforço consegui abrir os olhos, minha visão ainda era turva mas conforme eu piscava, a imagem da sala ia ficando nítida e sentia minhas funções corporaes voltarem a normalidade.
"Ainda vivo." Pensei, já que minha boca estava seca demais para conseguir falar. Quando tentei pronunciar algo, senti a mão de uma enfermeira verificando minha pulsação.
"Olá Sherlock." Ela disse e pegou uma pequena bandeja com dois comprimidos. "Você nos deu um susto ontem em."
"Moriarty..." Tentei pronunciar, mas faltava saliva. "Água..." tentei falar mais alto.
A enfermeira ouviu ou pelo menos tentou entender o que eu estava falando. Ela demorou um pouco para pegar o copo e encher até a metade com água, quando o fez, tentei inclinar a cabeça para frente junto com meu corpo, já não sentia mais dor, um pouco cansado talvez, mas a dor não passava de um pequeno incômodo, talvez fosse o efeito dos sedativos.
Dei alguns goles na água e devolvi o copo, de início foi difícil convencer meus músculos a engolirem a água, provocando uma enorme dor na garganta quando as primeiras godas passaram.
"Amanhã já vai poder voltar para às aulas no período da tarde. Seus exames estão um pouco alterados, mas nada que os medicamentos e uma boa alimentação não resolvam." Aquela enfermeira falava animada demais para alguém que não gostava verdadeiramente do que fazia a anos.
Ela era uma das mais antigas da Harrow School, June, era seu nome. Era alta, 41 anos aparentando ter um corpo de 35 anos, mas as olheiras e algumas marcas ao redor do pescoço e mãos, até algumas palavras que saiam de sua boca, demonstravam o desgosto com o trabalho.
Viera de família de classe média alta e como todos os pais querem cargos altos a seus filhos, ela foi obrigada a cursar medicina, mas como não tinha paciência para hospitais, preferiu se acomodar em uma área menor e apenas o fato de trabalhar na Harrow School, já trazia orgulho a família. Realmente a vida é uma merda e me pergunto o motivo de viver, sendo que mesmo conseguindo nossos objetivos, iremos morrer e nunca mais seremos lembrados, pelo menos não do jeito que esperamos.
Tudo não passa de uma grande idiotice e dias e mais dias de tédio em nossos próprios corpos, que somos obrigados a aturar e conviver com os defeitos que nele contém. O meu, no caso, tem muitos defeitos, um deles é meu cérebro, que não acompanha meu corpo, muito menos o mundo em que fui condenado a viver.
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Amor de Verão
Fiksi PenggemarUm menino, atendido pelo nome de John Watson, perdido na imensidão de Londres, recém chegado de Lacock, novato em uma das principais escolas da região, sentido com a recente morte do pai, obrigado a aprender a conviver com a depressão de sua mãe e o...