John seguiu para a sala, sentou-se no sofá e passou as mãos pelos fios loiros de seu cabelo. Seus pensamentos estavam a mil, seu coração disparado e a vontade de chorar era imensa. Toda a alegria da manhã e as lembranças da infância, que lhe traziam um pouco de aconchego, se transformaram em incerteza e medo.
Tudo que mais queria no momento era ver sua mãe feliz e curada da depressão, mas a possibilidade de ir para Londres, terminar seus estudos de uma maneira que nunca havia esperado, e o melhor, sabendo que isso agora era possível, não pensaria duas vezes antes de lutar por esse objetivo, por mais que uma parte dele ficasse em Lacock.
Permaneceu sentado, recostado no velho sofá azul, seu corpo afundava nas almofadas, sentia sua cabeça pesar, fechou os olhos, os sons dos pássaros haviam cessado, sua mãe estava trancada no quarto em silêncio, John adormeceu.
O tempo havia mudado, a porta e as janelas da cozinha batiam violentamente, o que fez o loiro acordar com o som da porta batendo contra o trinco e voltando em direção a parede.
John levantara abruptamente do sofá, andou mancando até a cozinha, seguiu em direção ao quintal, aonde a mesa com os pratos e parte do almoço ainda estavam lá, mas devido ao vento intenso, o vaso de flores havia caído e as folhas e gravetos lançados pelo vento, agora faziam parte do cardápio.
O loiro correu para levar as panelas e os pratos para dentro da cozinha, parecia um maluco correndo do quintal para a casa, após pelo menos umas seis corridas carregando pratos e talheres, sentou em uma das cadeiras próximo a mesa, sentia seus pulmões arderem e o ar sumir, corrida não era seu forte e agora seu pé torcido doía mais do que tudo, a torção já estava melhor, havia retirado a tala por conta própria durante o almoço.
Recostou na cadeira e fechou os olhos, tentou pensar em qualquer outra coisa para esquecer a dor, a imagem do Big Ben vinha em sua cabeça, lembrava das histórias de seu pai quando este havia ido para Londres, seu pai amava Londres. Lembrou de uma história que ele lhe contara uma vez, que quase havia sido assaltado em uma das ruas. John fechou ainda mais os olhos, de modo que rugas aparecessem em sua testa. "Baker Street", lembrou-se do nome da rua em que seu pai quase fora assaltado, mas um menino de cabelos negros cacheados, dera um murro no assaltante e devolveu os pertences a ele.
John gostava desta história, quem seria o menino que ajudara seu pai? Mas antes que pudesse criar teorias, ouviu a porta do quarto de sua mãe se abrir, seu coração disparou e seu corpo ficou ajeitando na cadeira.
– Mãe? A senhora está bem? – O garoto perguntou, antes mesmo que ela terminasse de andar pelo corredor que dava para os quartos e tinha acesso à cozinha e o encarasse com seu olhar morto.
Não houve resposta, a mulher se sentou na cadeira de frente para seu filho, o olhar fixo em John.
– Se não quiser falar nada... – Tentou falar, mas foi cortado pela mãe.
– Eu preciso. – Agarrou a mão do filho com uma determinada força que era quase impossível de ser produzida por uma mulher naquelas condições de saúde.
Permaneceu por mais alguns segundos, segurando a mão de seu filho até seu corpo perder força e ser obrigada a soltar. Pegou a carta que estava em seu colo e colocou sobre a mesa. John engoliu em seco.
– Por muito tempo vivi tentando preservar a memória de seu pai. – Ela parou abruptamente, um acesso de tosse a dominara, John correu para a pia e pegou um pouco de água. Ela o bebeu imediatamente. – Eu não vou suportar mexer na única lembrança que tenho dele. – Disse logo após engolir o último gole de água.
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Amor de Verão
FanfictionUm menino, atendido pelo nome de John Watson, perdido na imensidão de Londres, recém chegado de Lacock, novato em uma das principais escolas da região, sentido com a recente morte do pai, obrigado a aprender a conviver com a depressão de sua mãe e o...