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— Vou começar a rodar bolsinha!

Eu paro o que estava digitando no celular e olho para uma jovem a minha frente na fila da lanchonete que fala ao celular.

— Meus sobrinhos pensam que sou o quê, rica?! Clarinha que a porra de uma baby alive. — ela continua dando agora dois passos para frente quando a fila se movimentou. — Sabe quanto custa aquela boneca maldita? O olho do meu cu! Ainda tem os gêmeos. A Bia quer a bosta de um celular novo e o Bruninho um jogo de edição limitada que beira aos duzentos paus. Esses moleques acham que ando cagando dinheiro por acaso?!

Olho ao redor do estabelecimento para ver se alguém além de mim esteja ouvindo essa conversa. Sem nenhum pingo de vergonha a garota permanece com sua lamúria. As pessoas parecem não darem importância. Mesmo que use de um tom normal acredito que não deveria falar desse jeito.

Isso é o que dar ter que comprar o almoço na lanchonete em vez do restaurante que fica a quatro quadras da clínica. Infelizmente com a rotina agitada que estou tendo por conta da chegada do final de ano não posso me dar ao luxo de sempre se deslocar para outro lugar distante.

— Começarei janeiro entupida de boletos para pagar. Aquela tinta que comprei na loja de cosmético foi nadinha barata. Sorte minha que aquele curso de cabeleireiro gratuito que fiz serviu para alguma coisa. Se eu fosse inventar de ir para um salão sairia mais pobre do que estou agora. Fim de ano esse povo bota lascando em cima de nós.

Ao notar as pontas coloridas do seu cabelo a reconheço. Essa é uma das novas recepcionistas contratadas. Seis meses atrás passamos por uma mudança e foi preciso contratar mais duas recepcionistas para a clínica que se expandiu.

Como se chama a garota mesmo?

Não recordo o nome. Julia que fica responsável pelas contratações.

— Sarah não cansa de parir?! Vou presentear meu irmão com uma vasectomia. Como trabalho numa clínica talvez eu tenha algum desconto. Eu quero é ver colocarem mais algum filho no mundo. Amo meus amados sobrinhos, mas aqueles servos do mal pensam que sou um banco. Me deixa dar primeiro um golpe num gringo para daí bancar os pestinhas. — soltando uma risada ouve a outra pessoa na linha.

Não que eu seja um santo, mas evito sempre falar algum tipo de palavrão ou usar certos termos. Essa garota é... desbocada. Acredito que se esqueceu que estamos num estabelecimento onde se freqüenta família.

— Uh, minha bunda tá meio estranha. — arregalo os olhos temendo o que virá a sair de sua boca a seguir. — Acho que ela está precisando rebolar esse final de semana. — ela rir divertida.

— Boa tarde! O que deseja? — pergunta a atendente para a garota.

— Vaca preciso desligar. Na tua casa lá pelas nove para a gente poder encher a cara de catuaba que comprei naquela promoção de leve três e pague duas. Tá, mais tarde a gente se fala. Tchau! — ela desliga guardando o celular no... Senhor! No meio dos seios. — Boa tarde, quero dois misto quente e um suco de abacaxi.

A atendente digita seu pedido no computador e pega o dinheiro.

— Aqui, obrigada. — entrega a nota do pedido acompanhado com o troco. — Aguarde que seu pedido logo será entregue.

— Obrigada. — agradece saindo da fila.

— Boa tarde, Doutor Montenegro. — a atendente sorrir amplamente empurrando os seios para frente. — O que deseja para hoje? O de sempre?

— Boa tarde, Sonia. — forço um sorriso para a mulher que tem aproximadamente uns trinta anos. — Sim, por favor. — digo sentindo o celular na mão vibrar.

Namorada Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora