— Preciso arranjar uma falsa namorada em duas semanas, Julinha.
— Na verdade precisa é de uma namorada de verdade. — segurando a xícara cheia de chá diz Julia, gestora do RH e única amiga antiga. — Não posso acreditar que mentiu para sua família, Romeo. Logo você tão certinho.
— Ela vai está lá! — digo como se fosse motivo suficiente para ter omitido a verdade.
— Então essa é a sua desculpa? Quatro anos! Faz quatro anos que Julieta te deu um pé na bunda legal te trocando pelo Victor e desde que aconteceu você vive inventando pretextos para não passar o Natal ou até mesmo ir visitar a sua família.
— Se esqueceu que fui humilhado justamente num Natal?
— Supera. — ela toma um gole do seu chá. — Realmente não te entendo. É jovem, saudável, excelente profissional e mesmo com algumas manias é um homem do bem. Por que não consegue seguir em frente com a sua vida? Aquela cobra nunca te mereceu. Como pode ainda amá-la?
— Eu a amava. — pontuo bem o passado. — Achei que seria minha esposa e mãe dos meus filhos. — murmuro cabisbaixo recordando das velhas lembranças do passado que insistem em me perseguir e torturar.
Odeio poder ainda sentir algo por Julieta. A simples menção do seu nome ainda mexe bastante comigo depois de tanto tempo ter se passado. Como pude ter agido tão imaturamente com a ligação da minha mãe.
Confesso que estava com a desculpa na ponta da língua sobre não poder passar as comemorações de fim de ano com a família quando ela contou que Victor e Julieta marcaram presença na ceia de Natal. Uma simples menção do nome daquela mulher para que eu congelasse e agisse feito um estúpido idiota.
Só recordar que passei um fim de semana inteiro chorando que nem criança e bebendo por conta desta miserável sinto uma enorme vergonha. Hugo, meu melhor amigo zoar comigo até hoje pelo episódio.
Enfim, ao notar a reação que tive minha mãe começou seu discurso famoso sobre não deixar que meu primo e ex-noiva me afetassem. A Julieta não era o amor da minha vida. Nunca me amou realmente para ter feito o que fez.
Enfurecido falei que os dois traidores não eram o motivo de nunca poder ir visita-lá e sim o meu trabalho que ocupava meu tempo. Eu e Julia somos sócios desta clínica que com o passar dos poucos anos cresceu. Expandiu de tamanho. Minha mãe então afirmou que eu não havia superado completamente o fim do meu noivado e que por conta disso não arranjo nenhuma namorada. Seria um solteirão amargo e rancoroso pelo resto da minha vida.
Neguei mesmo sabendo no fundo que pudesse estar certa. Sei que estou indo neste caminho. Infelizmente o que me desarmou foi seu tom entristecido falando de como a minha vida andava aos seus olhos e da família. Antes de ser enganado eu tinha planos de casar, comprar uma casa, ter filhos, cachorro e construir uma bela família. Mas tudo mudou para mim.
Aos 32 anos estou aqui solteiro, morando num apartamento e focando em terminar de construir uma carreira de sucesso. E claro, expandir a clínica muito mais ainda. Namoradas? Não sou nenhum galanteador. Meus últimos casos foram um completo desastre. Hugo vivia querendo bancar o cupido para cima de mim.
— Sei que a Julieta não foi o único motivo. Acredito que o maior foi para não decepcionar a sua mãe.
— Em momento algum contei que tinha arranjado uma namorada.
— Mas deu a entender. Sabe muito bem que para as nossas mães tradicionais não existe o termo ficar ou estou conhecendo alguém. É um namoro ou não, simples assim no entendimento delas.
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Namorada Por Acaso
RomanceMiriam Nelles não se encaixa nos padrões de mulher perfeita, principalmente para casar. Baixinha espevitada, resmungona, festeira, um pouquinho boca suja e muito bem-resolvida não se preocupa nenhum pouco com os comentários de tias, velhas fofoqueir...