Capítulo 5

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Acordo com uma sensação sufocante e levo alguns segundos para entender que é calor. O cabelo gruda na testa, como as roupas ao corpo. Tento sair dessa posição, mas o lado esquerdo do meu corpo está dormente, e sinto que tem algo pesado em cima de mim. Abro os olhos e grito ao ver o garoto lobisomem.

Provavelmente com o barulho, ele acorda, movendo-se e me dando espaço para sair debaixo dele, acabando por cair do sofá.

Ele tenta se levantar, mas faz uma expressão de dor e leva a mão até o lugar que eu feri.

- Então vocês acordaram - o garoto de cabelos prateados fala, ele está sentado numa cadeira próxima de nós.

- Eu vou te matar, Park - o de cabelos cumpridos fala, levantando com dificuldade. É possível ver o sangue se espalhando por sua camisa pelo movimento forçado.

- Com essa ferida? - Park debocha. - Não mata nem ela.

- Por que trouxe ela? - o garoto rosna.

- Ela ia morrer de hipotermia se a deixasse lá, disse que precisava de calor humano, e ninguém mais quente que você. Eu falei com o HoSeok, você ainda tem algumas horas de vida com o aconitum no sangue.

- Você salvou ela, mas não a mim? - o garoto pergunta furioso.

- Se não fosse por ela você teria me mordido ontem, seu bastardo - ele empurra o mais alto que cai no sofá. - Depois de ter mordido o NamJoon, você só não está pior do que o JungKook. Sua sorte é que o HoSeok está do seu lado, por que você fez a p*rra de uma promessa e está cumprindo ela muito mal.

- QUEM MANDOU VOCÊ ENTRAR NA FLORESTA NA NOITE DE LUA CHEIA SE SABE QUE EU NÃO TENHO CONTROLE?

- EU FUI TE AJUDAR, SEU IMBECIL. VOCÊ QUE ATÉ HOJE NÃO APRENDEU A CONTROLAR ESSA MERDA.

- EU NÃO PRECISO DE AJUDA - ele joga uma almofada no que está em pé.

- É MESMO? - ele arremessa o objeto longe. - ENTÃO MORRA OU ESPERE O HOSEOK VIR TE AJUDAR, VOCÊ TEM TRÊS HORAS - então some, como se nunca estivesse estado ali.

Lembro de ontem quando disse que é um vampiro. Depois de ver um lobo de um metro virar um garoto de vinte anos com meus próprios olhos, não duvido de mais nada.

O quê sobrou tenta levantar, mas suspira frustrado ao cair sentado novamente.

- Vo-você quer ajuda...? - pergunto antes de pensar.

Ele ri e leva a mão à lateral do corpo, provavelmente com dor.

- Vai me dar outra facada?

- Eu poderia... - falo tirando a faca de onde estava. - Você mal consegue se mexer mesmo.

Ele fica imóvel, encarando-me como se avaliasse minha capacidade de fazê-lo. Pelo menos aquela pose de invencibilidade saiu e vejo a incerteza em seu olhar.

- Eu ainda posso te matar - fala não mais tão ameaçador quanto antes e acabo rindo.

- Então mata.

Num impulso, ele vem para cima de mim, no intuito de tirar a faca da minha mão. Mas, apesar de ter me assustado, ele tenta puxar a arma pela lâmina, gritando de dor com o ato.

- Idiota, eu banhei a faca em aconitum - falo e nós dois encaramos a mão borbulhando em algo que acredito ser pus. - Eu realmente podia te matar agora - digo encando-o sentado do meu lado. - Mas você não me matou quando teve a oportunidade. Naquele dia no meu quarto. E eu já estou me sentindo culpada pela primeira facada...

Ele me puxa pelo pulso, empurrando-me para o chão e colocando seu corpo por cima do meu, na intenção de me prender ali.

- Se eu quisesse, estaria morta agora - fala, mas ele puxou o pulso errado.

- Você também - olho para a faca a centímetros do seu abdômen e ele faz o mesmo, suspirando em seguida.

- Ok, você venceu - ele sai de cima de mim, com um pouco de dificuldade, e senta no chão mesmo.

Assim, tão fácil?

Sento também e vejo a mancha do sangue que escorreu da sua ferida para minha blusa, depois olho para ele. A mancha na sua parece ainda maior.

- Tem como eu te ajudar? - pergunto novamente me sentindo culpada. No fim ele não é tão ruim quanto eu tinha assumido.

Apesar das duas ameaças de morte segundos atrás.

- Não se cortar com essa faca seria ótimo.

- Está preocupado comigo? - ergo uma sobrancelha e coloco a faca em cima da mesa.

- Se você morrer o JiMin vai contar aos outros, e até o HoSeok vai querer me matar.

"Se você já não estiver morto" Penso ainda culpada.

- Quem é JiMin? - pergunto para não deixar a sala em silêncio.

- O bastardo que estava aqui.

- Você acha que vai mesmo morrer? - pergunto depois de outro momento de silêncio.

- Sério?

- Sim, eu estou me sentindo culpada - eu pensei que estava indo atrás de um monstro, não de um garoto.

- Oh, que fofa - fala sarcástico.

- Quer que eu vá embora também?

Ele não responde, então levanto. Porém sinto sua mão em meu pulso e esta escorrega por meus dedos até cair. Olho para trás e vejo que ele também começa a ir em direção ao chão, mas consigo segurar sua cabeça antes que caia.

- Você está quente - digo preocupada.

Por que estou preocupada com ele? Eu sou imbecil, só pode.

- Lobisomens são quentes - responde.

- Não desse modo. Eu vou pegar água para baixar a temperatura.

Ele me puxa para que sente e encosta a cabeça em meu ombro.

- Eu não acho que vá morrer. A qualquer momento, o HoSeok vai entrar pela porta com o que quer que possa me curar.

...

- Já faz uma hora e vinte minutos que estamos esperando - ele está gelado agora, isso deve ser pior que a febre.

- Vai dar tudo certo. JiMin disse três horas.

- Antes de você se cortar.

- Ele gosta de mais de mim para deixar que morra. Relaxe.

Ele mantém a boca aberta para tentar respirar melhor, a garganta deve estar fechando.

- Você precisa de ajuda - falo séria.

- Não estou... tão mal... - ele diz lentamente.

- Ainda consegue me ver? 

- Isso não vem ao caso.

Reviro os olhos.

- Eu não quero que você morra encostado no meu ombro.

Ele tenta sair de perto de mim mas não tem força. O sangue já se espalhou por mim e pelo sofá já que ele não me deixou fazer um curativo.

E então a porta se abre.

Um garoto de cabelo laranja entra furioso.

- TENTOU MORDER O JIMIN? VOCÊ NÃO APRENDEU COM A ÚLTIMA VEZ? SE TIVESSE ACONTECIDO NEM EU PODERIA TE AJUDAR. VOCÊ QUER MESMO MORRER, NÃO É, IDIOTA?

A atmosfera fica tão pesada que tenho medo de me mexer. Ele está mais furioso do que o garoto quando me achou na floresta ontem à noite, mas, apesar disso, algo no seu olhar parece decepcionado.

- Eu... já estou... morren... - o de cabelos laranjas lhe dá um tapa no rosto, com força suficiente para o garoto cair na direção oposta à mim, e quase grito com o susto.

- Você poderia nos dar licença, por favor? - ele me pergunta, subitamente calmo, como se tivesse controle total do que está fazendo.

Afirmo com a cabeça e levanto devagar, meio hipnotizada. Saio da casa e, ao chegar lá fora, começo a chorar. 

The Curses of Schwarzwald - Cursed Moon (kth) (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora