Capítulo 2

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Foco com a câmera e depois desfoco, tiro fotos de todos os ângulos possíveis. Até que ouço um uivo. Um não, vários.

Saio correndo na direção oposta, não vou morrer comida por lobos no meio da floresta. Não hoje.

Apesar da determinação, é muito difícil correr na floresta com a neve alta e no escuro, tentando desviar de todos os obstáculos, mas não vou desistir. E, quando estão muito próximos, tenho a ideia brilhante de ligar o flash, tirando fotos em sua direção, fazendo com que eles se assustem e interrompam a perseguição.

Mesmo assim, não paro de correr. Pelo menos não até alguém me puxar pela cintura com força suficiente para desenterrar meus pés da neve. Antes que possa gritar, o garoto de mais cedo tapa minha boca. Olho em seus olhos e a fúria é quase palpável.

Ele me puxa pelo pulso novamente e começa a correr. É difícil acompanhar seu ritmo e ele praticamente me carrega, mas não reclamo dessa vez. E, em dois minutos, estamos em uma casa, ainda dentro da floresta.

Entramos, o garoto fecha a porta e me joga num sofá:

- O QUE FOI QUE EU TE DISSE? - ele pergunta furioso.

- Um monte de besteiras - falo irritada também.

- EU...

- Me deve desculpas - interrompo.

- O quê? - ele pergunta incrédulo.

- Se toda vez que me encontrar me puxar pelo pulso desse jeito, vai acabar amputando minha mão - mostro a área que está bem roxa agora.

Ele ri debochado:

- Se acha mesmo que vou pedir desculpa por alguma coisa que eu fiz com você, está muito enganada.

- Não se preocupe, eu já sabia que você é um idiota sem educação.

Ele vem até bem próximo de mim e me encolho um pouco:

- Você não faz a mínima ideia de com quem está mexendo - nossos narizes quase se tocam.

- F-faça qualquer coisa e eu te denuncio.

Ele ri:

- Não consegue nem falar direito.

- Não importa - falo irritada.

- Eu posso te matar antes que possa tirar o celular do bolso - pela sua expressão, duvido que ele esteja blefando.

- Você não devia me ameaçar - tento não mostrar medo. - Isso é péssimo.

- Péssimo vai ficar em alguns minutos.

Ele, novamente, me puxa pelo pulso e me leva até o porão onde tem uma grade em volta de um jardim, como se fosse uma jaula. Aonde ele me joga.

- O que é isso? - pergunto irritada.

- Você é irritante e matá-la não seria tão ruim, mas eu não posso ter mais problemas. Então, vai ficar aqui até de manhã porque tirar você da floresta demoraria muito.

Ele sai, deixando-me sozinha no porão escuro, úmido e cheio de flores.

- Idiota - se ele acha que vou ficar aqui está tremendamente enganado.

Subo as escadas e encaro a arrumação da casa, apesar de ser no meio da floresta a decoração é muito moderna, na sala há uma TV LED gigante e caixas de som tão grandes quanto.

- VOCÊ NÃO É CAPAZ DE FAZER NADA CERTO? - ele grita irritado e se a câmera não estivesse no meu pescoço teria caído no chão com o susto. - EU VOU TER QUE TE TRANCAR LÁ EMBAIXO PARA QUE NÃO SAIA? - ele vem em minha direção.

- Se fizer isso te denuncio por sequestro e por me manter em cativeiro.

- Com esse celular? - ele tira meu celular do bolso e quebra-o com a mão. - Com esse telefone? - puxa o telefone fixo e leva um pedaço da parede junto. - Quer que eu quebre a câmera também? - puxo o objeto contra meu peito. - Ou seu pescoço? - nego. - Ótimo. Então volte para o porão e fique por lá.

Ele me leva até a escada, empurrando-me para baixo, mas consigo segurar no corrimão antes de descer tudo rolando.

Quem esse idiota acha que é?

Eu teria subido e procurado briga novamente, mas a verdade é que estou muito assustada para ir lá de novo - se bem que aqui também não é o lugar mais aconchegante do mundo, mas, pelo menos, melhor do que lá em cima com o garoto.

Vou descendo a escada até tropeçar e bater as costas, graças a escuridão do local, que não me deixa enxergar direito. Ligo a câmera e filmo no modo noturno, para ver onde estou.

Ouço um barulho estridente vindo do andar de cima e pulo de susto, ele está destruindo a casa? Esse menino realmente precisa de ajuda psicológica.

Através da porta dá para ouvir um rosnado, um som gutural que faz com que encoste na parede assustada.

A porta se abre lentamente e o causador do barulho aparece. Um lobo castanho, com quase um metro de altura, ainda rosnando. Porém para mim dessa vez.

Olho em volta e vejo a jaula com o pequeno jardim, sabendo que é minha melhor opção. Encaro o lobo e vou vagarosamente até as grades. Ele pula os degraus e cai na minha frente, fazendo-me tremer de susto, segurando o grito.

Meu coração acelera. O animal rosna e encaro a porta da jaula, se conseguir trancá-lo aqui...

Não há tempo para pensar, o lobo avança em minha direção e, por um milagre do destino, consigo sair no último segundo. Ele cai nas flores e guincha. Fecho a porta com força e saio correndo. Não consigo olhar para trás, apenas continuo correndo.

Estava escuro e foi rápido. Mas vi tempo suficiente para enxergar a raiva em seus olhos, a mesma do garoto.

Bato numa parede e praticamente arrombo a porta de entrada, mas saio da casa o mais rápido possível. Tropeço nos batentes e nas raízes de algumas árvores, mas não paro de correr.

...

Depois do que pareceu uma hora, derrubo alguém, pela farda percebo que é um policial.

- Você está bem? - ele pergunta.

- Não - falo chorando. - Ele vai me matar.

- Calma, venha comigo - ele me ajuda a levantar. - Eu a encontrei - fala no rádio.

- Ele vai me matar. Ele vai me matar - repito.

- Ei - ele fala me encarando. - Ninguém vai te machucar, o.k.? A gente vai tomar conta de você.

- Mas...

- Vai ficar tudo bem - ele repete.

Ele começa a andar, mas toda a dor e cansaço que não senti enquanto corria chega e quase caio, então ele me carrega.

- O-obrigada - falo com um pouco de vergonha.

- Você vai ficar bem.

Ele me leva à viatura.

No caminho à delegacia ele não pergunta sobre o que aconteceu ou qualquer coisa do tipo, mas entrega seu casaco a mim, já que estou tremendo de frio.

Assim que chegamos, minha mãe me vê e vem correndo até nós:

- Eu não disse para você não sair? - ela me dá um tapa.

- Desculpa - falo chorando e ela me abraça.

- Tudo bem. Tudo bem - ela passa as mãos nas minhas costas. - Está tudo bem.

Então leva-me a uma cadeira e traz água para mim, até que fique mais calma, para que o policial possa levar-me a uma sala para começar o interrogatório.

The Curses of Schwarzwald - Cursed Moon (kth) (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora