O Dia Em Que Elas Se Tornaram Uma Só

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Às 2:48 da manhã, após três cervejas, Melinda já não tinha mais forças para berrar no karaokê, embora ainda quisesse fazê-lo. Os saltos enormes abrigavam pés exaustos quase não condizentes com os quadris que ainda teimavam em rebolar na curta saia xadrez cor de rosa.

E, então, após muito tempo, ela a viu e claramente também foi reconhecida. Camila havia sido uma peça importante na vida de Melinda, basicamente, Camila era madrinha de casamento de Melinda. Mas, por motivos que só o universo sabe, elas nunca mais se viram e nem mesmo se falaram, fazendo com que Melinda se arrependesse de sua escolha e ficasse levemente com raiva toda vez que olhava para as fotos. Um enigma tão grande que, ninguém havia entendido porque elas haviam se separado.

Agora elas estavam ali, frente a frente, no corredor do karaokê, as pessoas bêbadas e felizes esbarrando nelas sem querer. Era o universo. Elas não trocaram uma só palavra. Mas trocaram um abraço tão único que, por quase cinco minutos, elas se tornaram uma só pessoa.

Melinda começou a chorar copiosamente:

- Porque tudo isso aconteceu? - soluçava.

Camila chorava da mesma forma mas não disse nada. Não era preciso. O perdão, quando ele vem, nem sempre vem acompanhado de palavras.

- Eu te amo muito - ela respondeu.

E, então, por longos minutos, não houve música, não houve karaokê. Apenas o abraço do amor verdadeiro entre amigas, que estava tão distante, mas agora transformado em um momento único. O silêncio do perdão. Melinda poderia voltar para casa leve e tranquila. Nada mais precisava ser dito, elas eram uma só.

Para Melinda, mais um ciclo se resolvera e, ela, agnóstica, entendia que certas coisas eram motivo de algo muito maior e incompreensível.

Agora, elas estavam novamente no coração uma da outra. Nada mais importava. 

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