Uma Melinda de 15 anos estava muito compenetrada na sua revista adolescente e no pacote de batatinhas. Concentrada demais até mesmo para perceber que tinham alguns garotos soltando pipa a sua volta. Seus irmãos mais velhos já haviam se cansado da areia, e estava muito quente, então voltaram para o apartamento e a deixaram lá. Melinda achou de bom tom ficar um pouco mais e prezar uma marca de biquíni. Não havia perigo. Só o sol e as batatinhas. E a pipa, que caiu sobre sua cabeça. Um garoto suado, usando óculos de lentes grossas veio correndo em sua direção:
- Nossa, você tá te boa? A gente não quis te machucar!
Melinda levou um susto tão grande com a pipa que não conseguiu responder o garoto. Emitiu um ganido sem o menor sentido.
- Moça? Tá tudo bem? - ele tirou os óculos e começou a limpá-los na bermuda. Não que fosse adiantar muito.
- Tá... eu achei... achei que fosse um pássaro, sei lá...
- Posso pegar a pipa de volta?
Melinda estava agarrada na pipa.
- Pode, claro! Nossa, eu levei um susto sabe...
- Desculpa, parou de ventar e não consegui controlar a pipa muito bem, não era pra ter caído em você! Você se machucou?
- Não... acho que está tudo bem! - devolveu a pipa para o menino magrinho, talvez até magrinho demais pra idade.
Ele colocou o óculos de volta no rosto. Achou a menina bonita, mesmo coberta de areia pelo susto que levou. Que jeito de conhecer alguém.
- Eu me chamo Eduardo! - limpou a mão na bermuda e esticou para Melinda.
Ela esticou de volta, cumprimentando-o:
- Melinda!
- Que nome diferente!
- Todo mundo me chama de Mimi...
- Oh Eduardo você não vai trazer a pipa? - alguém gritou atrás deles.
- Eu já vou! - ele gritou de volta.
- Melhor voltar pros seus amigos! Mas se puderem empinar essa pipa mais pra lá...
- Ah, eles são meus primos! Você quer brincar com a gente?
- Puxa, eu já tenho 15 anos, eu não brinco mais, sabe... - ela riu, muito adulta.
Ele deu de ombros, sem entender:
- Eu também tenho quinze... o que isso tem demais? Melhor que ficar aí sozinha lendo essas revistas chatas.
Ela fez uma cara de raiva pela petulância, como se não acreditasse no que tivesse ouvido de um garoto desconhecido, magrelo e semi-cego. Quem ele pensava que era?
- Pois eu empino pipa melhor do que vocês todos!
- Hum, pois eu duvido... - saiu andando com a pipa, em direção aos seus primos que o esperavam.
Ela correu atrás dele. Ele sabia que ela faria isso, se sentiu desafiada. Eduardo e os outros meninos deixaram ela brincar primeiro, já que a pipa havia caído em cima dela. Ela realmente sabia empinar pipa, para surpresa de Eduardo. Passaram o resto da tarde fazendo piruetas e correndo contra o vento, que nem sentiram o tempo passar.
- Onde você aprendeu isso?
- Sou a caçula de irmãos bem mais velhos, todos homens. Não teve muito espaço pra boneca na minha vida!
- Nossa, garota você é boa!
- Dudu, pode trazer ela pra brincar com a gente amanhã?
Ela sorriu e olhou para Eduardo, como se esperasse um convite.
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O Guia Prático Para Adultos Sem Prática
Lãng mạnSer adulto é uma bosta. Tem boletos, cigarros, decepção amorosa, gente louca. E tem o romance de Melinda e Eduardo. Mas no fim, a prática leva a perfeição (ou não).