Uma Tarde Alegre

3 0 0
                                    

Melinda voltou ao jornal depois do almoço, não tirava os olhos do anel. Estava um pouco largo, ela tinha os dedos finos, mas nada que prejudicasse. Até pensou em parar de fumar, as pontas dos dedos amareladas não combinavam com um anel lindo daqueles. Juntou Virgínia e Kiko numa sala de reuniões do jornal, só para dar a notícia:

- Olha só, valeu a pena esperar! - mostrou a mão direita, exibindo o maior sorriso que conseguiu fazer.

- Não... não foi o Eduardo!? - Kiko segurou a mão de Melinda para ver o anel mais de perto.

- Foi sim! Eu nem sei o que dizer, eu tô muito feliz, eu acho que hoje é o dia mais feliz da minha vida!

Virgínia sentou, sem dizer nada. A ficha não caía. Colocou as mãos na boca e começou a rir, surpresa:

- Cara, ele é mesmo seu amor verdadeiro... Eu tô tão feliz que isso existe mesmo! Ainda há esperanças pra mim! Acho até que vou comer um pedaço de bolo pra comemorar!

Kiko e Melinda abraçaram Virgínia. Estavam muito felizes. No fundo, apesar das briguinhas, os três tinham uma grande consideração uns pelos outros. E, a saga de Melinda era acompanhada de perto há anos, sempre com broncas, ombros amigos para as lágrimas, alguns pedaços de bolo. Eles sabiam que não havia espaço para outra pessoa no coração de Melinda, mas ao mesmo tempo não concordavam com muitas atitudes de Eduardo. Ele dar a ela o anel caríssimo da família, era sinal que tinha finalmente baixado a guarda, desistido de ficar com alguém por status. Ele rodou em muitas garotas, mas no fim voltou pra única de quem realmente gostou. Não havia mais nada a ser procurado.

- A parte chata é que seu rendimento no trabalho vai cair! Seus textos são infinitamente melhores quando você está triste! - disse Virgínia.

- Tentarei fazer bons textos na felicidade! Não deve ser impossível!

- Ou você pode pensar em algo triste, tipo, temos a mesma altura mas você é gorda!

Kiko colocou a mão na testa, ela nunca perdia a oportunidade de alfinetar Melinda. Porém Mimi não se ofendeu, apenas se abaixou até o ouvido de Virgínia e disse:

- Inveja é uma bosta mesmo né? Eu tenho um prêmio nacional, vou casar com o amor da minha vida... deve ser difícil né, pra você, ver a gorda conquistando um monte de coisas! Eu entendo! - E saiu da sala.

Kiko olhou com ar de repreensão para Virgínia:

- Não perde uma né, Regina George? Você é muito mal amada!

- Ai, não se pode nem brincar! Eu estou super feliz, você sabe que eu adoro a Melinda!

- Palhaça! - E a deixou sozinha.

Ao voltar para o escritório, encontrou Melinda digitando alguma pauta, mas sem tirar os olhos do anel. Ele estava feliz pela amiga. Quantas vezes a ouviu chorar de madrugada, a levou para comer hambúrguer porque ela teve um dia ruim, e normalmente dias ruins envolviam alguma coisa que Eduardo fez ou falou. E também foi parceiro dos dias bons, como todas as vezes que Eduardo mandou o maior buquê de flores possíveis para se desculpar de alguma coisa, ou disse que a amava. No fundo, Kiko queria que Melinda buscasse um homem melhor, que realmente gostasse dela e não apenas a procurasse quando estivesse bêbado, ou louco de drogas, ou como um estepe entre um namoro e outro. Esse era o jeito que Eduardo a amava, mas para Kiko aquele não era o jeito certo e sua amiga merecia mais, muito mais.

- Estou feliz de te ver feliz! Você sabe, você é como uma irmã mais velha pra mim, eu torço muito por você!

- Obrigada, amore!

Virgínia apareceu logo atrás:

- Desculpe Mimi! Você é a única amiga que eu tenho! Estou feliz de coração que vocês finalmente se acertaram!

- Está tudo bem, sua insuportável! Nada vai estragar meu dia hoje!

O celular de Melinda ficou esquecido na bolsa, ela precisava entregar algumas coisas urgentes, então deixou de lado o resto da tarde. Só quando chegou em casa viu que tinham quatro chamadas não atendidas. Duas de Chandelly e duas da mãe de Eduardo. Pensou que fez muito bem em não atender nenhuma das duas. Não tinha nada que explicar a Chandelly, afinal, tinha a consciência tranquila de que só saiu com Eduardo nos períodos em que ele ficou solteiro. A mãe dele ligava direto, desde que ela era novinha, devia ser pra falar alguma bobagem como sempre. Depois retornaria para elas. Naquele dia só queria ficar feliz e em paz com ela mesma. Desligou o celular e resolveu tomar um banho de banheira. Merecia.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Aug 13, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O Guia Prático Para Adultos Sem PráticaWhere stories live. Discover now