Alta

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Quase 20 dias internado e muitos pontos depois, Eduardo finalmente sairia do hospital. Não foi só o ombro que havia ficado debilitado, ele também quebrou uma das pernas, de modo que ainda sairia de cadeira de rodas e ficaria de molho por mais alguns dias, mas em casa. Sua família e Chandelly estavam a caminho para buscá-lo e Eduardo ficou de papo com a enfermeira.

- Finalmente sua namorada vai poder ficar com você todo o tempo! Pena que nos últimos dias ela não apareceu, todo mundo aqui já conhece ela... como é o nome dela? Milena, Marina...

- Melinda? Ah, ela é só uma amiga! Minha namorada é a outra, a que sempre está usando tiara.

- Olha garoto, eu até entendo que a princesa que aparece aqui de vez em quando é sua namorada, mas o jeito que você olha pra sua amiga é muito diferente viu? Talvez você deva repensar... acidentes as vezes servem pra isso, pra gente parar de cagar com a própria vida.

- Você não pode estar falando sério... quer dizer, em vinte dias deu pra ver tudo isso? É tão óbvio assim?

- Eu passei metade da vida trabalhando em hospital. Tem gente que morre e não dá tempo de fazer o que é certo. Você é novo, tem alguém que te ama e você vai perder seu tempo ficando com outra pessoa? Vai fazer essa pessoa perder tempo também? Não é justo com ninguém sabe... - ela foi abrindo as cortinas.

Ele estava mesmo pensando em terminar com Chandelly. Eram treze anos enrolando Melinda e se enrolando. Na verdade nem ele mesmo sabia porque nunca tinha efetivamente ficado com ela, já que ela o conhecia mais do que ninguém, esteve com ele no primeiro beijo, no primeiro cigarro, na primeira vez que tomaram um porre e usaram drogas. Ele a ensinou a dirigir num Fusca de estimação que ele tinha ganho do pai, ela bateu o carro na terceira esquina. Ela deixou as drogas, ele não. Ela o salvou uma ou duas vezes, quando precisou arrebentar a porta do apartamento que ele estava há dias bebendo e usando pó e chamou uma ambulância. Segurou a mão dele quando ele perdeu parcialmente a visão do olho direito e ficou uma semana deitado chorando. Quando ela foi despejada por não ter mais dinheiro pro aluguel, dividiram a mesma cama. Tinham passado uma parte da adolescência e quase toda a vida adulta entre indas e vindas. Talvez fosse a hora de ficarem juntos, finalmente.

Eduardo era um bon vivant, gostava de coisas caras, de ter um estilo de vida especifico, apesar de não parecer e conseguir conversar e se enturmar em qualquer ambiente. Demorou a decidir o que queria de faculdade. Melinda sempre foi uma garota mais colorida e extravagante. Como tinha muitos irmãos cresceu um pouco jogada e sua mente amadureceu rápido demais. Embora fosse tímida, sempre soube que queria ser jornalista ou trabalhar com comunicação. Ele ficava ofendido quando ela dizia que eles não ficavam juntos porque ela não tinha absolutamente nada financeiro a oferecer, e que não compactuava com o estilo de vida dele. Mas no fundo, aquilo era sim um pouco verdade. Só que não importava mais. Namorou garotas ricas, modelos, meninas bem sucedidas, Chandelly era uma delas - e era a melhor - mas no fim ele sempre voltava pro colo de Melinda, que já havia visto o seu melhor e o seu pior. Estava na hora de voltar para o colo dela em definitivo.

- Dudu? Viemos te buscar! - Chandelly sorriu na porta do quarto. Segurava balões coloridos.

Toda a familia dele foi buscá-lo, levaram docinhos, um bolo. A mãe de Eduardo saiu empurrando a cadeira de rodas corredor afora:

- A Melinda disse que teve que ficar mais tempo no jornal e não pode vir, espero que você não fique chateado... ela veio quase todos os dias te ver, ficou bem triste ao telefone de não poder vir hoje.

- Ah, não tem problema!Eu entendo...

- Acho a sua namorada ótima, mas você sabe que não concordo com o que você fez e faz com a Melinda por todos esses anos. Ela está crescendo no jornal, se tornando conhecida. Logo algum editor leva ela pra longe, e ela vai porque cansou de te esperar!

- Mãe, ela tá aqui por que você tá me falando isso?

- Porque essa é a terceira vez que eu quase te perco Eduardo, fora a vez do olho. Você acha que eu quero te enterrar sabendo que você viveu uma vida infeliz? Ou casa logo com essa moça e liberta a Melinda ou não a faça mais esperar!

- Eu acho... eu vou terminar com a Chandelly...

- Faça o que te faz feliz, filho. Só não estrague mais a vida dos outros. É tudo que te peço! Sua infelicidade quase acaba com a sua vida! Acho que já chega, não? - ela começou a chorar.

Eduardo estava decidido a terminar com Chandelly e o faria. Mas antes precisava contar tudo pra Melinda. 

O Guia Prático Para Adultos Sem PráticaWhere stories live. Discover now