Alzira bateu à porta do apartamento 81, às duas e meia da tarde, visivelmente bêbada. Tayla abriu a porta, toda maquiada e penteada, o cabelo longo e ondulado caindo perfeitamente pelas costas. Ainda não estava vestida, usava apenas uma camiseta larga. O casamento da melhor amiga delas aconteceria dentro de poucas horas, e as garotas ainda não estavam prontas. Melinda tomava champagne num canto da sala, também já maquiada e penteada, os seios espremidos dentro do vestido brilhoso. Karina, a irmã de Tayla, berrava no quarto:
- Alguém viu a minha calcinha modeladora?
- Deve estar no varal! - Disse Tayla, também aos berros.
Karina corre, semi-nua, até o varal. Ela queria usar um vestido justo, mas, embora fosse muito magra, tinha paranóias com uma barriga inexistente, e por isso queria a calcinha modeladora.
- Puta que pariu, não está aqui! Ahhhhhhhhh...
- Karina, veja no cesto de roupa suja!
- E eu vou botar uma calcinha suja?
- Quem nunca?
- Ai que merda, está aqui. Vou lavar na pia essa droga!
Nenhuma delas havia reparado que Alzira exalava álcool. Ela se sentou no sofá e apoiou a cabeça numa almofada, inerte a correria das outras garotas. Na verdade, ela nem mesmo estava entendendo o que estava acontecendo, de tão mal que estava. Os martinis e a noite quase não dormida definitivamente não tinham sido uma boa ideia. Não às vésperas do casamento de Ana. Ela estava sentada de olhos fechados, apenas se concentrando para não vomitar no tapete branco. Tayla a mataria se isso acontecesse.
Melinda estava nitidamente incomodada com o vestido. Ela e Tayla eram madrinhas do casamento e Melinda precisou mandar ajustar o vestido, devido as costas estreitas e os seios enormes. A costureira havia ajustado demais, de modo que, se ela respirasse mais forte, o vestido explodiria. Ela tentava ajustar os peitos dentro do decote, não havia outra opção. Tentaria respirar o mínimo possível nas próximas 6 horas, havia aprendido como fazer assistindo Apollo 13. De qualquer forma, ela estava muito bonita, os olhos oblíquos, enormes, quase invertidos, estavam muito bem maquiados. Ela estava ficando desesperada. Arrumava um peito, o outro pulava. De repente, um barulho de pedrinhas caindo pelo chão:
- Ai Meu Deus, não! Não, não não!!!! NÃOOOOOOOOOOOOOOO!
- QUE FOI MIMI? - Novamente Tayla aos berros, estava enroscada no vestido, pois ele precisava passar pela cabeça e, ao mesmo tempo, não estragar o penteado.
- Meu vestido tá se desfazendo Taylaaaaaaaa!!!!
- O que está acontecendo? AI MEU DEUS O BORDADO ESTÁ CAINDO! - Karina começou a catar as pedrinhas do chão.
Mimi queria chorar, mas não podia, pois a maquiagem havia custado um pedaço de rim. Os olhos cheios de lágrimas, Karina juntando as pedrinhas, Tayla abanando o rosto de Melinda para que as lágrimas secassem antes de sair dos olhos.
Alzira respira fundo e se levanta, cansada da gritaria. Vai até as meninas, muito séria:
- Mimi, tira esse vestido, agora! Tayla, eu preciso de linha e agulha! Estou de saco cheio de vocês três galinhando, que inferno!
Karina, a mais sensível, começou a chorar alto.
- Engole esse choro, Karina, vai se arrumar e me dá essas pedrinhas!
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA - ela entregou as pedrinhas para Alzira e foi pro quarto terminar de se arrumar, soluçando.
Mimi tirou o vestido e ficou de calcinha e salto alto, toda arrumada, no meio da sala, os braços cruzados em cima dos peitos. Tayla chegou com a linha e agulha e Alzira sentou no sofá muito séria com o vestido enorme no colo. Começou a costurar as pedrinhas minuciosamente.
- É inacreditável que eu seja a pessoa mais chapada do ambiente e ainda assim, a mais sensata, sabe? - disse a si mesma.
As garotas em silêncio, Alzira com a lingua para fora encostando no lábio superior, as sobrancelhas grossas franzidas, muito séria. As mãos pequenas, porém agéis, costurando a fileira de pedrinhas com perfeição.
- Pronto Mimi, vamos vestir. E vamos ver o que dá pra fazer com esse decote.
Conseguiram deixar o zíper das costas do vestido aberto de uma forma que os peitos se ajeitaram.
- Respira!
- Ok... - Melinda parou de segurar o ar e passou a respirar normalmente - parece que deu certo!
Suspirou felicissima.
E, enfim, as quatro prontas para o grande momento de Ana. Alzira saca o telefone e sorri satisfeita:
- Vamos chamar um Uber!
- Mas tem que ser dois, estamos em quatro!
- Ah mas eu quero chegar num carrão, vamos pedir o Black!
- Eu não tenho dinheiro pra isso!
A gritaria entre as outras garotas havia recomeçado.
Alzira respira fundo, fecha os olhos, mais uma vez precisava controlar o galinheiro, mas o enjoo havia voltado. Vomitou nas próprias sandálias fazendo com que as outras parassem de gritar:
- Deixa comigo que... eu ligo pro Uber... - Tayla sacou o telefone.
- Pode ser qualquer um - disse Karina.
- Qualquer um... - respondeu Mimi
- O mais barato... - disse Alzira enquanto tirava as sandálias - Alguém pode me emprestar um salto alto?
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O Guia Prático Para Adultos Sem Prática
RomanceSer adulto é uma bosta. Tem boletos, cigarros, decepção amorosa, gente louca. E tem o romance de Melinda e Eduardo. Mas no fim, a prática leva a perfeição (ou não).