Depois do dia da pipa na praia, Melinda e Eduardo não se desgrudaram mais. Passaram a fazer tudo juntos naquele verão: trilhas, videogame, andar de bike. Viraram ótimos amigos. A família de Eduardo já via Melinda como namoradinha, embora nunca tivesse acontecido nada:
- Eduardo, descobrimos que moramos todos na mesma cidade, não pode ser namoro de verão hein, tem que assumir! - disse a mãe dele, num almoço.
- Mãe, nós somos só amigos, a Melinda é muito legal, mas ela não é minha namorada...
- Por que? Ela é uma gracinha! Vocês vivem grudados, até achei que já achei que tivesse acontecido algo a mais... E você não me engana, olha pra ela como se nada mais existisse no mundo!
- Mãe... pára! - ele ficou constrangido.
- Ah Eduardo, me poupe né! Vocês são novos, é normal... só se cuidem! Sou muito nova para ser avó!
- MÃE, QUE NOJEIRA! QUER PARAR? - ele levantou da mesa - Vou pegar a bicicleta e dar uma volta, tá bom?
- Ela vai junto?
- Sim senhora!
- Trate ela bem, Dudu, ela é uma boa menina! Lembre-se de como eu te eduquei!
Ele revirou os olhos:
- Tá bom mãe, tchau! Ela deve estar lá embaixo me esperando já!
- Divirta-se! Leva dinheiro! E não volte tarde, ela é menina, tem um monte de irmãos que se preocupam com ela, seja legal!
- Tá bom...
Ele saiu de casa empurrando a bicicleta. Melinda já estava no portão, usava o cabelo preso num rabo de cavalo. Parecia que não penteava o cabelo há algum tempo, as ondas emaranhadas. Estava de óculos escuros, a parte de cima do biquíni, shorts e chinelo. Eduardo a achou linda, mesmo ela não vestindo nada demais.
- E aí? - ela disse abrindo um sorriso - Onde vamos hoje?
- Ah, o de sempre, andar na calçada da praia!
- Vamo!
Fizeram o trajeto de quase todos os dias, pela orla da praia, o que levava cerca de 40 minutos. Iam para uma parte da praia mais afastada, pequenininha, com poucos quiosques e o mar mais calmo. Melinda estendia a canga na areia e eles passavam a tarde deitados conversando e fazendo nada, jogando baralho e tomando picolés até o dinheiro acabar. Eduardo começou a pensar no que a mãe dele havia dito, ele realmente gostava de Melinda, mas tinha um certo medo de perder a amizade dela. Estavam dividindo os fones de ouvido de Melinda, ouvindo alguma coisa do Green Day. Eduardo estava olhando para o céu pensativo e Melinda tentava ler um gibi com os braços esticados.
- Mimi?
- Que? - ela estava muito concentrada no gibi.
- Você já beijou alguém? - ele continuou olhando para cima, com medo da reação dela.
- Hum... não. Por que?
- Só pra saber... é que você já tem quinze, deve ser a última BV do universo! - ele riu.
- Eu não ligo. Não quero beijar alguém sem ser especial. Estou de boa. - Ela disse sem tirar os olhos dos quadrinhos, com pouca emoção. Largou o gibi e sentou olhando diretamente pra ele, que continuou deitado na canga - Aposto que você também nunca beijou e está aí se achando!
- Hum... pode ser que eu também queira algo especial!
- Então não sou a última BV do universo, você está comigo! - ela sorriu.
Eduardo trancou a respiração, sempre fazia isso quando ficava nervoso. Ele continuava deitado e podia ter a visão de Melinda sentada com o braço apoiado na canga, olhando diretamente pra ele, as pontas do cabelo dela encostavam delicadamente no ombro dele. Ele tinha certeza que ela era a pessoa especial que ele estava esperando.
- Você vai morrer se não voltar a respirar!
Ele levantou o braço para tocar no rosto dela e então ela entendeu o que ele queria. Ele voltou a respirar e abaixou o braço com vergonha. Ela se abaixou o suficiente para quase encostar no rosto dele:
- Eu também acho que você é especial! - e fechou os olhos, esperando.
Ele a beijou, finalmente.
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O Guia Prático Para Adultos Sem Prática
RomanceSer adulto é uma bosta. Tem boletos, cigarros, decepção amorosa, gente louca. E tem o romance de Melinda e Eduardo. Mas no fim, a prática leva a perfeição (ou não).