I Keep An Universe Inside Me

The shadow

É noite e inverno. A lua é a única companheira da escuridão. E ela brilha. Os ventos cortam o ar, fazendo o frio prosperar.
É uma floresta. Escura como breu e cheia de espinhos no chão, misturados à gelada neve que o cobre. As árvores estão mortas. As folhas não as habitam mais.
Olhos de íris prateadas. Se assemelham à mercúrio derretido. Pele clara, machucada. Cabelos negros, cortados sem espelho. Ela corre, porém ela foge.
Medo, pânico. Desespero e dor. Passado, presente e futuro; tudo parece machucar com ardor. Pesadelos, ansiedade, depressão. Cortes, cicatrizes; tanto na alma quanto no físico. A sombra de todos os males. Ele a persegue. O espírito mais livre, a alma mais vívida, a garota mais esplêndida. Ele quer corrompê-la.
Quem só observa, ajuda no homicídio. Quem faz algo á respeito, é muito bem quisto e recompõe um coração partido.
A sombra corre. A garota tropeça e cai. Poça d'água à frente, fruto de uma tempestade ocorrida há pouco tempo atrás. Se vê no reflexo. Pergunta-se por que ela dentre todas no mundo. Lágrimas lavam seu rosto com corte profundo. Seu monstro lhe deu aquele presente como uma vaga lembrança à tudo. Levanta. Um pé primeiro e depois o outro. Recomeça sua velocidade, sendo continuamente arranhada pelos galhos de um cemitério natural e mudo.
O medo grita dentro de si. Seus pensamentos se enrolam, suas emoções se enlaçam. Os passos se apressam. É o monstro chegando mais perto. Seu desespero se aflora, um pânico se forma. A neve afunda suas pernas cada vez mais.
Respiração acelerada, mas a garota conta:
Um. Dois. Três.
Memórias, lembranças, imagens da infância ao agora, tudo a alcança. Sua primeira canção, sua primeira dança. A primeira piada, a primeira risada. Os sorrisos vistos, os momentos compartilhados. Nem tudo pode ter sentido agora, mas com clareza, ela vê que nem tudo se encontra errado.
Ela diminui seus passos. Parada, ela aguarda. Escuta a corrida do seu predador parar. Ela está perdida de sua vista e de seu rastro, mas pode encontrá-la de novo. Alguma coisa se depara em seu ombro. Ao vê-la, pensa estar sonhando.
Uma borboleta.
Uma borboleta cheia de graça e canto. As asas coloridas e estonteantes. A garota e ela se encaram por alguns instantes, até que a delicada amiga cumpre seu trabalho e sai voando.
A garota abre os lábios lentamente, um sorriso foi plantado. Ela toma uma decisão. Respira fundo. Meia-volta. Corre em direção à sombra. Seus traumas e medos em pessoa.
Ela o encontra. Ele a observa com ganância e curiosidade.
E então não se soube mais o que aconteceu entre a garota e sua enfermidade. Só se sabe que sua esperança foi mais forte que sua falta de coragem.
O resto? Ninguém sabe.