Nós nascemos, crescemos, e os aprendizados e cicatrizes são adicionados à carga que carregamos ao longo de todo o percurso, sendo que às vezes, damos sorte de dividi-las com pessoas muito especiais e valiosas, que roubam pedacinhos de nossos corações, e como achamos incrível tal sentimento, deixamos com elas, pois acabamos confiando como todo ser humano acaba fazendo algum dia.
Ao longo desse caminho somos feridos de diversas formas: apedrejados, queimados, quebrados, cortados. Somos esfaqueados pelas costas sem garantia de que algum dia a cicatriz enorme suma. Somos vítimas de tiros na coluna vertebral sem garantia que um dia voltaremos a andar da mesma forma.
Nós sofremos. As dores que nos invadem e circulam pelos nossos sistemas físico, emocional e psicológico nos abatem de tal forma que chegamos a pensar em atrocidades contra nós mesmos. O mundo machuca, as verdades doem e muitas pessoas podem ter o poder de nos destruir. E sim, temos o poder de nos reconstruir novamente, porém nunca voltamos a ser os mesmos de antes. Não importa se juntamos nossos pedaços com cola, com fita ou com linha, uma vez que o coração é estilhaçado, ele nunca mais volta ao mesmo formato. É como o papel, uma vez amassado, não temos como ajeitá-lo de maneira reta depois.
O grande problema é se reconstruir. Diminuir a dor, amenizar a raiva e a mágoa, aprender a perdoar, seja nós mesmos ou outras pessoas, isso podemos fazer. Devemos no mínimo tentar. É a nossa obrigação em estarmos vivos.
Eu tenho um problema em me reconstruir. E explicarei o porquê.
Como cresci inocente, olhando filmes de princesas e observando desenhos incríveis, além de que desde a minha pré-adolescência, sou apaixonada por romances, eu cresci achando que alguém iria me salvar de todas as minhas dores, meus traumas, meus medos. Eu evoluí como humana, acreditando que o mundo real não era tão cruel assim e que para as vezes que meu coração foi partido, haveria essa pessoa do futuro que teria poderes mágicos para me curar por completo, arrancando de mim tudo que me destruiu.
Acontece que isso não é possível. E nos filmes e desenhos também nunca foi possível que chegasse um príncipe em um cavalo branco para salvar a princesa de tudo que ela teria sobrevivido até então. Nada disso nunca foi possível.
As personagens ainda carregavam suas cicatrizes. Elas só colocavam seus sorrisos nos rostos e decidiam encarar mais um dia. Não era como se a Rapunzel ou a Cinderela nunca tivessem perdido alguém. Como se a Bela e a Aurora não tivessem medos ou traumas. Nada foi perfeito. Claro, elas conseguiram que seus príncipes chegassem até elas. O destino fez seu trabalho em cada filme, entretanto, não é como se elas nunca tivessem sentido dor.
Os príncipes podem ter salvado elas de forma física, mas as cicatrizes foram elas as responsáveis por curar. Elas foram suas próprias heroínas.
Vejam, as pessoas que amamos e que nos amam de volta, contribuem para nos salvar. Elas nos dão um apoio, elas conseguem até nos carregar por um tempo, mas assim como no ballet, uma hora você terá que fazer o seu papel, sem que a professora fique lhe dizendo os passos seguintes. E você fará um grande show, mas ele será especialmente para ti, e não para quem está na plateia. As pessoas que amamos também são humanas e elas cansam igualmente, você não pode se segurar à elas para sempre. Elas estão fazendo a sua parte até que você crie coragem para que faça a sua. Ninguém te salva da sua própria mente, você é a único que sabe exatamente como ela funciona, você é o único a se entender com todos os pequenos e grande detalhes.
Ninguém precisa de alguém para se salvar. O máximo que precisamos é um impulso para subir, uma mão para se levantar. Tudo bem se você demorar a se curar, todos temos nosso próprio tempo e se você precisar, peça paciência às pessoas que estão te segurando até conseguir a pedalar sozinho. Peça para que não desistam, porém você também não pode desistir.
Eu sei que a ideia de estar sozinho é aterrorizante. Acredite, eu surto com isso de vez em quando, mas precisamos aprender a voar sozinhos, não é? Também não é como se não pudéssemos pedir ajuda para outras pessoas, pois saber os próprios limites é igualmente importante. Ao encontrarmos o nosso caminho bloqueado por uma rocha enorme, achamos que é isso, deu, acabou, não tem mais nenhuma chance de conseguirmos passar por isso. Mas não é verdade. Escale, e se achar muito para aguentar, chame um amigo, ele saberá te ajudar ou te ajudará a pensar em alguma solução.
Afinal, nós podemos estar quebrados em pedaços, mas lembre-se:
Somos sobreviventes.
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I Keep An Universe Inside Me
RandomNão é uma história em si. São textos aleatórios, de dias aleatórios, de inspirações aleatórias e de uma pessoa aleatória. Porém, são textos reflexivos e talvez, profundos. Com assuntos pesados ou leves, dependendo do meu humor ou da minha história...