A dor da perda...
Essa dor tem vários tipos. Como assim? É que há várias maneiras de perdermos pessoas. Há grande diferença quando perdermos pessoas por nosso orgulho ou porque a pessoa errou tão feio contigo que você simplesmente corta relações. E há maior diferença ainda de perder uma pessoa para morte por causas naturais.
E uma diferença cem vezes pior quando se perde alguém para o suicídio por escolha.
Eu já perdi um membro da família por causas naturais. Era a hora dele, a tão esperada data marcada para tirar ele de todos os seus enfermos, deixando as pessoas que amava mal, chorosas e de coração partido. No entanto, é possível superar essa causa, até porque era a sua hora marcada de partir.
Mas perder alguém pro suicídio?
Eu não sei dizer se é superável ou não; eu ainda não descobri a respeito dessa parte. Dá para seguir em frente? Dá, mas os vestígios vão permanecer. Os lugares que lhe faziam lembrar da pessoa, os mínimos e os enormes detalhes da vida daquela pessoa permanecerão contigo. O que ela gostava, o que não gostava, filmes prediletos, séries assistidas, piadas internas, risadas escondidas, amores e paixões todas reunidas na sua mente, tentando juntar o máximo de informação possível que você sabia daquela pessoa que você perdeu para algo que você pensa que poderia ter feito mais. Entretanto, você pode estar bem errado. A pessoa que eu perdi tinha família, amigos, melhores amigos, irmãos e irmãs, sejam de sangue ou de coração. Ela tinha pessoas em quem se apoiar, pedir ajuda, contar os problemas, dizer como se sentia e discutir qual seria a solução.
Se você deveria culpar a pessoa que se matou?
Óbvio que não. Você pode odiá-la ou chorar um oceano de lágrimas, mas culpá-la não é o certo.
Afinal, ela só queria se livrar dos seus fardos. Ela não queria te deixar ferido, com coração quebrado, ela só queria acabar com sua própria dor, mesmo que o jeito que tenha lidado com isso tenha sido errado.
Não a culpe, não a julgue, e muito menos dirija a culpa ou o julgamento para si mesmo. Nenhum lado deve ser condenado; apenas aconteceu.
Aconteceu e você está aos pedaços, chorando, sentindo raiva e sendo dono agora, de um coração com um insuportável vazio. Você está olhando fotos e revendo vídeos esquecidos, passando por lugares que ela passava com uma dor no peito terrível, usando algumas coisas que ela usaria, imaginando a opinião dela para cada acontecimento ou objeto porque você a conhecia muito bem. Você sabe se ela estaria chorando contigo ou te dando uns tapas por estar nesse estado. Você sabe se ela pediria desculpas ou diria que sente muito. Você se lembra de cada detalhe do rosto, das reclamações sobre o próprio corpo e das idiotices cometidas e ditas.
Você se lembra de tudo ou quase tudo. E relembra, e então relembra de volta.
É normal. Viva o seu luto da sua maneira, solte ele quando achar estar pronta, se agarre às pessoas que cuidarão de ti nesse período de pura dor.
A dor da perda é excruciante, maligna, vem com tudo em sua direção. Entretanto, ela vai se aliviando com o passar do tempo até que você consiga falar o nome da pessoa, e logo, talvez você consiga falar sobre ela sem chorar, pensando nas boas memórias que ela lhe trouxe.
Você vai ficar bem e está tudo bem demorar um tempo pra isso.Apenas viva, como a pessoa iria querer que você fizesse.
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I Keep An Universe Inside Me
RastgeleNão é uma história em si. São textos aleatórios, de dias aleatórios, de inspirações aleatórias e de uma pessoa aleatória. Porém, são textos reflexivos e talvez, profundos. Com assuntos pesados ou leves, dependendo do meu humor ou da minha história...