Capítulo 03

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Onde estava com a cabeça quando permiti que essa merda acontecesse?

Bufei ao pensar sobre isso. Depois que Renato nos deixou em casa, obriguei Gustavo a tomar seu banho e servi o almoço que Maria, nossa cozinheira e babá, havia deixado no micro-ondas. Já eu, não consegui engolir absolutamente nada. Estava me sentindo ansioso demais e sabia que correria o risco de vomitar toda a comida de tanta aflição que estava sentindo. Mais tarde, liguei para papai e tive a confirmação de que ele só chegaria depois das quatro da tarde, então aproveitei que depois do almoço, Gustavo adormeceu no seu quarto e entrei no banheiro para tomar um banho e lavar minha alma.

Me senti um idiota embaixo do chuveiro, me preparando para um primeiro encontro com uma garota, mas aí é que estava! A garota, na verdade, era um cara. Fiquei com raiva por estar com esses pensamentos estranhos na minha cabeça, mas não conseguia evitá-los. Provavelmente foi por essa razão que acabei ficando bravo comigo mesmo e vestindo apenas um short de linho branco que usava para dormir e uma regata preta. Em seguida, desci até a sala e sentei de frente para a TV. Cerca de uma hora depois, a campainha tocou e fiquei imóvel em cima do sofá, sem saber ao certo o que fazer. Só depois de tocar cinco vezes, corri até a porta.

Meu coração pareceu uma bala perdida, de tanto disparar. Quem me visse naquele momento, me acharia o cara mais idiota do mundo. Quando abri a porta, lá estava ele, parado e me olhando diretamente nos olhos. Ali, tive a certeza do que se tratava nossa conversa, então tentei relaxar; sem sucesso. Lucas parecia mais bonito que horas atrás. Seus olhos claros era o que mais me intimidava. Ele vestia roupas simples como eu e me encarou como nenhuma garota havia encarado antes e isso me deixou ainda mais nervoso.

Lucas entrou na minha casa sem tirar os olhos de mim e me seguiu em silêncio enquanto entrávamos na sala de estar completamente silenciosa. Maria havia tirado aquela tarde de folga e só voltaria no dia seguinte. Meu irmão continuava dormindo e ainda faltavam algumas horas até que Doutor Augusto chegasse.

- Então? O que aconteceu? – perguntei, tentando parecer despreocupado. Sentei no sofá e ele ficou em pé.

- Quero falar sobre nós dois. – disse ele, direto.

- O que tem... nós dois? – perguntei, gaguejando. Meus olhos estavam arregalados. Esperava um pouco mais de enrolação antes de finalmente descobrir o que diabos ele queria comigo.

- Realmente não sabe? – perguntou Lucas. Não havia expressão alguma no seu rosto.

- Bom, se soubesse, não estaria perguntando, não é mesmo? – falei, sem me dar conta do quão grosseiro estava sendo. Meus ombros estavam tensos e tudo o que queria, era que aquilo não torturasse minha cabeça.

- Você já beijou um cara antes? – a pergunta veio como um soco no estômago. Foi como se tivesse sido desmascarado naquele mesmo instante.

- O quê? Claro que não! Eu não sou gay! – quando dei por mim, já estava de pé. Meu modo defensivo havia sido ligado. Um sinalizador vermelho ofuscava meus pensamentos e uma voz me instigava a expulsar Lucas dali o mais rápido possível. Nunca tinha me sentindo em uma situação tão perigosa como naquele momento. Eu estava vulnerável.

- Eu também não sou gay! Não seja ridículo! – ele disse e o encarei com os olhos semicerrados.

- Então por que diabos está falando essas coisas? – perguntei, tentando não demonstrar o quão desesperado estava me sentindo.

-Não sei! – Lucas pareceu nervoso, trocando os pesos das suas pernas rapidamente. – Mas acho que está rolando algo entre a gente... – sua voz sumiu quando ele me viu levar as mãos à cabeça.

Descobertas - O Filho do Amigo do Meu Pai - 01Onde histórias criam vida. Descubra agora