O percurso até em casa foi uma tortura. Doutor Augusto se manteve o tempo todo com uma expressão que jamais tinha visto na minha vida, enquanto dirigia ao meu lado. Sua expressão era muito séria e podia ver a força como ele segurava o volante do carro. A sensação era de que meu pai explodiria a qualquer momento e talvez por isso, fiquei bastante encolhido no banco do carona. Logo atrás, Samanta, Renan e Gustavo se encontravam num profundo silêncio, sentindo toda aquela tensão que tomava conta do ambiente.Doutor Augusto não tinha trocado uma palavra sequer comigo desde o que tinha acontecido no quarto. Aquilo era torturante e para completar, estava muito aflito pelo fato de não ter visto Lucas quando saí da casa. Ele e seu pai se trancaram dentro de um dos quartos e não o vi. Estava apavorado, temendo que Renato o machucasse mais ainda. Tudo o que queria era arrombar a porta daquele quarto e salvá-lo, mas meu pai não me deu essa chance. Em menos de vinte minutos nós já estávamos saindo da casa, como fugitivos.
Achava que a partir daquele momento tudo estaria acabado e que nunca mais veria Lucas dali em diante. Isso fez com que lágrimas tomassem conta dos meus olhos a maior parte do tempo e eu lutava para não me entregar aos soluços presos na minha garganta. Quando chegamos a cidade, meu pai seguiu a direção da casa de Renan, onde ele e Samanta ficariam. Não tivemos oportunidade de nos despedir. Quando Doutor Augusto parou o carro em frente ao prédio do meu amigo, ele apenas esperou pacientemente que eles descessem do carro e pegassem suas bolsas no porta malas. Samanta tocou meu ombro antes de sair.
O percurso até minha casa seguiu no mais profundo silêncio. Gustavo tinha adormecido no banco de trás e senti uma leve pontada de inveja pelo fato dele estar completamente alheio a tudo aquilo que estava acontecendo. Quando enfim chegamos em casa, papai parou o carro diante da garagem e quando desligou o carro, senti meu coração acelerar. Ele ficou imóvel, encarando o portão diante de nós. O seu silêncio era perturbador. Segundos depois disso, meu pai simplesmente abriu a porta do carro e saiu. Pegou Gustavo ainda adormecido e o levou para dentro. Permaneci ali, apavorado.
-
Quando entrei em casa, a primeira coisa que fiz foi correr escada acima, rumo ao meu quarto. Peguei meu celular e com as mãos trêmulas, digitei o número de Lucas e me senti ainda mais desesperado quando fui informado de que o celular dele estava desligado. Medo. Fiquei com muito medo. Iria tentar outra vez quando a porta do meu quarto foi aberta e ali estava Doutor Augusto, me encarando da forma mais intimidadora que se pode imaginar. Ao encará-lo, lágrimas escorreram pelo meu rosto, baixei a cabeça e cobri os olhos com as mãos. Um soluço escapou da minha garganta e quando isso aconteceu, não conseguia mais conter o meu choro.
- Me desculpa. – disse, entre soluços. Minha garganta doía.
- Pelo o que está se desculpando? – papai perguntou, com voz sua grave. Eu não tive coragem de olhá-lo.
- Por tudo. – disse e ouvi ele respirar fundo. Alguns segundos de silêncio foram feitos até ouvir a porta do meu quarto fechar. Quando ergui a cabeça, encontrei Doutor Augusto ainda ali, parado diante dela, com os braços cruzados. Havia um resquício de lágrimas nos seus olhos e sua expressão séria tinha suavizado um pouco.
- O que Victor contou, é verdade? – ele perguntou e afirmei com a cabeça, sem olhá-lo, como uma criança assustada. – Pelo menos não está mentindo agora. – Doutor Augusto disse e engoli o seco. Já não tinha mais como me sentir muito culpado por aquilo. – Por que nunca me contou que era... gay? – papai perguntou e ouvi-lo dizer essa palavra me pareceu ser a coisa mais estranha do mundo. Demorei um pouco a respondê-lo.
- Estava com medo. – falei, limpando minhas lágrimas, sem tirar os olhos do chão. Ainda sentado na cama e meu pai próximo a porta do quarto.
- Desde quando isso estava acontecendo? – ele quis saber e demorei mais uma vez com a resposta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Descobertas - O Filho do Amigo do Meu Pai - 01
RomanceDescobrir quem você é de verdade se tornou um desafio para Guilherme, um adolescente de dezesseis anos, em plena puberdade. Filho mais velho de um médico viúvo, Guilherme sempre foi um garoto comum que, na maioria das vezes, passava despercebido pel...