Capítulo 24

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- O que foi? – perguntei sonolento, quando fui acordado bruscamente por Doutor Augusto. O quarto estava escuro e quase não conseguia vê-lo, pelo menos até acender a luz.

- Desde quando está tomando meus remédios, Guilherme? – ele perguntou, claramente furioso. Papai estava segurando a cartela do seu remédio, que faltavam dois comprimidos. Doutor Augusto era um homem perfeccionista, não demorou para perceber aquilo.

- Foi só essa vez. Estava com dor de cabeça e queria dormir. – falei sentando na cama e ainda me sentindo um pouco sonolento.

- Que seja a última vez que vai tomar isso, entendeu? – disse meu pai, irritado. Quando afirmei com a cabeça, ele perdeu a paciência comigo e saiu do quarto, batendo a porta. Sabia que quando estivesse em perfeitas condições, ainda escutaria muita coisa do meu pai, mas não me arrependia de ter tomado os remédios. Me deixou dopado o suficiente para que não houvesse nenhuma possibilidade de Lucas entrar na minha cabeça, nem mesmo durante meus sonhos.

Minutos depois, ainda me sentia um pouco tonto, no entanto, não tinha mais sono. Levantei da cama e cambaleei preguiçosamente até o banheiro. Quando parei em frente ao espelho, encontrei um Guilherme com o rosto inchado por horas de sono. Ainda estava com meu uniforme da escola, calça e de meias. Comecei a tirar a roupa para tomar um banho e me senti um pouco estranho. Por um instante, me lembrei do motivo pelo qual havia tomado a porcaria dos remédios. De repente, me senti enjoado e quando menos esperei, comecei a vomitar. Tive sorte de a privada já estar com a tampa erguida. Meu estômago estava embrulhado e parecia vazio. A sensação era horrível!

Em certo momento, olhei para o lado, vi Gustavo parado na porta, me olhando com uma expressão assustada. Eu ia falar para ele não ligar para o que estava vendo, mas ele saiu correndo. Já devia estar passando mal àquela altura, em questão de minutos calafrios começaram a tomar conta de mim e alguns minutos depois, meu pai surgiu na porta do banheiro. Ficou um longo tempo ali, me observando com seu olhar recriminatório, um olhar de quem fala "eu te avisei". Ele saiu e voltou com um copo d'água, depois me tirou de longe da privada e tomei o líquido desesperadamente.

- O que foi que eu te falei? – começou Doutor Augusto. Estava começando a me sentir um pouco melhor. O olhei para com uma cara nada boa. Ele ainda ia me dar sermão, mesmo ali, passando mal?

- Isso não foi o remédio. – falei, quase sem voz. Saí andando em direção a cama e sentei apoiando minha cabeça nas minhas mãos. Meu pai continuou parado na porta do banheiro.

- Devia te deixar de castigo. – falou ele, como se tivesse falando com meu irmão. O olhei de forma séria e depois me deitei. Acho que realmente estava começando a pirar de vez. Tudo o que aconteceu nos últimos meses, estava me fazendo ficar maluco. – O que está havendo, Guilherme? – perguntou papai, agora num tom preocupado. Ele sentou na minha cama e ficou me olhando.

- Não está acontecendo nada. São só as aulas que estão me deixando nervoso. – falei, olhando para ele que ainda parecia preocupado.

- Eu não acredito em você. – simplesmente disso, já levantando e mostrando que não iria mais insistir no assunto. Eu apenas o encarei, sentindo um aperto no peito pelo fato de querer desabafar com meu pai tudo o que eu estava sentindo, mas isso não seria possível sem que eu contasse a ele que era gay e que estava apaixonado por Lucas. Me mantive em silêncio, observando quando saiu do meu quarto.

Sozinho outra vez, comecei a me perguntar mentalmente o que diabos estava fazendo com a minha vida. Não podia me deixar levar por esse sentimento sufocante que eu tinha por Lucas. Não queria e achava que ele não merecia se quer todo esse amor que estava dentro de mim. Tentei colocar em mente que eu tinha que seguir em frente e dar a volta por cima, porém, isso só era fácil na minha mente, na prática era muito, muito difícil.

Descobertas - O Filho do Amigo do Meu Pai - 01Onde histórias criam vida. Descubra agora