Capítulo 02

51.4K 8.3K 3K
                                    

No dia seguinte, cheguei mais cedo na escola e fui direto para sala de aula. Ainda estava com sono e como ninguém da minha turma havia chegado, coloquei a mochila sobre minha mesa e deitei a cabeça nela, apagando rapidamente. Minutos depois, acordei com o barulho das cadeiras sendo arrastadas pela sala de aula.

- Por que não me chamou? – perguntei, vendo Bia sentada ao meu lado, enquanto esfregava os olhos. O professor estava prestes a iniciar a aula.

- Te chamei, mas você não acordou. – disse ela.

- Onde está o Renan? – questionei, vendo que ele não estava na sala.

- Ele não veio hoje. – disse Bia.

- Depois ligo para ele. Vou ao banheiro. – falei, já levantando.

No banheiro, lavei o rosto e quando estava voltando para sala de aula, percebi que no ginásio estava tendo jogo e sem pensar duas vezes, fui para lá. A turma do terceiro ano estava treinando, então, fiquei sentado na arquibancada onde tinha um pequeno número de alunos assistindo. Eu sabia que devia voltar para sala de aula, mas, conhecia alguns garotos que estavam jogando e eles me chamaram para jogar. Mesmo que tenha recusado, continuei na arquibancada, pois preferia observá-los. Fiquei tempo suficiente ali até me dar conta de que já haviam se passado quinze minutos desde que eu havia saído da sala. Tinha perdido completamente a noção do tempo, até que meu celular vibrou. Uma mensagem de Bia, em letras maiúsculas, me deixou um pouco atordoado.

ONDE VOCÊ ESTÁ? O PROFESSOR ESTÁ PERGUNTANDO SE VOCÊ FOI ENGOLIDO PELO VASO!

Saltei arquibancada a baixo ao ler aquilo, detestava ser chamado a atenção, mesmo que estivesse matando aula. Aquele era um ano importante para mim. Estava me preparando para o último ano do ensino médio e em seguida, o vestibular. Papai sempre que podia me cobrava boas notas e mesmo que não mencionasse, sabia que ele esperava que eu escolhesse medicina para minha faculdade. Ele tinha lutado muito para chegar onde estava e queria que eu também lutasse por meus sonhos. Mas eu tinha apenas dezesseis anos e mesmo que amasse a profissão do meu pai e gostasse da ideia de salvar vidas, ainda não me sentia completamente seguro. Não achava que era inteligente o suficiente e foi pensando sobre isso que acelerei meus passos em direção a sala de aula, me arrependendo amargamente por ter matado alguns minutos.

Corria desesperado pelo corredor e quando estava prestes a entrar na sala, alguém chamou minha atenção, fazendo com que virasse a cabeça e observasse por cima do ombro. Quando meus olhos o encontraram ali, senti minhas pernas amolecerem automaticamente. Lucas estava com o ombro encostado na parede do corredor, com suas mãos enfiadas nos bolsos da calça e um sorriso plantado no rosto que me tirou o fôlego momentaneamente.

O que ele faz usando o uniforme da escola?

- Oi! O que está fazendo aqui? – perguntei, vendo ele se aproximar.

- Meu pai me matriculou nessa escola. É mais perto de casa e também falou que seria legal estudar na mesma escola que você. – ele disse, revirando os olhos. Sorri e em seguida me assustei com a voz do professor vindo ao meu encontro.

- Senhor Muniz, vai finalmente entrar ou ficar de conversa fiada pelos corredores? – ele colocou a cabeça fora da sala e nos olhou por cima de seus óculos. Podia sentir minhas bochechas queimarem e sabia que meu rosto estava completamente vermelho. Lucas tinha os lábios muito apertados, como se estivesse prendendo um sorriso. - Devia estar muito apertado para ficar meia hora no banheiro. – disse o velho, me encarando severamente. Todos na sala de aula pareciam estar ouvindo perfeitamente nossa conversa. Deram várias risadas.

- Tenho que entrar. Em qual turma você está? – perguntei, observando Lucas checar seu horário no mapa que recebeu da escola.

- Estou na turma B. Tentei ficar na A e me disseram que não há vagas. – explicou ele, se referindo a minha turma.

Descobertas - O Filho do Amigo do Meu Pai - 01Onde histórias criam vida. Descubra agora