Capítulo 2

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Rebeca chegou a ficar uns trintas minutos deitada mergulhada em seus pensamentos. Tanto que sua mãe Elisa chegou a estranhar a demora da filha em descer para tomar seu café-da-manhã. Rebeca acordava pontualmente às sete horas e não demorava mais que quinze minutos para sair do quarto.

- Tudo bem minha filha? -pergunta ao abrir a porta do quarto- você demorou descer, achei que estivesse doente ou algo assim.

Rebeca se deu conta que tinha passado tempo demais perdida em seus pensamentos.

-Puxa, mãe, acho que perdi a noção do tempo!  -disse se levantando rapidamente- Desço rapidinho.

- Você está bem mesmo? Me pareceu um pouco distraída - sua mãe ainda estava indecisa se descia ou ficava.

-Estou mãe. Só um sonho que tive. Mas está tudo bem. Algum programa para hoje?

Ela responde animada:

- Bom, D. Helena nos chamou para almoçarmos juntos hoje. Ela quer ouvir a respeito dos preparativos para o casamento. Espero que você não tenha esquecido disso.

Rebeca faz uma careta:

-Puxa, por um momento me fugiu à memória. Mas tudo bem,  estaremos lá no horário marcado.

Rebeca anda em direção ao banheiro,  enquanto Elisa ainda a observa. Lhe conhecia muito bem  e o semblante confuso em que a encontrou não lhe pareceu nada normal. Mas resolveu que não insistiria, na hora certa Rebeca lhe contaria tudo. Eram muitos amigas e ela nunca lhe escondeu nada.

Enquanto escovava os dentes Rebeca procurou pensar em que rumo estavam seus preparativos para apresentar à sua futura sogra. Se sentiu grata por ela a ter deixado bem à vontade para organizar a sua festa. Não era nada fácil ter quer fazer tudo dentro de seis meses,  e teria sido bem pior se D. Helena resolvesse opinar em tudo.

Os gostos de sua família eram bem diferentes da de Nicholas. Rebeca vinha de uma família simples, seu pai trabalhava como gerente de uma pequena empresa e sua mãe vendia cosméticos em casa mesmo. Embora já tivesse pensado várias vezes em abrir uma loja,  nunca levara o plano adiante.  Já os pais de Nicholas eram advogados bem sucedidos e tinham um grande escritório na capital. Nicholas estava no último ano de sua faculdade de Direito. No começo, Helena e seu marido Louis acharam que Nicholas não iria lhes acompanhar ao seu novo endereço. Mas para surpresa de ambos, ele preferiu ir com eles,  ficando na capital apenas nos três dias em que teria aula. 

Rebeca às vezes se perguntava o porquê  de um rapaz tão promissor se interessar por uma jovem tão simples como ela. Podia ser comparada a uma caipira aos seus olhos. Nicholas e sua família tinham se mudado para Lar Dourado há menos de dois anos,  em busca de um lugar mais tranquilo. Estavam cansados do ritmo da cidade grande, e como doutor Louis (como era chamado) tinha vários assistentes capacitados, ele apenas monitorava tudo do seu escritório montado ali mesmo em sua casa. D. Helena já tinha deixado a profissão alguns anos antes. E Nicholas já havia começado a trabalhar para o próprio pai como estagiário,  nos três dias de aulas pois estudava no horário noturno.

Sim. Bem diferente dela. Rebeca não conhecia nada da capital a não ser pelas férias que passava na casa de sua tia Marli, que morava em um bairro bem distante do movimentado centro. E ainda assim, passava quase todo o tempo trancada em casa. Durante toda a sua vida estudara em escolas públicas, diferente de  Nicholas que frequentara as melhores escolas da cidade. Seu estilo de vida era totalmente diferente. A única coisa em comum que as duas famílias tinham eram a fé cristã. Embora as vezes parecesse que sua família levava a crença em Jesus mais a sério.
Rebeca se assusta com o rumo que seus pensamentos levaram. De onde vinha isso agora? Em nenhum momento desde que começaram a namorar ela se preocupou com a quantidade de vezes que a família de Nicholas ia a igreja. Porque só agora isso parece ter importância?

Fitando sua imagem em frente ao espelho, Rebeca lembra do que Nicholas falou: seus olhos foram a primeira coisa que chamaram a atenção dele. Não pela cor esverdeada, mas pelo brilho que emanava deles.  Diversas vezes ela se perguntou se apenas um brilho era capaz de prender um garoto tão lindo a ela.

Percebendo que estava se atrasando de novo, ela tratou logo de terminar de se arrumar e descer.

Na cozinha, seu pai tinha terminado o café e agora lia as notícias no jornal. Rebeca beija seu rosto o cumprimentando.

- Bom dia, pai.

Haroldo responde ao afeto:

-Bom dia, minha filha.

Sua irmã Susie de sete  anos lhe dar um abraço. As duas eram muito apegadas,  apesar da diferença de idade. Rebeca sempre desejou ter uma irmã e quando sua mãe anunciou a gravidez,  chegou a se emocionar. Quando soube que era menina quase pula de alegria. E embora algumas vezes a menina já tenha lhe irritado muito, ela a considerava um dos melhores presentes de sua vida.

-Papai, o senhor vai participar do almoço hoje? - Ela já sentara e colocava café em sua xícara.

Antes de responder ele passa a mão pela cabeça :

-Ah, querida, não vai dar. Como estamos no final do mês tem muita coisa pra resolver lá na loja. Espero que isso não lhe deixe chateada.

-Claro que não, pai, eu entendo.

O importante era que sua mãe estaria ao seu lado. Ela e D. Helena eram muito amigas, e mesmo Rebeca se dando bem com a mãe do noivo, ficar frente a frente com ela, ainda a deixava um pouco nervosa.

Sonhos de uma jovem cristã (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora