Dezenove horas.
Rebeca entra em casa. Todos estão reunidos na sala de jantar. Um sorriso se forma em seu rosto ao perceber as visitas.-Vovô ! Vovó!
Ela corre para abraçar seus avós maternos Ester e Alfredo.
-Oi querida! - Seus avós lhe abraçam.
Rebeca se sente super confortável no abraço. Parece que seus avós emanavam paz. E foi a primeira vez que sentiu paz durante aquele dia tão atribulado.
O momento que passou com Ellen foi horrível. Toda vez que olhava para a amiga não conseguia evitar o olhar magoado. E a outra, o olhar de desculpa. As conversas que tiveram foram forçadas. Como se nenhuma estivesse à vontade com a companheira.
Mesmo sabendo que Ellen não fizera por maldade Rebeca não pôde evitar ficar um pouco mal-humorada. Tinham ido a diversos locais na tentativa de desfazer o clima ruim que se formara entre as duas. Mais tarde quando se separaram na esquina para irem para suas casas, Rebeca abraçou Ellen como se dissesse
que a perdoava e que nada iria estragar a amizade que preservavam desde a infância.- Por que não me avisaram que viriam? Eu poderia ter chegado mais cedo. -Rebeca pergunta ainda agarrada aos avós
-Foi de última hora querida, -responde sua avó- mas chegamos há pouco tempo. E você como está hein noivinha?! Daqui há um mês estará casada. Muito animada?
-Sim, estou. - fala sem entusiasmo algum.
Ester percebe uma leve preocupação, mas antes que fale algo Elisa chama a todos para o jantar.
Foi um momento maravilhoso em família. Alfredo contando histórias engracadas, as gargalhadas de sua vó... Rebeca achou que bem que eles poderiam aparecer mais vezes. Como ela não conhecera seus avós paternos (eles morreram em um acidente antes mesmo de Haroldo casar) ela era bastante apegada a eles.
Além do mais, Rebeca admirava como um casal poderia passar mais de cinquenta anos casados e permanecer o mesmo amor. Eles eram muito unidos e notavelmente apaixonados. Quando caminhavam ainda era de mãos dadas.
Inúmeras vezes ela os ouviu falar que Deus era a base daquele relacionamento. Seu avô era presbítero na igreja. E sua avó dirigente do Círculo de Oração. Era o casal mais sólido que ela conhecia. Não que seus pais não fossem unidos, mas Rebeca percebia algo especial em seus avós.
Tanto que depois do jantar resolveu conversar com ela. Rebeca prezava os preciosas conselhos de Ester.
Haroldo estava conversava com o sogro na varanda, Elisa colocava Susie para dormir e Ester estava no sofá da sala lendo a Bíblia. Era o momento que Rebeca queria.
-Vovó, destesto interromper sua leitura, mas queria perguntar algo.
Ester fecha a Bíblia e retira os óculos. Olha com carinho para a neta.
-Pode perguntar, querida.
Rebeca respira fundo:
-Como soube que o vovô era a pessoa certa?
Ester ri:
-Não existe pessoa certa. Quando Deus viu que não era bom que Adão vivesse só, ele resolveu criar uma companheira adequada. Adequada, não perfeita.
- Tá. Mas como tinha certeza que era da vontade de Deus?
-Simples: nós dois tínhamos o mesmo propósito.
Propósito. Como uma luz que atravessa a escuridão do fim do túnel, vem ao pensamento de Rebeca o que tinha escrito na Bíblia em seu sonho: Missões. Ela orara diversas vezes para que Deus lhe fizesse entender o que Ele queria. Será que Deus a chamava para o campo missionário? Rebeca já tinha pensado em todos os desafios que enfrentaria. Nunca tinha saído nem do seu estado, imagina do país. Também nunca tinha se separado de seus pais. Mas se fosse a vontade de Deus Ele a prepararia. E Nicholas? Ele aceitaria? Rebeca achava que não. Era tão focado em sua carreira! Tão ambicioso para ser um advogado de sucesso! Metade do tempo que passavam juntos era sobre isso que ele falava. Jogar tudo para o ar e fazer Missões? Não! Isso ele não faria.
"Oh Deus me ajude!" Ela pensou.
-Tem mais alguma coisa que queira me perguntar, Rebeca? Você me parece preocupada. - Ester observava Rebeca atentamente.
Rebeca pensou em colocar tudo para fora, sua vó era a pessoa perfeita para a ouvir sobre aquele momento tão delicado que ela estava enfrentando. Mas nessa hora sua mãe entrava na sala. Ela ainda não tivera coragem para contar sobre suas dúvidas à sua mãe. Ela estava tão feliz pela filha! Falou várias vezes que Rebeca ia ter o futuro que ela não teve e que eles não podiam dar. Rebeca não queria decepcioná-la.
-Não vovó, só isso mesmo. Obrigada.
Quando viu que Elisa entrava, Ester entendeu o recado.
Mais tarde naquela noite, Rebeca relembra tudo o que aconteceu naquele dia. Foi um dia muito difícil para ela. A resposta de sua vó era o que mais martelava em sua mente. Por que não tinha considerado seus propósitos antes de decidir casar? Ou até mesmo namorar! Tantos estudos para jovens que ela participou! E em quase todos foi colocado em pauta sobre a importância de procurar saber a vontade de Deus antes de entrar em um relacionamento, antes de assumir um compromisso com alguém. E ali estava ela! Em nenhum momento questionou se era realmente aqueles os planos que Deus tinha para a sua vida. As lágrimas desciam em seu rosto. Rebeca se sentia como se tivesse falhado com Deus.
"Por favor, Deus, me perdoa por ter ignorado a Tua vontade em uma etapa tão importante na minha vida. Não permita que eu venha estragar Teus Sonhos pra mim. "
Do outro lado da parede, no quarto de hóspedes, a velha senhora orava pela neta: "Meu Pai, ajude a Rebeca a entender a Tua Vontade. Eu sei que quão maravilhosos são os Teus planos para ela. Eu sei que desde o ventre de sua mãe o Senhor tem algo especial para realizar através da vida dela. Não permita que ela venha se precipitar em suas decisões. Eu peço em nome do Teu Amado Filho Jesus, amém! "
"O que foi que aconteceu comigo? Será que os encantos do Nicholas cegaram até o meu bom senso? Por que aceitei tudo tão facilmente se eu nem gostava dele no começo? "
E lá do fundo veio a resposta: Você queria curar seu coração que estava partido!
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Sonhos de uma jovem cristã (completo)
RandomFaltando apenas um mês para seu casamento, Rebeca começa a sentir seu coração angustiado pelas dúvidas e o medo dessa relação. Como se não bastasse, lembranças do passado, que ela julgava estarem enterradas, voltam a assombrar sua mente. E agora...