Sonhos de uma jovem cristã (completo)

Capítulo 9

Rebeca finalmente vence a semana mais difícil de sua vida. Uma semana antes se considerava decidida e sabia o que era queria, e agora estava ali com as coisas de pernas para o ar. Realmente não era fácil para ela. Sentia como se estivesse voltado à escala zero de sua vida. Era chegada a hora de recomeçar, fazer novos planos, traçar novos objetivos... Ela suspirou. Não conseguia sequer pensar no que fazer. Será que tinha tomado a decisão certa?

Fazia meia hora que estava ajoelhada no quarto fazendo essa pergunta para Deus à espera de uma resposta, mas até agora nada. Nunca pensou que terminar com Nicholas doiria tanto. Claro que no momento sentiu como se tivesse tirado um peso de cima de si. Aquela dúvida que começara com o sonho já estava a matando e não casaria com ela de jeito nenhum. Sem falar nas inúmeras situações que antes não a incomodavam e que passaram a fazer toda a diferença.

Mas naquele momento tudo o que sentia era tristeza. Estava com o coração partido. Amava o Nicholas mas do que pensava e a falta que sentia dele era torturante. Mas mesmo assim não voltaria sua decisão atrás. Sabia que a dor e a saudade faziam parte do processo. Lembrou de uma frase que lera um dia em um livro sobre relacionamento: Melhor chorar com a foto dele na mão do que nas mãos dele para sempre.

Não que o Nicholas fosse opressor ou algo assim, pelo contrário, era o rapaz mais gentil e cavalheiro que já tinha conhecido. Mas lá no fundo ela sabia que não era o suficiente para serem felizes juntos.

Quatro dias antes conversou com sua mãe. Contou para ela do sonho, das suas dúvidas, contou tudo! Abriu seu coração e colocou para fora tudo o que tinha vivido nos últimos dias. Por fim, pediu seu apoio, pois era de fundamental ajuda.

- Você tem consciência do que pretende fazer? - era visível a preocupação de Elisa.

-Tenho mãe. Não posso me casar com o Nicholas. Achei que ele era perfeito para mim, mas somos tão diferentes! Não temos quase nada em comum. Nossos sonhos e objetivos são diferentes, nossos gostos são diferentes, nossa forma de se divertir é diferente, até a comida! Não sei se conseguiria me adaptar a vida que ele tem. Tenho medo de não conseguir cumprir o meu papel de auxiliadora para a carreira dele. Estive pensando muito nisso. Vocês me criaram com simplicidade, e eu gosto de ser assim, não pretendo passar o resto da minha vida tendo que lidar com a agenda agitada dele, sempre correndo atrás de sucesso. Também não quero continuar tendo que me esforçar para parecer à altura do Nicholas quando estou com os pais deles. Não me sinto à vontade naquela casa, tenho que ter cuidado no andar, no vestir, no falar... Não aguento isso. Eu não o completo e ele não me completa também, principalmente no sentido espiritual.

- Filha, -sua mãe fala com carinho- eu sempre soube que vocês eram bem diferentes, e vieram de famílias diferentes. Não tiveram a mesma criação.  Mas você estava tão confiante, tão decidida e tão feliz! Pensei que já estivesse pensado em tudo quando resolveu se casar. Você sempre foi tão madura em suas escolhas! Por isso não me preocupei em lhe alertar quanto a isso.

Envergonhada por ter assumido uma atitude infantil, ela disse:

-Não analisei tudo, eu confesso. Quer dizer, não profundamente. Acho que estava tão apaixonada que confiei que aquele sentimento era o suficiente. Eu não posso me casar, mãe. Queria que a senhora entendesse isso.

- Rebeca, nem eu e nem ninguém pode obrigar você a se casar. E que bom que você está vendo tudo isso antes de se casar. Mas explique tudo direitinho a ele e aos pais deles. Com cautela. Não vai ser fácil para ser ele ser largado praticamente no altar. E nem para os pais deles verem o filho sofrer com isso.

-Por isso pedi sua ajuda, estou tão envergonhada. Não sei se consigo olhar para eles, me apoiaram em tudo, me ajudaram tanto! Confiaram em mim. E olha como vou retribuir!

Elisa abraça Rebeca:

-Vai dar tudo certo, filha! Confia em Deus. Ele vai lhe dar sabedoria para lidar com essa situação. Só não entendo como se apaixonou assim por ele a ponto de aceitar logo o casamento, que é algo muito sério.  E tudo tão rápido! Tem mais alguma coisa que queira me contar?

Rebeca olhou para sua mãe, e o olhar de Elisa deixou transparecer que ela já sabia a resposta. Sendo assim, abraçada por sua mãe, ela deixou as lágrimas escorrerem livremente.

...

Contar o término de tudo para Nicholas foi desafiante. Rebeca hesitou várias vezes. Não sabia por onde começar. Nicholas tinha sido maravilhoso do começo ao fim, atencioso, prestativo, compreensivo... Mas era também por ele que ela estava fazendo isso. Não conseguiria lhe fazer feliz se não fosse uma esposa feliz. Se estivesse frustrada, sempre iria achar defeito em tudo e iria frustrar Nicholas também. Ele não merecia aquilo. Merecia uma pessoa que o amasse de verdade. Que o admirasse e o apoiasse em tudo que estava construindo. Aquele lugar deveria ser ocupado por outra pessoa, não por ela.

Nem é preciso dizer que ele literalmente surtou. Não acreditava que Rebeca estava desistindo dele praticamente dias antes do casamento. Falou mil coisas. A muito custo Rebeca conseguiu que ele se acalmasse e falou tudo com o maior cuidado. Nicholas, mesmo contrariado, ouviu com atenção. Mas não deu razão à ela. Achou os motivos insignificantes. Não acreditava que estava terminando apenas por aquilo.  Rebeca mais uma vez pôde ver a imensidão de coisas que os separavam. O que era importante para ela em uma relação não era para ele. Interiormente, agradeceu a Deus por não permitir aquele casamento que seria um desastre. 

Agora, ajoelhada ao lado da cama, ela não conseguia agradecer por aquele dia. Apenas pediu a Deus para que a confortasse e lhe desse forças para passar por aquele momento.

Resolveu pegar a sua Bíblia que estava na cabeceira, e quando abriu, leu:

"E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8. 28)

Mais uma vez Rebeca se ajoelhou. Dessa vez para agradecer. Aquelas palavras foram como bálsamo para seu coração tão inquieto naquela manhã. Sabia que tinha tomado a decisão certa.  E aquelas palavras ficaram se repetindo na sua mente: daqueles que são chamados segundo o seu propósito.  Propósito. Sabia que Deus estava falando com ela.
"Faz em mim a tua vontade, SENHOR." Ela orou.