Faltava pouco para amanhecer. A casa estava silenciosa, como sempre, e eu não havia conseguido dormir nem por um minuto. Os acontecimentos da festa agora pareciam mais claros em minha mente. A enxurrada de consequências, que eu sabia que viriam, deixavam-me apreensiva, temerosa. Eu merecia o que quer que estivesse por vir. Nada poderia justificar a maneira como eu expus Lydia e sua intimidade para a escola inteira.
Arrependimento.
Uma coisa que fazia meu peito doer.
Assim que dois toques na porta do quarto soaram e meu pai espiou para dentro do quarto avisando que partiria em cinco minutos, senti os meus batimentos cardíacos acelerarem. Eu não queria passar perto do colégio. Não pelos próximos dez anos. Mas eu não podia deixar transparecer que tinha algo de errado para os meus pais. Eles precisavam acreditar que estava tudo bem. Mas nada estava bem, pelo menos não para mim.
— Você falou com alguém sobre a festa? — perguntei a Kion logo que saltamos do carro do meu pai.
— Como assim? — ele juntou a sobrancelhas, caminhando junto comigo em direção a entrada do colégio — Alguém que estava na festa ou alguém que não foi a festa?
— Não se faça de bobo — sibilei.
— Calma — ele riu.
Não foi apenas uma fantasia. Kion aparentemente estava conseguindo não me desprezar e o motivo era uma incógnita perfeita.
— Eu entendi — continuou a falar e parou de andar, puxando-me para a lateral da grande porta central que nos dava acesso a um dos diversos corredores da escola, enfeitados por troféus. Nosso time de futebol era muito bom — Eu não comentei com ninguém — disse e fez uma pausa — Mas não tenho como assegurar que as outras pessoas fizessem o mesmo — então parou novamente e olhou em volta, percebendo que alguns alunos nos observavam; eu já pressentia que viria algo ruim a seguir — Eu só quero te alertar sobre uma possível comoção dos alunos em relação a você.
— Eu sabia que isso iria acontecer — suspirei — De uma hora para outra eu passei da categoria de mais amada para a mais odiada. Nada mais do que justo depois do que fiz.
Kion balançou a cabeça negativamente.
— Você não entendeu.
— Não entendi o quê?
— Ninguém na escola a está odiando, pelo contrário. O que ouvi falar foi que você acabou de ser coroada como a nova Lydia do colégio.
— Está brincando? — ele negou outra vez — Isso é mil vezes pior.
— Depende do ponto de vista. Todos agora veneram você — ele riu — Não foi o que sempre quis? — questionou.
Meus olhos se arregalaram por um segundo. O velho Kion estava de volta; seu olhar duro sobre mim reapareceu. E então me deu as costas, sem que eu pudesse pensar em respondê-lo.
Xinguei a mim mesma mentalmente por ter confiado nele. Eu sabia, no fundo Kion nunca mudaria de uma hora para outra; havia chegado com a confiança e orgulho de cem pessoas, e isso não seria quebrado tão facilmente, muito menos por mim. Fiz uma nota mental para não deixá-lo conquistar minha confiança outra vez. Eu não ia permitir que usasse a minha bondade a seu favor, para me diminuir.
Infelizmente, Kion estava certo ao citar o comportamento das pessoas perante a mim. Cada movimento que eu fazia era estudado por todos, cada palavra que eu dizia era anotada e tudo que eu precisasse, mesmo antes de pedir, era entregue em minhas mãos. Eu tinha assumido por tempo indeterminado o posto que Lydia ocupou pela vida toda e não me orgulhava nem um pouco disso. Eu queria negar com todas as minhas forças, mas havia sim me tornado uma pessoa igual à ela, e me odiava por isso.
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When you come back #2
Teen FictionEm A New Life a vida de Alice foi contada. A história de um recomeço após uma tragédia. Um amor a primeira vista entre ela e Nash Grier. Uma história perfeita. Agora, 22 anos depois, é Clara, a filha do casal perfeito, que vai descobrir o quanto o a...