who is counting?

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Relutei em desabraça-lo. Estávamos naquela posição por tempo demais, tão confortáveis com o nosso silêncio, que dizia muito mais do que eu seria capaz, do que Theo conseguiria expressar. Ele se virou, dando-me vista para seu rosto. O semblante ainda era visivelmente triste, porém mais vivo do que anteriormente. Senti alívio. Elevei minha mão direita involuntariamente ao seu rosto, a todo momento sentindo necessidade de toca-lo, provocando o fechar de seus olhos escuros como a noite que nos cerca. Theo logo em seguida cobriu minha mão com a sua, fazendo-me sorrir por instantes. Os sons que emiti, fizeram Theo voltar a abri-los, focando-os em mim outra vez.

Eu sempre soube, desde o começo. Ter os seus olhos me avaliando faziam com que eu perdesse o foco de tudo. Por qual motivo estávamos ali mesmo? Eu já não sabia responder.

— Está ficando frio — eu sussurrei em meio a um lapso de racionalidade, retirando relutante minha mão de seu rosto.

Theo continuou me encarando, mesmo com minha ação abrupta, sem se importar com as minhas palavras. Respirei fundo. O tempo se moldava ao nosso redor mais lentamente. Eu sentia como se os segundos durassem horas enquanto aguardava qualquer reação de Theo, presa demais em seu olhar para conseguir me desvencilhar.

— Eu não acredito em você — ele finalmente disse.

— O quê? — eu sussurrei, sem compreender.

Suas duas mãos seguraram meus braços, mantendo-me exatamente no mesmo lugar enquanto ele se aproximava um pouco mais de mim.

— Eu não acredito em você quando recua dos meus toques, quando finge indiferença as minhas palavras, quando você me olha achando que não estou percebendo e, principalmente, quando eu te olho e você fica assim...

Theo mantinha seu olhar fixo em mim. Minha respiração se tornava mais desregular a cada segundo que eu passava sob sua vigilância. Eu havia perdido a minha capacidade de falar e, mesmo que eu conseguisse, não possuía forças para negar, pois ambos sabíamos que ele estava certo. Uma de suas mãos se soltou de meu braços, deslizando pela minha pele até se instalar nas minhas costas, como se estivesse evitando a minha tentativa de fuga. Ele não podia ler meus pensamentos e por isso não podia saber que eu jamais fugiria, não depois do tudo que disse.

— Theo... — sussurrei com urgência.

Eu sabia que ele compreenderia o que eu queria dizer. Meus olhos baixaram para seus lábios, ansiando provar novamente o gosto de sua boca. 

— Que fique claro, eu não vou pedir desculpas por isso.

Fui capaz de rir, mesmo estando a flor da pele, entorpecida pelo seu cheiro, pelo seu toque e sobretudo o seu olhar. Ele também sorriu junto comigo. O clima era mais calmo agora. Estávamos confortáveis, apesar da ansiedade que corria em nossas veias. De várias formas, nós dois ali, para mim, soava muito natural. O que me deixou ainda mais feliz.

Voltei a acariciar seu rosto com minha mão. Apesar de estar calma, meu coração fazia questão de trabalhar em velocidade máxima. A mão de Theo me segurou mais firme, enquanto a outra se entrelaçou com meus dedos. Ansiosa, eu aproximei meu rosto do seu, querendo sentir a sua boca desesperadamente. Quando nossos narizes se tocaram e eu pude sentir sua respiração em minha pele, junto com seu perfume inebriante, me permiti fechar os olhos, finalizando o caminho no escuro.

Sua boca tocou a minha de maneira suave, testando a minha sanidade. Em seguida, Theo brincou com sua língua, deslizando-a sobre os meus lábios, umedecendo-os. Soltei o ar e, enquanto suspirava, Theo aproveitou para captura-lo. Dessa vez, nossas bocas se chocaram com mais urgência. Minha língua buscou encontrar a sua e as duas dançaram juntas por minutos, em movimentos diferenciados. O gosto da boca de Theo continuava incrível e a sensação de te-lo tão perto, me segurando junto a si era ainda melhor. Com a minha mão não ocupada eu aproveitei para explorar seu cabelo, para desarruma-lo enquanto ele desarrumava a minha razão.

When you come back #2Onde histórias criam vida. Descubra agora