When you come back #2

sober

— Um, dois, três!

Observei Heather, Julian e Seth virarem um líquido verde na boca.

— Você devia acompanhá-los — disse a Theo.

— Estou acompanhando você — me olhou.

— Quem é que teve a ideia maluca de fazer uma festa em plena segunda-feira?

Heather cambaleou até mim, jogando um de seus braços em meu ombro e tentando fazer o mesmo com Theo.

— Eu não sei, mas achei ótimo. Afogar minhas lágrimas depois do desastre que foi prova a de hoje. Eu odeio aquele professor - Julian resmungou.

— Não foi tão ruim assim — eu ri — Vocês estão sendo dramáticos.

— Dramáticos? — Heather gritou em meu ouvido — Eu acho super injusto você ter acabado de chegar e ir na prova melhor do que nós. E você — olhou para Theo — Nem para nos ajudar!

— Eu estava do outro lado da sala — Theo revirou os olhos — O que você queria que eu fizesse?

No final, eu acabei me instalando na casa dos meus avós no sábado, quando eles retornaram e, como Theo previu, começara nessa manhã a estudar em seu colégio. Foi uma sensação estranha ser a novata, sempre estudei a vida toda no mesmo colégio, tendo meus primos ao meu lado por todas as etapas, recebendo atenção suficiente das pessoas para ter alguém com quem conversar a todo momento. A situação era diferente agora. Assim que pisei meus pés no prédio, recebi olhares curiosos que me acompanharam por todo o dia. Eu podia perceber os cochichos e as fofocas que circulavam, todos tentando supor quem eu era e de onde eu vinha. Algumas poucas pessoas me reconheceram do restaurante e foi exatamente nessas que eu foquei. De certa forma era bom. Eu nunca pedi para ter holofotes sobre a minha vida no colégio e muito menos para que as pessoas me vissem como um modelo a ser seguido. Mudar de cidade me proporcionou anonimato, mas não me impediu de sentir falta. De tudo.

Meus primos eram mestres em planejar festas no meio do semestre, de modo que eu já estava mais do que habituada com aquele ambiente de adolescentes que dão o que falar no dia seguinte. Porém, apesar de tudo se mostrar muito semelhante, era na verdade outro mundo para mim. Não era a mesma cidade, o mesmo colégio, muito menos os mesmos amigos. Ali, eu não me sentia tão confortável, na verdade, estava sempre alerta tentando não estragar as coisas mais uma vez. Afinal, foi por ter deixado as pessoas verem no que me transformei que acabei arruinando tudo. Sim, porque essa era a minha visão das coisas. Não importava o que vovó constantemente reiterava para mim, assegurando que todos haviam me perdoado. Era impossível esquecer o que fiz: colocar a vida da Lili e das gêmeas em risco. Eu me recordo bem do olhar de Dylan quando armei contra Lydia e sei que em algum momento esse mesmo olhar percorreu cada um dos membros da minha família. Não tinha como saber até que ponto todos  conseguiram me perdoar. Voltar para Los Angeles apenas para descobrir parecia ser um risco alto demais. Além disso, Theo e seus amigos eram divertidos e na maioria do tempo eu era capaz de me divertir também.

— Ok, uma dose só — ouvi Theo dizer ao meu lado.

Ele se aproximou da bancada da cozinha, onde uma série de bebidas estavam depositadas. Julian despejou o liquido verde no copo e Theo o pegou.

— Me acompanhe — ele me cutucou.

— Não, obrigada — eu neguei, afastando meu corpo — Mas vá em frente.

—  Por que tem de ser tão careta? — Seth retrucou — É uma festa, garota!

— Só uma. Vamos, Clara! — Heather gritou, gesticulando com as mãos.

Era ela sem dúvidas a mais alterada de todos. Provavelmente porque ela bebeu do seu copo e do de Seth.

— Está bem — revirei os olhos.