prologue

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Concentrei-me bem para não errar o alvo a minha frente. Eu segurava o dardo entre os dedos, sentindo as batidas do meu coração aumentarem o ritmo. Atrás de mim, meu primos falavam alto e gesticulavam, tentando tirar minha concentração. Já era tarde da noite e as únicas pessoas presentes no bar são meus primos e eu. Girei o corpo na direção deles e fiz sinal de positivo para Dylan. O que significava que, se eu acertasse o dardo no alvo certo, ele me presentearia com toda sua mesada durante seis meses. Em contrapartida, eu lhe daria a minha por um ano inteiro. Era uma aposta tentadora e arriscada, que eu havia ditado as regras. Algo que sempre gostei de fazer.

Meus primos estavam sentados em várias mesas, com as cadeiras viradas para me ver ganhar. Eu olhei para Dylan e percebi que ele estava com medo. Seus dedos deslizavam pelo cabelo loiro comprido a todo momento, enquanto a outra mão segurava um copo grande de cerveja.

— Eu acho bom você ter um dinheiro guardado — murmurou Josh. Suas covinhas apareceram quando ele riu de Dylan.

— O quê? Você acha que ela vai ganhar? — Dylan resmungou — Ela não pode ter tanta sorte assim — E olhou para mim com descrença.

— Preciso mesmo responder? — Sally revirou seus olhos para Dylan — Ela é a melhor — murmurou enquanto enrolava com os dedos um punhado de cachos castanhos.

— Acho que ninguém discorda disso além de você — disse Aidan. Ele olhou para Dylan balançando a cabeça em negativo — Quando é que você vai aprender que ela sempre ganha? — seus olhos verdes piscaram para mim.

Todos continuaram o impasse com meu primo, que teimava em sempre fazer apostas comigo. Me desliguei por um momento da conversa e lancei o dardo com a maior precisão que consegui. Foi necessário poucos segundos para que o objeto acertasse o centro do alvo. Meus primos gritaram quando viram o dardo se enterrar no pequeno círculo vermelho, como eu já esperava.

Virei-me para os meus primos e sorri satisfeita diante dos elogios.

— Parece que minha mesada vai dobrar — murmurei alegremente. Peguei o copo das mãos de Dylan, bebi um gole e completei: — Você devia ter escutado nossos primos.

Com expressão exagerada, meu primo se levantou e se curvou para perto de mim.

— Eu vou dizer o que sempre digo — deu um longo suspiro e sorriu em seguida — Foi sorte.

— Sorte que vai te custar bem caro — Sally alfinetou.

Nós tínhamos essa brincadeira de apostas desde quando éramos crianças. Dylan sempre implicou comigo e nós brigávamos muito por coisas bobas. Um sempre tentava superar o outro, fosse em qualquer coisa.

Eu sempre tive um espírito competitivo dentro de mim e ter o Dylan me instigando criou entre nós essa tradução tão inusitada. Por um período, nossas apostas refletiam uma implicância infantil entre nós. Foi lá pelos meus 7 anos, no dia do seu nono aniversário que tudo mudou e nos tornamos melhores amigos para sempre. Estávamos andando de bicicleta no parque central da cidade, onde a festa de Dylan aconteceria naquela tarde. Eu tentava acompanhar o ritmo frenético em que ele pedalava, tentando ultrapassa-ló para ganhar uma aposta que fizemos, quando perdi o controle e caí com força em cima do meu próprio braço, o quebrando em duas partes.
Não me lembro exatamente o que ocorreu depois da queda, mas recordo perfeitamente de Dylan acompanhando-me em todos os momentos em que estive no hospital. A partir daquele dia, nos tornarmos próximos, melhores amigos e nunca mais brigamos, mas continuamos nossas apostas.

— Eu não me importo. Considere como presente de aniversário — deu de ombros.

— Não finja que não se importa. Você está decepcionado por nunca conseguir ganhar de mim. — eu provoquei.

— Alguém vai conseguir — ele devolveu — Talvez mais rápido do que você pensa.

— Ah é? — levantei as duas sobrancelhas — E quem vai ser? Vocês eu tenho certeza que não! — disse convencida.

— Ela já ganhou de todos os primos — Zoe chegou para perto de nós, abraçando o irmão — Desista! — disse a ele.

— Bem, não de todos — ele discordou —Talvez ele consiga ganhar de você — disse, pensativo — Soube que está voltando.

Eu paralisei no momento em que percebi de quem Dylan falava.

Dylan falava do único primo que nós não tínhamos contato há muito anos. Aos 11 anos, ele decidiu morar com os avós maternos na Itália e desde então nunca mais retornou para as reuniões em família. Seu único contado eram com seus pais, meu tio Cameron e minha tia Rafaela e sua irmã mais nova, Cassandra.

Alguns meses depois da mudança, fui visita-lo. Sua decisão havia surpreendido a todos nós e eu estava determinada a trazê-lo de volta para a sua verdadeira casa. Quando o encontrei, ele foi frio e distante. Disse coisa que me magoaram profundamente e, a partir desse dia, nunca mais quis obter notícias suas. Dylan era o único que sabia o quanto ele havia ferido meus sentimentos.

Dylan falava do garoto que não se ouviam noticias há muito tempo. Eu observava meu primo contar as novidades, sem conseguir processar completamente o que tudo aquilo significava, mesmo que a conclusão fosse bem simples. Ele voltaria para LA. Dylan falava daquele que por escolha própria dedicou sair de nossas vidas e, agora pretendia retornar para o nosso colégio e para nossas vidas como se anos não tivessem se passado, como se não fôssemos pessoas completamente diferentes, como se esta ainda fosse sua família mesmo depois dele ter negado estar presente nela.

Dylan falava de Kion.

When you come back #2Onde histórias criam vida. Descubra agora