When you come back #2

fucking universe

Passamos a nos ignorar a maior parte do tempo. Diferente do que ele disse, a gente mal se via pela escola e muito menos fora dela. Dessa maneira, a minha vida parecia quase completamente normal e era raro as vezes em que eu me lembrava da sua existência. Os meus primos falavam com ele normalmente. Toda a escola parecia ter um novo ícone para admirar, disputando sua atenção. Algo que adorei, pois assim os holofotes mudaram de foca, me deixando livre para ser mais eu novamente. Muitas provas e trabalhos. A semana estava corrida, dado que ao final do mês haveria uma pausa nas aulas em decorrência do campeonato de futebol. Como eu não participava, era uma semana a mais na qual eu podia ficar em casa.

Eu simplesmente detesto o shorts que somos obrigadas a vestir. Eles são de um material péssimo e apesar do diretor proibir qualquer roupa curta, a nossa roupa de educação física era muito menor do que qualquer outra peça. A arquibancada sempre se enchia de garotos que ficavam lá, assistindo as garotas se exercitarem com aquele minúsculo pedaço de pano. Algo que me deixava extremamente irritada. Havia levado centenas de anotações e xingar aqueles pervertidos com palavrões.

Zoe, Sally e eu nos alongávamos para participar do jogo de vôlei. Se o esporte não contasse como ajuda para as matérias em que temos mais dificuldades com certeza eu nem colocaria os pés na quadra.

— Eu não aguento mais tantos olhares — Zoe bufou.

— Eu já nem ligo mais — Sally ergueu os ombros — Sabe quem está lá em cima babando por você, Clara? — minha prima estalou a língua, apontando com os olhos na direção de quem quer que seja.

— Kion? — Zoe quebrou o mistério. Ela estreitou seus olhos para observar bem — É mesmo — ela constatou, logo depois olhando para mim — Por acaso você tem algo para nos dizer sobre isso?

— Não.

— Eu acho uma bobagem essa coisa de vocês fingirem se odiar — Sally revirou os olhos.

— A gente não finge, a gente se odeia mesmo.

— Ah, conta outra. Todo mundo sabe que Kion está tentando se aproximar de você. Sabia que você foi a primeira pessoa por quem ele perguntou quando chegou em Los Angeles?

— Ele devia estar confuso por causa do jet lag.

Eu acabei ficando no time contrário ao de Sally e Zoe. Por mais que eu me esforçasse, não seria capaz de entregar um bom desempenho. Lydia, a capitã do nosso time, parecia cada vez mais incomodada com os meus erros, gritando a todo momento. Eu ria, sem conseguir esconder meu contentamento por irritá-la.

— Assim não dá, Professora Harrison. Clara está errando de propósito! — Lydia gritou.

— Não estou!

O jogo acabou com o placar de 25 X 13, sendo o meu time o perdedor. Juntei-me as minhas primas, às risadas. Caminhamos para o vestiário, doidas para tirar o suor do corpo e ainda mais aquele short.

— Vocês viram a cara dela? — Sally pareceu se divertir ainda mais do que eu.

Sally não escondia de ninguém seu rancor por Lydia, algo que não só ela, mas todas nós alimentamos durante anos. Contudo, para Sally, é algo extremamente pessoal. Lydia se mostrou, por diversas vezes, verdadeiramente empenhada em acabar com os relacionamentos de Sally. No final, as atitudes de Lydia só evidenciavam a falta de caráter dos garotos com quem Sally se envolveu. Mesmo assim, não nos passava despercebido que a atitude de Lydia era nada menos do que maldade. É capaz de humilhar e desprezar qualquer um a sua frente. Não era surpresa que sua presença fosse odiada e temida pelos alunos.

— Eu quero a ajuda de vocês nesta festa — Zoe prendeu os cabelos para ir tomar banho.

— Para quê, exatamente?