you do know what is funny?

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Passei cincos minutos na mesma posição em que estava quando ele partiu, recapitulando tudo o que tinha acontecido. Kion estava no meu quarto. Kion está de volta. Ele já havia saído, mas eu permanecia  sem reação. Meu coração batia em alta frequência, enquanto meu cérebro enviava espasmos por todo o meu corpo. Mesmo que Dylan tivesse me alertado sobre sua volta, não imaginei que seria tão cedo. Na verdade, mal tinha lembrado dessa possibilidade. 

Fui para a sacada do meu quarto, onde era possível enxergar a piscina e a nossa casa da árvore. A piscina estava tomada pelas crianças e até nosso cão, Zac, brincava com eles, mas nunca dentro d'água. Faziam anos que Jack foi embora; era uma criança quando ele partiu, mas ainda sentia sua falta. Mamãe ficou desolada por semanas e papai chorou. Eu sabia que ele tinha sido um cão muito importante e amado, pois esteve com eles desde o começo de seu relacionamento. Fiquei cerca de vinte minutos divagando com meus pensamentos até tomar coragem para me juntar a minha família novamente.

Parada, encostada à porta, observei toda a minha família conversando com Kion animadamente. Eles estavam enturmados e o questionavam sobre vários assuntos. Kion respondia a todos e sorria quase sempre, descontraído. Fiquei incomodada e irritava com aquela cena, não por sentir ciúmes de toda atenção que recebia, mas por eles aceitarem tão naturalmente a sua chegada. Em todos esses anos que passou fora, nunca se deu ao trabalho de saber como estavam as coisas ou de vir nos visitar, fazia questão de ignorar a nossa presença e agora, de uma hora para outra, age como se realmente fizesse parte da família. Mas ele não faz, porque nunca esteve presente. Não acompanhou o nascimento dos nossos primos, não esteve no casamento de tia Lili, não chorou por Jack e não participou das nossas festas. Kion não tem o direito de chegar de repente e fingir que nada aconteceu. Talvez eu estivesse sendo mimada e infantil, exatamente como ele me chamou há tantos anos atrás, mas pouco importava. Ele simplesmente não tinha o direito de estar ali.

Forcei uma cara amistosa e me juntei a mesa que ele estava, sentando de propósito na cadeira à sua frente. Assim que conclui esse gesto, notei sua postura fria voltar e seu desprezo por mim aparecer. Sustentei seu olhar, desafiando-o, ao mesmo tempo em que me senti enjoada com a sua atitude. Comecei a perceber, então, que sua recusa nunca foi pela minha família e sim apenas por mim.

— Clara? — Zoe me cutucou — Terra chamando!

— Ah, oi — voltei meu olhar a ela — O que disse?

— Perguntei se você irá para a escola amanhã.

— Não posso pensar em faltar. Tenho prova de biologia e um trabalho de inglês para entregar.

— Você podia me enviar uma cópia do seu trabalho? Eu esqueci de fazer.

— Posso sim.

— Obrigada. Sabia que Kion vai estudar conosco? — Zoe sorriu, alegre, observando o primo.

Não me dei o trabalho de olha-lo.

— Preferia não saber. Que orgulho ter reprovado na melhor escola da Itália, não é? — incitei.

— Que pena, Clara — Kion disse ignorando minha provocação. Pude imaginar seu sorriso sarcástico — Porque vamos nos esbarrar muito por lá.

— Até onde eu saiba, sempre se esforçou para me evitar — repliquei com raiva.

Saí da mesa antes de ouvir a resposta de ambos. Eu estava abalada por sua presença e por ter novamente a realidade do seu desprezo sobre mim. Precisava voltar a ser eu, voltar a esquece-lo e não ligar para suas ações. Ele mal tinha chegado e eu já estava me importando demais com suas atitudes.

— Clara, venha aqui!

Parei e me virei para ver o que Jensen queria. Os primos mais velhos haviam formado um roda e conversavam animadamente. Peguei uma cadeira e me juntei a eles, sentando-me ao lado de Ema.

When you come back #2Onde histórias criam vida. Descubra agora