When you come back #2

ex girlfriend

— Eu... eu não sabia o que fazer, vovó — eu sentia as batidas rápidas do meu coração, fazendo um som mais alto do que deveria.

— Ficamos todos tão preocupados... e ainda estamos! Entenda que você não teve culpa de absolutamente nada, querida! Robert está arrependido, as gêmeas estão bem, volte para casa!

— Como... Não conseguirei encara-los agora — confessei, com aperto no coração — Mesmo que eu não tenha feito algo errado, eu não fiz nada para ajudar... Todas vez que eu penso... as coisas que Robert me disse... ele ainda tem razão.

— Ouça, querida, todos aqui estão sentindo sua falta, sua mãe está devastada, seu pai, Kion... — parei de prestar atenção ao que vovó dizia, o seu nome havia fisgado minha atenção e de repente, eu vasculhava nossos últimos momentos juntos, recordando do seu toque e das coisas que me disse — ...Nós amamos você! Clara, está aí?

— Sim, sim! Me desculpe.

Eu podia ouvir algumas vozes ao fundo, provavelmente vovó estava rodeada pela minha família, que aguardava respostas. Eu sabia o quanto eu havia abalado todas as estruturas ao ir embora de repente, apesar de sermos um número grande, ela nunca funcionou com um membro a menos. Mas eu sabia que era necessário, eu não me sentia digna de estar ali.

— C-como Lili está? — estava tão preocupada com ela, com minhas priminhas.

— Elas estão bem, saudáveis. São tão lindas, querida! Você vai amá-las assim como todos.

Me permiti sorrir, imaginando seus rostinhos redondos e angelicais.

— Diga que eu estou muito feliz por elas e que ficarei aqui por um tempo.

— Clara... — vovó lamentou pelo telefone — Você tem certeza?

— Sim — respondi, mesmo sabendo que, a essa altura, eu não tinha verdadeiramente certeza. Era muito difícil para mim ficar longe deles.

— Escute, Clara  — suspirou, fazendo uma longa pausa. Pelo som, pude compreender que ela estava se afastando das pessoas — Eu sei de tudo, querida.

Em um primeiro momento, não compreendi o significado daquelas palavras. Mas em questão de segundos, quando eu senti um arrepio gelado percorrer a minha espinha, soube que ela estava falando de Kion. Eu travei, mal consegui respirar nos próximos segundos que sucederam, enquanto apertava o meu celular com toda a força que eu podia.

— E-Eu não sei do que está falando.

Meu coração trabalhava rapidamente ao mesmo tempo em que eu procurava em minha mente algo razoável para dizer. Independente do que eu dissesse, eu tinha que transparecer verdade ao negar qualquer ideia que ela pudesse ter sobre minha relação com Kion. Sabia que se eu confirmasse suas suspeitas eu apenas daria mais motivos para que eu continue longe.

— Eu sempre soube — continuou, ignorando minhas palavras — Seu pai também desconfiava. Vocês viviam grudados quando crianças, inseparáveis. Mas então ele se mudou e nós esquecemos, até o seu retorno.

— Eu não estava fazendo nada com Kion na casa da árvore, vovó. Eu juro! Eu me esqueci de tia Lili, é verdade, mas eu o encontrei lá por acaso e nós... — suspirei, sentindo meu rosto quente com as lágrimas — nós quase nos beijamos — confessei.

A sensação de alívio foi imediata. Poder dizer a verdade tirou um peso do meus ombros. Eu sabia que minha relação com Kion não era o foco do problema, mas Robert tinha dado a entender que essa relação havia colocado Lili em risco quando foi apenas minha irresponsabilidade. Kion não tinha nada a ver com isso.