Theo

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Eu já havia visitado a casa dos meus avós diversas vezes, de modo que eu não precisei pensar qual caminho eu devia seguir. Assim que desembarquei e peguei minha mala, entrei no primeiro táxi que avistei, lhe dizendo o endereço. Estava exausta, o voo havia sido longo e com algumas turbulências. Chovia bastante. E o fato de não ter dado aviso prévio ao meus avós me assustava. Sabia que seria recebida de braços abertos, mas temia sobre o quanto tinham ciência dos motivos que me fizeram vir. Passava do meio dia quando o motorista deixou-me em frente a casa.

Corri para porta, querendo fugir da chuva e toquei a campainha. Esperei ansiosamente alguém me receber, porém isso não aconteceu. Depois de alguns minutos batendo incessantemente a porta, me ocorreu que eles podiam não estar em casa. Saquei o celular do bolso, ignorando as chamadas perdidas dos meus pais. Eu sabia o quanto mamãe poderia estar chateada e no momento, eu me recusava a pensar profundamente sobre. Disquei o número de vovó que imediatamente caiu em sua caixa postal. Tentei ligar para o vovô, mas ele não me atendeu.

Tantas coisas haviam acontecido nas últimas horas que nem me importei sobre o fato daquilo ser mais uma onda de má sorte. Dei a volta, em direção ao fundos da casa; quaisquer indícios de uma chave reserva eram invisíveis a mim. Pelo menos, havia uma parte coberta com bancos onde pude me sentar junto a minha mala. Esperava que eles não demorassem tanto.

Meus dedos seguravam o aparelho de celular com força, deixando as pontas dos meus dedos brancas. Senti o gosto amargo na boca de um choro que ficou entalado na minha garganta enquanto observava as pequenas letrinhas embaçadas. Mamãe havia me ligado vinte vezes e papai mais algumas. Dylan parecia estar chateado também e Kion ocupava umas centenas na minha caixa de mensagens. Eu me sentia culpada por deixá-los de uma hora para a outra, mas dada as circunstâncias, não havia outra opção. Eu não podia ficar perto de Lili, não com Robert me odiando, não depois do que fiz. Mesmo sabendo que a saúde das gêmeas e de Lili não corriam mais risco, não era certo eu estar no meio deles para celebrar a chegada delas quando fui eu quem quase transformou tudo em uma tragédia. Desliguei o celular, para tentar não me martirizar tanto. A decisão havia sido tomada, tudo o que me restava era seguir em frente.

— Olá?

Fui tirada dos meus pensamentos por um garoto que se encontrava a alguns passos. Apesar dele tentar esconder, era perceptível sua curiosidade em relação a mim. Usava uma bermuda estampada e uma camiseta lisa azul marinho, além, é claro, de um grande óculos quadrado destacando seus olhos ávidos.

— Oi.

Continuei a avaliar seus movimentos. Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos e os ombros levemente encolhidos. Ele parecia tímido.

— Eu não quero parecer rude nem nada do tipo mas... o que está fazendo na casa do sr. Carlos?

Sorri, achando uma graça o modo como escolheu seus palavras para não me ofender.

— Eu sou neta dele. Quis fazer uma surpresa, mas acho que cheguei na hora errada.

Ele não precisava saber da verdadeira história que me fez chegar até aqui. Seria bom por um tempo ficar livre do meus problemas e isso me pareceu ser a oportunidade perfeita. Aquele garoto não precisava conhecer a parte de mim da qual estou fugindo.

— Clara! — disse, com um meio sorriso — seu avô fala muito sobre você.

— É mesmo? — involuntariamente um sorriso me surgiu. Era bom saber que vovô se importava tanto comigo.

When you come back #2Onde histórias criam vida. Descubra agora