When you come back #2

let the games begin

Era certo que eu havia esquecido. Passar as manhãs e tardes ao lado de Theo me faziam apagar tudo que acontecia ao meu redor, era como uma espécie de câmera que se concentrava somente em nós dois e o resto da imagem ao fundo se desfocava, nada mais importava. Alex era uma dessas coisas não importantes. Sua atenção de fato nunca importou para mim e nosso encontro nunca me interessou realmente, porém eu gostava da atenção recebida e sabia muito bem que esse é um dos problemas que tenho que resolver em mim mesma. Tudo o que fiz até aqui para alimentar meu ago teve consequências na vida de diversas pessoas com quem eu me importo, consequências que me arrastaram para essa cidade. Eu sabia que esse meu comportamento não devia ser tolerado por mim mesma. Eu havia prometido mudar, assim que pus os meus pés para fora do aeroporto rumo à casa dos meus avós, mas estava sendo mais difícil do que eu podia imaginar. Arrancar uma parte de mim que foi alimentada por uma vida toda, percebi, não seria fácil. Contudo, agora eu possuía Theo ao meu lado e, sinceramente, era tudo o que eu precisava ter no momento.

Encarei Alex por alguns segundos. Não passou despercebido pelo seu olhar atento que Theo me tinha em seus braços. Mesmo de longe, pude captar suas emoções se transformando ao longos dos minutos. Demorei para me afastar de Theo, certificando-me que Alex entenderia meu recado muito antes de eu começar a falar. Me afastei da sacada logo depois e segui em direção à saída para encontrar Alex lá embaixo.

— Oi, Alex — eu sorri.

Apesar de tudo, eu não queria que surgisse alguma inimizade entre nós, ou que ele tivesse a ideia errada de que eu pudesse estar brincando com ele ou com seus sentimentos. Alex parecia ser um cara legal, ao menos superficialmente. Nós havíamos trocados algumas palavras durante a semana; ele se esforçou para me dar atenção, mas era sempre requisitado por diversas pessoas e eu entendia completamente, pois sabia bem como era estar na sua posição. Ele esteve ocupado demais para reparar que Theo e eu não nos desgrudávamos, mas não vou omitir a minha parcela de culpa, uma vez que eu mesma afirmei que minha relação com Theo era restritamente de amizade. Eu falhei em cumprir minha palavra.

— Eu posso imaginar quais vão ser suas próximas palavras — seus braços se cruzaram no peito. Ele olhou para cima, certificando-se de que Theo ainda estava lá e então voltou a me encarar — Ele fez um desenho seu e disse o quanto gosta de você? — seu tom era debochado — Pelo seu olhar, sei que estou certo. Algumas coisas não mudam. Te vejo por aí, Clara.

Ele não me deu espaço para que eu pudesse falar, assim que terminou sua frase, retornou para seu carro e foi embora. Eu não queria que as palavras dele tivessen me afetado, porém elas flutuaram na minha mente por horas antes que eu pudesse esquecê-las. Não conhecia verdadeiramente Alex, mas tinha experiência com o seu típico estereótipo e por isso sabia que não devia confiar cem por cento em suas palavras, mesmo que ele tenha despertado certa curiosidade para entender melhor do que ele estava falando. Parecia ser bobagem. É claro que Theo teve outras namoradas, ele é lindo, inteligente, carinhoso, qualquer garota teria muita sorte de tê-lo, e se ele desenhasse para elas ou elas próprias, não poderia culpá-lo por se utilizar de seu dom para conquista-las.

*

— O que você está pensado?

— Hum?

— Eu te perguntei sobre a sobremesa e você não disse nada.

— Ah, me desculpe... — voltei a me concentrar em nossa mesa.

Theo insistiu em me levar para jantar. Em um primeiro momento, não pensei que fosse uma boa ideia, eu não queria correr com a nossa relação, e um jantar parecia fazer exatamente isso com nós. Mas devido a todos os recentes acontecimentos com o pai de Theo, eu queria fazê-lo se sentir melhor o máximo possível e por isso a minha resposta foi sim.