— Fique parada.
— Eu estou parada! — protestei, cansada de ouvir Theo dizer a mesma coisa.
— Não o suficiente. Sua perna está se mexendo — ele riu.
Olhei para minha perna, que balançava ritmicamente sem que eu pudesse me dar conta. Eu estava nervosa. Ter Theo me observando profundamente era intimidador, desconcertante. Ele se mostrava muito concentrado com seu par de óculos que lhe garantia um ar de nerd, capturando todos os possíveis detalhes para registrar em sua tela. Alguns dias atrás ele havia dito que me desenharia. No momento, tudo que eu pude fazer foi ignorar suas palavras e ir para casa o mais rápido possível, sabendo o risco que eu corria estando a sós com ele, sabendo sobretudo do fato de que me sinto atraída na maior parte do tempo e, principalmente tendo consciência de que eu não só não seria correspondida, como também entendia que era precisava de muito mais tempo para superar Kion.
O tempo que passei longe dele foi o suficiente para superficialmente me permitir conseguir seguir minha vida apaixonando-me por outros garotos. A sua volta me colocou frente a frente com sentimentos que escondia desde que éramos crianças. Eu não fazia ideia de que uma ligação do passado pudesse resistir por tanto tempo e causar diversos efeitos em mim. Amor e ódio. Era isso que Kion fazia comigo, destruía e juntava os pedaços do meu coração a cada mensagem sua que eu recebia. Com o passar desses dias, eu pude notar que ele havia compreendido a minha necessidade de permanecer isolada. Não somente ele, como mamãe e papai também pararam de ligar. Sally ainda insistia, dizendo que nunca me abandonaria. Mas eu sabia, uma hora todos iriam se conformar. Essa era a situação agora, eles precisavam entender isso. Dylan nunca tentou se comunicar. Eu podia entender bem o porquê. No fundo, eu sabia que ele ainda estava profundamente magoado com as minhas atitudes e não tinha razões para culpa-lo. Era um fato para mim que todos esses acontecimentos se solidificariam no passado que se distanciaria cada vez mais e, se eu quisesse seguir com a minha vida, precisava deixar o passado seguir seu curso natural, sem ficar remoendo a todo segundo. É isso que tento fazer na maior parte do tempo. É um dos motivos que me fez aceitar o pedido de Theo. Ele era o meu presente.
Eventualmente Theo me cobraria pela aposta e, fosse o que fosse, eu estava disposta a pagar. Afinal, apostas é um assunto no qual eu não tolero brincadeiras. Porém nunca me passou pela cabeça que o seu pedido pudesse ser para me desenhar. Talvez eu não devesse ficar tão surpresa, desenhar é uma das suas grandes paixões, qualquer um sabia disso. Ainda assim, era estranho para mim que seu pedido fosse tão específico... tão pessoal. De qualquer forma, eu não poderia dizer não. Não apenas pela aposta, mas pelo seu galanteador sorriso que expressou quando me fez o pedido. Ele foi tão doce. Lembro-me das suas bochechas se avermelhando... Eu o deixei escolher o local e aqui estávamos, no topo de uma colina, onde era possível enxergar toda a cidade abaixo de nós. Era uma vista magnífica.
— Acho que terminei — Theo disse depois de um tempo.
— Posso ver?
— Claro. Venha aqui.
Saí de minha posição um tanto receosa em relação ao quadro. Não que eu duvidasse das habilidades de Theo, mas eu nunca havia sido pintada antes e isso me causava certa ansiedade para saber o resultado.
— E então?
Percebi que estava quieta por tempo demais, encarando a tela presa ao tripé. Lá estava eu, contornada pelas belos traços de Theo. Eu tinha diversas expectativas, muito por conhecer bem sua capacidade com um pincel em mãos. Mas aquilo parecia tão perfeito para ser eu, ainda que eu claramente pudesse me reconhecer em cada pincelada, em cada curva, em cada risco. Minha mão direita tocou seu ombro, enquanto a outra estava em minha boca, tamanha a admiração.
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When you come back #2
Teen FictionEm A New Life a vida de Alice foi contada. A história de um recomeço após uma tragédia. Um amor a primeira vista entre ela e Nash Grier. Uma história perfeita. Agora, 22 anos depois, é Clara, a filha do casal perfeito, que vai descobrir o quanto o a...