"Assassina!"

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"So you wanna start a war
(Então você quer começar uma guerra)
In the age of icons
(Na era dos ícones)
So you wanna be immortal
(Então você quer ser imortal)
With a loaded gun
(Com uma arma carregada)
So you wanna start a war
(Então você quer começar uma guerra)
-Start a War, Valerie Broussard.

3 de dezembro

Era uma gélida manhã de segunda-feira, o outono terminava nas Ilhas Internas e os berkianos se preparavam para o inverno. Mas enquanto berkianos comuns se preocupavam em concertar seus aquecedores ou com as festividades de snoggletog, uma certa família da elite tinha uma preocupação ainda maior.

Naquele frio e cinzento dia de outono começava o julgamento de Emily.

Soluço estava preocupado com Astrid e Camicazi porque as duas irmãs precisariam ser interrogadas no tribunal e Soluço não sabia se alguma delas era forte o suficiente para aguentar, especialmente Astrid. Os eventos daquela noite tinham sido tão traumáticos que nem mesmo Soluço conseguiu convencer Astrid a conversar com ele e um pressentimento muito ruim o dizia que aquela noite tinha sido apenas a pontinha do iceberg.

Soluço se conformou de que não conseguiria convencer Astrid a mudar de ideia, então não teve outra opção além de respeitar a decisão dela, mesmo sem concordar.

O caminho foi preenchido por um silêncio pesado e desconfortável, era como se estivessem a caminho de um velório e não de um julgamento. O Rolls Royce precisou parar nos fundos do prédio para evitar os fotógrafos aglomerados na parte da frente e Throk os esperava lá dentro para guia-los até a enorme sala onde seria a audiência.

Haviam cinco fileiras de cadeiras - separadas no meio para facilitar a circulação - que formavam a platéia. Alguns jornalistas já preenchiam seus lugares no fundo da sala. A platéia era separada do resto da sala por um cercado de madeira. Soluço, Astrid, Camicazi, Michael e Throk se sentaram na primeira fileira atrás da mesa da promotoria, no lado direito da sala. Do lado esquerdo ficavam a mesa da defesa e a bancada dos jurados com espaço para todos os oito. A mesa do juíz ficava centralizada no meio de tudo e ao lado do juíz ficava uma mesa menor onde os interrogatórios das testemunhas seriam feitos.

Em menos de dois minutos as portas da sala foram fechadas e a platéia já estava cheia. Os jurados começaram a tomar seus lugares. Atali, a promotora do caso, e Krogan entraram pela mesma porta que os jurados e tomaram seus lugares. Emily entrou pouco depois acompanhada de dois homens em fardas, durante os poucos passos até a mesa da defesa, Emily e Astrid fizeram contato visual que durou mais do que o necessário e só foi quebrado quando a mulher se sentou ao lado do advogado. O juiz, um homem de meia idade vestido com uma toga preta, foi o último a se sentar em seu lugar.

O julgamento teve início com os discursos de abertura da promotoria e da defesa. Os discursos foram longos e pouco teatrais e então começaram os interrogatórios.

-A Corte chama Camicazi Hofferson para depor. - A voz do juíz era alta e Camicazi parecia muito mais confiante do que realmente estava quando se levantou e caminhou até a mesa da testemunha ao lado do juíz. - Responda às perguntas de maneira objetiva, você tem o direito de permanecer em silêncio se assim quiser. - O juíz explicou e Camicazi assentiu em entendimento.

Camicazi, por ser menor de idade, não era era uma testemunha nem da promotoria e nem da defesa, ela era uma testemunha do juíz o que significava que ela não tivera contato com nenhum dos lados antes do julgamento. Ela estava ali apê as para contar o que se lembrava e não para ser favorável ou contrária à mãe. Atali se aproximou da mesa para começar o interrogatório.

-Camicazi. - Começou Atali com um tom de voz moderado e calmo que ajudou Camicazi a se acalmar. - Vamos começar pela sua idade. Quantos anos você tem?

Camicazi precisou se esticar para alcançar o microfone que estava sobre a mesa para responder.

-Treze.

Vendo a dificuldade da menina, Atali ajustou a altura do microfone, o abaixando o suficiente para que Camicazi conseguisse alcança-lo sem precisar se esticar o tempo todo.

-E você é a filha mais nova de Emily Vega, a mulher que estamos julgando aqui hoje?

Camicazi assentiu.

-Sou.

-Como é a sua relação com a acusada? - Camicazi olhou em direção à mesa onde a mãe estava e as duas se olharam por um momento. Camicazi percebeu que em toda a sua vida aquela era a primeira vez que olhava mãe nos olhos.

-Nós não nos falamos. - Respondeu. - Ela sempre foi muito distante.

-E como é a sua relação com Michael Hofferson?

-Eu só o conheci no dia em que tudo aconteceu, mas nos damos bem.

-O que aconteceu naquele dia?

-Era aniversário da Astrid, - Camicazi começou a contar e se ajeitou na cadeira - eu estava em casa e minha mãe estava no quarto dela. A Astrid chegou por volta das cinco com o Soluço e o Michael e nós conversamos por um tempo na sala.

-Sobre o que conversaram?

-Sobre o Michael e por que ele foi embora. Ele me pediu perdão e eu perdoei. Depois disso, Ast foi até o quarto da minha mãe para avisar que Michael estava lá, minha mãe saiu do quarto e Soluço e eu saímos de casa.

-Por quanto tempo ficaram fora de casa?

-Por umas duas horas. Estávamos voltando quando eu vi minha mãe saindo correndo da casa, dava pra ouvir a Astrid gritando, - Camicazi fez uma pausa e estremeceu, era como se ainda pudesse ouvir os gritos da irmã em sua cabeça - o Soluço me deixou no carro e pouco tempo depois chegou a ambulância.

-O que Astrid estava gritando? - Perguntou Atali e Camicazi precisou de um momento para conseguir que as palavras saíssem de sua garganta porque a memória da voz da irmã tão raivosa e desesperada era dolorosa e a assombrava à meses.

-Ela dizia "Sua assassina, eu te odeio". - A resposta de Camicazi fez a sala explodir em cochichos incrédulos, os jurados pareciam completamente desconcertados.

-Silêncio! - A voz alta do juíz fez a sala ficar em silêncio mais uma vez. Atali assentiu e sem mais perguntas voltou para sua mesa.

Foi a vez de Krogan de se levantar, o advogado tinha uma postura séria e intimidadora, mas Camicazi não se encolheria nem abaixaria a cabeça.

-Camicazi, você não estava lá no momento em que Michael levou a facada, correto?

Camicazi assentiu.

-Sim.

-Então não pode dizer com certeza que minha cliente foi quem desferiu o golpe?

-Não, eu só vi quando ela estava correndo pra fora da casa.

-Isso é tudo, Meritíssimo. - Krogan voltou para sua mesa sem dizer mais nada e Camicazi foi dispensada. O interrogatório de Krogan não tinha sido longo, mas tivera o resultado desejado pois já podia ver a dívida se formando nas cabeças dos jurados.

A lista de testemunhas parecia que não acabaria nunca. Haviam interrogado vizinhos, amigos antigos e pessoas próximas à família, tinham se passado oito horas desde o início do julgamento e tinham acabado de voltar depois de uma pausa de uma hora e meia quando Atali se levantou e se preparou para chamar a última testemunha do dia.

-Meritíssimo, a Promotoria gostaria de chamar Astrid Hofferson para depor.

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