Tarde demais

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19 de agosto, 21:12.

Astrid corria pelo Convés, lágrimas quentes queimavam seus olhos e embaçavam sua visão. Pessoas desesperadas corriam na direção oposta, membros da tripulação gritavam palavras que ela não entendia e precisou parar para se apoiar na torre de comando quando suas lágrimas foram fortes demais para controlar e sua respiração ficou mais difícil.

Ela não sabia o que estava acontecendo, não sabia o motivo do pânico, só sabia que Soluço não estava em lugar nenhum e precisava encontra-lo. Antes que seja tarde demais, o pensamento invadiu sua mente contra sua vontade e balançou a cabeça para se livrar do maldito pessimismo. Não seria tarde demais, ela o encontraria, a situação seria normalizada e os dois ririam de toda aquela tolice juntos dentro da cabine.

Secou as lágrimas de seu rosto e engoliu o resto do choro antes de correr novamente para as escadas que levavam para dentro do navio.

 13:45.

-Como eu estou? - Soluço se virou, tirando a atenção do artefato que tinha em mãos para olhar novamente para a namorada. Lá estava Astrid, com um elmo viking feito de tecido em cores vibrantes e um par de óculos de plástico em um tom de rosa neon.

Soluço não foi capaz de conter as risadas que atraiu os olhares das poucas pessoas na pequena loja, a atenção das pessoas não durou muito ao se darem conta de que provavelmente se tratava apenas mais um casal de recém casados e as risadas de Astrid se misturaram às do empresário.

-Está muito bem assim. - Disse ele uma vez que as risadas se acalmaram.

-Obrigada, - respondeu Astrid retirando os óculos e o falso elmo peitoral - estou pensando em usar da próxima vez que sairmos para jantar em Berk. - Ela se aproximou, colocando os óculos e o elmo dentro da sexta de compras que Soluço tinha em uma das mãos e o empresário sorriu.

Soluço notou que estava sorrindo muito nos últimos dois dias, tanto que achava que jamais poderia ser capaz de parar de sorrir outra vez - e sim, sabia que estava sendo apenas dramático, mas Astrid o fazia tão feliz que sequer se lembrava de como era uma vida sem ela.

-Vamos ou acabaremos perdendo o navio. - Astrid o tirou de seus pensamentos e os dois foram juntos para o balcão de pagamento da pequena loja. O navio tinha aportado na ilha Berserk na noite anterior e desde aquela manhã Soluço e Astrid aproveitavam o dia na cidade mais próxima do porto, mas o navio zarparia novamente em direção à Histeria em apenas duas horas e era apenas tempo o suficiente para voltarem para a embarcação.

A dona da loja atrás do balcão sorriu para o jovem casal que sorriu de volta e os dois saíram de mãos dadas da loja. O caminho até o porto não era curto, mas tinham tempo o suficiente para andar calmamente aproveitando o céu azul e o sol do verão das Ilhas Internas. Mas uma hora e meia depois, quando chegaram ao porto e Astrid se deparou novamente com a imensidão da embarcação, a loira sentiu um nó se formar em seu estômago e precisou morder a língua para não pedir ao namorado que ficassem na ilha e desistissem do cruzeiro, mas engoliu a tola paranoia, estavam no navio há dois dias e a viagem estava absolutamente tranquila, não tinha motivos para todo aquele drama.

-Aposto que chego na cabine antes de você. - Soluço sequer teve tempo de dar uma resposta antes de a loira soltar sua mão e correr em direção ao elevador. Soluço não perdeu tempo em correr atrás dela, mas o elevador já tinha se fechado.

Do outro lado do saguão um elevador se abriu e ele correu para entrar a tempo, não era a primeira vez que os dois corriam pelos corredores feito malucos e Soluço sabia que recebiam mais do que apenas alguns olhares raivosos ou risadas e sabia que se não fosse pelo capitão ser um velho amigo de Estoico, teriam sido expulsos do navio em um piscar de olhos. Astrid tinha acabado de sair do elevador quando o de Soluço se abriu do outro lado, o casal se encarou por longos segundos. Astrid, convencida de que venceria a aposta infantil por estar mais perto do corredor das cabines, não escondeu o sorriso presunçoso.

Astrid começou a correr primeiro, mas teve que parar poucos passos depois para não acabar esbarrando no carrinho do serviço de quarto sendo empurrado por uma !ulher de meia idade. Astrid saiu do caminho da mulher e esperou que a mulher passasse com o carrinho, quando o caminho estava livre outra vez, Astrid olhou para o corredor das cabines e escorado na parede ao lado da placa da Ala das Valquírias, o sorriso presunçoso de Astrid morreu na hora. O desgraçado tinha se aproveitado do inconveniente para conseguir a vantagem!

-Isso é trapaça! - Ela exclamou com os punhos cerrados e por mais que Astrid não tenha conseguido ouvir, sabia que Soluço ria e quis joga-lo para fora do navio. Soluço foi quem correu primeiro e indignada Astrid correu também murmurando ofensas e debatendo se seria melhor joga-lo pier ou esperar até que o navio estivesse em alto mar.

Soluço já estava dentro da cabine com a porta aberta quando Astrid o alcançou, ele estava do outro lado do quarto pegando taças de champanhe como se tivesse algo a comemorar e a loira fez questão de fechar a porta com força, mas Soluço pareceu não ligar para a birra que a namorada fazia e sua falta de atenção apenas serviu para piorar a situação. Astrid se sentou na cama e retirou as sandálias dos pés, sem dizer nada pegou um dos travesseiros que estavam na cama e jogou na direção do empresário, o atingindo na cabeça antes de cair no chão.

Largando as taças no balcão, Soluço se abaixou para pegar o travesseiro e o jogar novamente na loira que mexia no celular encostada na cabeceira da cama, o travesseiro a atingiu no rosto e Soluço riu do susto que ela levou com o impacto.

-Padre com isso! - Astrid exclamou pegando a primeira almofada que viu e jogando boleto novamente, mas nem mesmo o impacto de um novo "golpe" foi capaz de acabar com suas risadas.

-Foi você quem começou! - Argumentou ele ao jogar a almofada nela outra vez.

-Você começou quando trapaceou! - Ela disse em tom acusatório jogando mais um travesseiro em direção a ele, mas dessa vez Soluço conseguiu pegar o travesseiro antes que fosse atingido.

-Você trapaceou primeiro! - Acusou ele.

-Não trapaceei, não! - Astrid se defendeu ofendida.

-Trapaceou sim!

-Não trapaceei!

-Trapaceou!

-Não trapaceei!

20:50.

Astrid duvidava que se cansaria dos jantares no navio. A culinária era ótima, a atmosfera perfeita e a companhia melhor ainda. As noites eram sempre calmas e normalmente o casal se divertiria no cassino ou em alguma outra área do navio até altas horas da madrugada, mas naquela noite Astrid não queria ficar cercada por pessoas que não conhecia. Voltar para a cabine foi algo natural que não precisou ser dito e os beijos quentes, profundos e molhados começaram antes mesmo que abrissem a porta.

A distância até a cama era curta e logo Astrid caiu sobre os travesseiros com Soluço sobre ela. As pausas para respirar duravam poucos segundos e mãos experientes vagavam por qualquer pedaço de pele exposta que encontrassem. Os beijos eram cada vez mais desesperados e nenhum dos dois podia negar que quanto mais tempo ficavam juntos, mais queriam ficar juntos. No navio não precisavam se preocupar com os paparazzi ou com o que as pessoas iriam dizer, não havia eventos que precisavam comparecer, não havia as responsabilidades da Haddock.Corp e nem todo o drama que era a vida de Astrid ultimamente, apenas precisavam se concentrar um no outro e a felicidade que aquilo trazia era completamente viciante.

Um alto barulho veio do lado de fora e o casal se separou ao sentirem o navio balançar violentamente, Soluço saiu de cima de Astrid e a loira se sentou na cama.

-O que foi isso? - Astrid perguntou alarmada.

-Fique aqui, eu vou ver o que aconteceu. - Astrid assentiu e Soluço saiu do quarto depois de lhe beijar a testa.

Um nó se formou em seu estômago e um mau pressentimento a invadiu, mas respirou fundo e se deitou novamente na cama, Soluço certamente voltaria logo com respostas e estava certa de que não seria nada demais. Astrid se convenceu de que tudo voltaria ao normal, não querendo acreditar que naquela noite toda a beleza e magia do majestoso Fúria de Thor chegava ao fim.

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