Exilado

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Ilha de Bog, janeiro de 2011.

-Já disse que não. - O homem disse novamente, dessa vez mais insistente, ganhando um grunhido descontente da menina. - Se o chefe me pegar te dando bebida, vou ser um homem morto!

-O chefe pode ir se foder, eu só quero uma dose de tequila. - Disse já irritada. Não era justo, todo mundo no cassino bebia, exceto ela por "ser nova demais". O homem atrás do balcão, limpando um copo de vidro, riu.

-Se ele te pegar falando essas coisas, quem vai estar fodida é você. - Ele disse com bom humor e ela suspirou.

-Eu bem que queria. - Ela murmurou alto o suficiente para ainda ser ouvida pelo bartender, que riu alto.

-Você não tem jeito, Heather. - Disse o homem balançando a cabeça e Heather sorriu.

-Isso quer dizer que vai me dar uma dose? - Heather perguntou com o sorriso mais encantador que tinha, esperando persuadir o bartender.

-Não. - Ele respondeu novamente, apagando o sorriso dos lábios da morena.

-Vai se foder, Selvagem. - Selvagem revirou os olhos.

-Por que ao invés de me enxer o saco você não vai trocar de roupa? Você sabe que o chefe não gosta que você use as roupas das dançarinas.

Heather deu de ombros, despreocupada.

-Mas o chefe não está aqui.

Selvagem não respondeu mais. Ele não era pago pra ser a babá de Heather, se ela quisesse se vestir como uma das strippers, não seria ele quem tentaria convencê-la do contrário. Heather trabalhava no cassino como garçonete há um ano e desde que começou, sempre queria ser dançarina, mas o chefe - Viggo Grimborn - não deixava por Heather ainda ser menor de idade, atualmente com dezessete anos. Viggo não gostava que Heather se vestisse com as roupas das strippers e ninguém no cassino sabia bem o por quê - Selvagem tinha quase certeza de que os dois estavam transando, mas aquilo não era da sua conta -, ela também não podia beber e como garçonete servia apenas clientes muito específicos à pedido do próprio Viggo.

Sabendo que não conseguiria nada do bartender, Heather se afastou do balcão. Selvagem era um imbecil, mas tinha razão, Viggo chegaria logo e não podia nem sonhar que Heather andava por aí vestindo as roupas das dançarinas. Heather tinha se conformado que não seria uma das dançarinas, mesmo completando a maior idade em apenas dois dias, Heather tinha outros planos para sua vida adulta e esses planos não podiam envolver strip tease.

O cassino abriria em apenas duas horas, então Heather voltou para o vestiário e começou a se aprontar para mais uma noite de trabalho.

O cassino era sempre muito movimentado e bem frequentado por pessoas de requinte, a área de strip ficava separada do resto do cassino e, por mais que Viggo não gostasse que Heather frequentasse aquela área em particular, ele deixava que Heather ficasse ali por uma ou duas horas assistindo as outras meninas dançarem para uma multidão de homens e mulheres.

Heather sabia quase todas as coreografias apesar de não poder praticar nenhuma. Em. Um canto escuro e afastado do palco, Heather observava as acrobacias que as meninas faziam no enorme pole prateado, a música era alta e as luzes baixas, mas não era um incômodo. Heather revirou os olhos ao sentir a presença masculina familiar ao seu lado.

-Já vou voltar ao trabalho, Ryker. - Ela disse em um tom monótono. Ryker era o irmão mais velho e Viggo e era ele quem se encarregava que os funcionários estivessem fazendo eu trabalho, enquanto Viggo lidava com os clientes e as finanças do cassino.

Diferente de Viggo, Ryker era violento e no início Heather tinha medo dele, mas isso foi antes, agora Heather sabia que Ryker não podia tocar em sequer um fio de cabelo seu, mas isso não significava que ela podia simplesmente ignorar suas ordens.

-Ele quer te ver. - Disse Ryker é Heather nem se esforçou para evitar o sorriso torto e presunçoso que apareceu em seus lábios. - Agora. - Ryker disse em tom autoritário e Heather deu de ombros.

-E quando é que ele não quer me ver? - Ryker grunhiu em desgosto, e sem dar atenção, Heather se virou de costas e saiu.

2018

-Um mês é o suficiente? - Viggo perguntou e sem mais forças para responder, Heather apenas assentiu. Os dois estavam em uma espécie de escritório que ficava ainda no convés do navio, como todo o cassino, o escritório também era temático. Com móveis de madeira e enfeites de metal e uma falsa cabeça de dragão empalhado atrás da cadeira de Viggo.

-Eu ainda preciso falar com a Astrid, mas deve ser o suficiente. - Heather respondeu depois de seu cérebro voltar a funcionar. - Onde esteve esse tempo todo? - Heather perguntou com a voz mais baixa do que deveria. Viggo tinha desaparecido há sete anos sem dar notícia alguma. O empresário se recostou em sua cadeira e seus olhos mantiveram o contato visual com Heather.

-Fui levado para a Ilha dos Exilados, fiquei lá até provar minha inocência. - Respondeu. A Ilha dos Exilados é uma ilha prisão de segurança máxima, era usada como prisão desde os tempos vikings, apenas os criminosos mais perigosos ficavam lá e os presos eram completamente isolados do mundo exterior.

-Então acabou? - Perguntou esperançosa e Viggo sorriu.

-Sim, minha querida. Acabou.

♠️

-Já sabe o que vamos fazer no seu aniversário? - Merida perguntou e Camicazi deu de ombros, continuando a colocar os materiais, que estavam dentro do armário, na mochila.

-Eu provavelmente só vou ficar em casa. Comecei assistir uma série na Netflix e preciso terminar a temporada.

Hans e Merida reviraram os olhos.

-Deve ter alguma coisa que você queira. - Hans insistiu. Camicazi parou, fechou o armário e se inclinou na porta de ferro, ficando de frente para Hans, erguendo a cabeça para conseguir olhá-lo nos olhos.

Merida segurou o riso, as duas haviam ficado com Hans o dia todo e ver as interações entre a melhor amiga e o garoto era uma das coisas mais divertidas que Merida já tinha presenciado - e era de graça!

-Pensando bem, tem uma coisinha que eu quero. - Hans engoliu em seco. Merida mordeu a língua. - Uma vez eu achei uma caixa de chocolates na casa do meu cunhado e era tão bom que eu comi a caixa inteira escondida, mas esqueci o nome dos malditos chocolates. - Ela respondeu. - Mas de vocês especificamente, eu não quero nada. - Camicazi deu de ombros e Merida pôde ver o momento exato em que Hans saiu do transe sob o qual Camicazi o tinha. Os olhos da ruiva se encheram de lágrimas pelas risadas suprimidas e precisou respirar fundo para se recompor.

Camicazi tirou o celular do bolso ao sentir o aparelho vibrar e sorriu com afeto ao ver uma mensagem do cunhado, a avisando que já tinha chegado para buscá-la. Guardou o celular novamente no bolso e seu sorriso não se desfez.

-Minha carona chegou, vejo vocês amanhã. - Disse e em seguida se virou para Hans novamente. - E você, Senhor Valentão, não arranje mais brigas por aí.

Hans sorriu e bateu uma continência irônica.

-Sim, senhora. - Camicazi riu e balançou a cabeça, mas não disse mais nada e saiu de prédio. Com Camicazi já distante, Merida foi capaz de soltar as risadas altas que ecoou por todo o corredor.

Sugar DaddyOnde histórias criam vida. Descubra agora