Lobos na floresta | Livro 1 | Concluído

4

Aiko e um tênue brilho dourado

  O sol frio irradiava pela janela, na lareira algumas brasas ainda lutavam para se manterem acesas enquanto uma jovem dormia desajeitadamente sobre uma cadeira velha. Iani acordou com os primeiros raios do sol, as costas doendo e o corpo frio, sua manta havia aquecido um pouco a noite mas ainda estava exausta, passar horas sentada não era confortável, no entanto, se sentia grata por saber o motivo que a fez apagar ali mesmo. O olhar ainda disperso varreu o cômodo frio, há essa hora já estaria de pé indo ver o nascer do sol mas hoje tinha uma missão mais importante.

O filhote...

A preocupação com o animal machucado a fez dormir tarde mas isso não atrapalharia sua determinação. Preguiçosamente esticou o corpo sentindo os ossos estalarem até que algo sobre seus pés chamou a atenção. Era quente, macio e pequeno.

—Ei!Você não deveria estar aqui.

O lobinho se remexeu, esticou o focinho, abriu os olhos azuis e a encarou por um longo tempo.

—Está machucado, não pode ficar se movendo tanto.

Mais uma vez, como se a entendesse, o pequeno se virou deixando uma grande cicatriz visível

—Mas como...

O emplastro que Lara tinha lhe ensinado a fazer era bom mas não se lembrava de ser milagroso a esse ponto.

—Incrível...

Ambos se encararam, olhos azuis e castanhos fixos uns aos outros. Iani começava a duvidar se o lobo a sua frente era realmente apenas um animal comum da floresta enquanto o pequeno tinha certeza que aquela garota era diferente de tudo o que havia ouvido ou conhecido sobre os humanos.

—De qualquer forma... — ela se recompôs — Você deveria estar descansando na cama, não no chão.

Como se ignorasse o que ela dizia o filhote voltou a enroscar o focinho entre a pelagem do corpo.

—Está bem — suspirou — Se prefere assim...

Completamente desperta Iani se colocou de pé, incomodado o filhote saiu de perto dos calçados gastos voltando a se deitar próximo da cama.

—Quer que eu te ajude a subir?

Um breve olhar azul encontrou com o dela antes do pequeno se encolher e saltar aterrissando pesadamente sobre a colcha de trapos.

—Fico feliz que esteja se recuperando rápido.

Rápido até de mais...

Sem dar muita atenção o animal simplesmente voltou a dormir.

—Bom, enquanto você descansa —  seus olhos foram até a pilha de lenha já vazia — Eu preciso sair.

Um focinho branco se ergueu no ar.

—Fique quietinho tudo bem?Assim ninguém vai encontrá-lo.

Com passos firmes a jovem foi até o armário onde retirou uma echarpe velha cobrindo o pescoço. Partículas de poeira subiram ao ar dançando em meio aos feixes de luz enquanto seu corpo atravessa o cômodo até a porta, no entanto, antes de virar a maçaneta um vulto branco se colocou novamente entre seus pés.

—O que foi?

O intenso par de olhos azuis se fixou aos dela como se temesse por algo.

—Você ainda precisa descansar.

O filhote não se mexeu.

—Ir lá fora pode ser perigoso!E se o caçador te ver?!

Como uma estátua ele permaneceu ali.