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O que só ela viu

Os dois pares de calçado faziam toc toc conforme Iani e Mary andavam de um lado para o outro dentro do quarto. Através da janela o sol quente da tarde iluminava os moveis realçando os detalhes de lobos e flores entalhados na madeira.

—E agora Mary? Onde vou encontrar outro vestido?

A pequena estava com a mão no queixo e os olhos perdidos em algum ponto imaginário. Vendo-a daquele jeito, até parecia com uma adulta.

—Vamos dar um jeito.

—Como isso foi acontecer? — a jovem encarou o amontoado de tecidos sobre a cama.

Mesmo que a curiosidade em descobrir o responsável fosse grande, e algumas suspeitas martelassem dentro da cabeça dela, Iani tinha que pensar, antes de qualquer coisa, em uma forma de resolver o problema. 

—A senhora Clycia tem vários vestidos...

Não havia animo na voz da Mary. O que era compreensível.

—Não acho que serviriam em mim...

Foi a melhor desculpa que Iani encontrou para dispensar aquela ideia. Depois do ocorrido no almoço ela não gostaria de ter que falar com Clycia tão cedo, muito menos pedir ajuda da irmã do seu anfitrião. 

—Posso tentar ver com algumas das outras mulheres — a garotinha segurou o próprio vestido — Só não garanto que elas vão querer falar comigo...

Iani havia sido a única nobre simpática que Mary conheceu, todas as outras a olhavam com desdém ou simplesmente fingiam que ela não estava ali. 

—Obrigada Mary, mas não precisa se dar a esse trabalho por mim.

O almoço com Clycia já havia demonstrado que as outras convidadas não simpatizavam com Iani. Pedir uma roupa emprestada seria um grande motivo de fofocas além de uma oportunidade e tanto para caçoarem dela. Não que Iani se importasse com isso, mas ela não podia esquecer que sua imagem estava, de alguma forma, ligada a Aaron.

—Não se preocupe, vamos pensar em alguma coisa!

Mary sorriu, um sorriso que aqueceu o coração da jovem humana. 

—Enquanto isso você precisa se arrumar para o chá da tarde, logo o senhor Aaron deve aparecer aqui.

Por um momento Iani havia se esquecido completamente do convite. 

—Tem razão... 

Ela respirou fundo. Não estava nem um pouco animada com aquilo, principalmente sabendo que não iria conseguir fazer nada em relação ao vestido estando ocupada com o chá. Uma ponta de desespero começava a crescer dentro do seu peito quando um toque suave a despertou. Mary estava do seu lado, os olhos castanhos brilhando junto de um sorriso leve e doce.

—Vou te ajudar, então não fique tão mal senhora...

Com o coração quentinho Iani se abaixou puxando Mary para um abraço. De início a garotinha se assustou com aquela atitude mas não demorou muito para se aninhar no peito da nobre humana. Iani era quente, aconchegante e acolhedora, uma mistura de sentimentos que Mary jamais havia conhecido antes e que fazia ter vontade de nunca mais sair de perto dela.

—Você é um amor Mary, não deveria ser uma serviçal...

—Não me importo com isso — ela a apertou ainda mais forte — Pelo menos assim pude te conhecer.

Com uma estranha vontade de chorar Iani continuou abraçada com a garotinha por longos minutos até que ambas se afastassem. Por algum motivo, o clima havia se tornado mais leve, mesmo que o problema ainda continuasse ali.

Lobos na floresta | Livro 1 | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora