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Uma visita de urgência

 Depois que os dois líderes saíram, Aiko apareceu na porta com o olhar meio receoso, ele ainda usava a coleira de flores e caminhava com as orelhas baixas enquanto Iani o observava com uma cara nada feliz.

—Entre logo Aiko — ela foi direta — Temos que conversar.

Por um instante ele parou, como se juntasse todas as suas forças para seguir em frente, até que seu corpo passou totalmente pela porta.

—Eu...

—Você fez algo muito feio senhorzinho.

Iani não deixou que ele terminasse, dessa vez tinha que ser dura com o filhote.

—Onde já se viu! Prender a mim e ao seu irmão, o líder desse reino!

Ele não dizia nada, apenas escutava em silêncio.

—Se Aaron lhe desse uma punição severa estaria em total razão.

Rapidamente ele levantou sua cabeça a encarando com desespero.

—Por favor, não deixe que meu irmão faça nada comigo!

—Ele não vai, conversamos sobre isso.

Iani respirou fundo, sua conversa estava mais para uma discussão séria, mas pelo menos ela tinha certeza que depois daquilo Aaron pegaria leve com o lobinho.

—Me desculpe...

A voz do filhote estava baixa e cheia de arrependimento.

—Eu só queria ajudar...

Naquele momento toda a postura severa de Iani se desfez. Estava mais do que comprovado de que aquele lob8inho era seu maior ponto fraco, principalmente quando fazia aquela cara de arrependido. 

—Aiko...

Se apoiando nos joelhos, Iani se abaixou até ficar mais perto do filhote. O tapete arranhava sua pele mas ela simplesmente ignorou o incomodo se concentrando no pequeno lobinho.

—O que eu havia lhe dito sobre não se preocupar com esses assuntos?

—Eu sei, mas eu fiquei com medo...

—Medo do quê?

Os olhos azuis se voltaram para ela, brilhantes e tristonhos.

—De que vocês nunca mais se entendessem, se apaixonasse por outro e fosse embora...

Ela ficou sem reação.

—Já perdi minha mãe... não quero te perder também.

Aquelas palavras cortavam o coração da jovem humana como facas. Ela nunca imaginou que algo tão terrível estivesse perturbando aquele filhote. Com o coração doendo, ela esticou a mão puxando-o para mais perto, onde se sentou no chão e o aconchegando em seu colo como uma criança assustada.

—Toda noite eu sonho com ela ... mas quando acordo, ela não está aqui...

Iani acariciou a pelagem macia pensando em como ele deveria se sentir. Uma criança jamais deveria passar por algo do tipo. Mesmo que fosse uma criança metade lobo.

—Iani?

Sua voz estava inda mais baixa e melancólica, como se segurasse o choro.

—Sim?

—Teria problema...

Ele parou, como se pensasse se devia ou não continuar.

—Se eu te considerasse como minha mãe? Mesmo se casasse com meu irmão, ou fosse embora... poderia ser minha mãe nem que seja por alguns instantes?

Iani estava destruída por dentro. Instintivamente ela o abraçou apertado afundando o rosto na pelagem branca deixando as lágrimas caírem.

—É claro Aiko... é claro que sim...

• • •

Do outro lado do castelo, em uma sala abarrotada de livros e pergaminhos, os dois líderes se reuniram com uma tensão gélida entre eles.

—Seja breve.

Aaron se sentou atrás de sua mesa pegando uma longa pena e abrindo um rolo de papel, quase como se dissesse, mesmo que discretamente, que não queria manter nenhum tipo de contato visual com o homem a sua frente. Dave por sua vez, preferiu ficar de pé. Ambos com o semblante fechado e descontente com aquela situação. 

—Estamos com problemas.

—Curto e breve? — Aaron ergueu uma das sobrancelhas mas sem tirar os olhos do pergaminho — Confesso que é no mínimo incomum vindo de você.

Dave cruzou os braços na frente do peito respirando fundo, sabia que sua presença ali não era bem vinda depois do que ocorreu na festa, mas o assunto era importante.

—Alguns reinos estão um tanto descontente com sua atitude.

—A qual delas você se refere?

—Sabe muito bem do que estou falando.

—Isso não é motivo de urgência para você vir até aqui, logo eles vão esquecer que há um humano entre nós.

Dessa vez o homem de olhos verdes decidiu se acomodar em uma das poltronas.

—Eu até gostaria de acreditar, se não fosse por isso.

Pela primeira vez desde que entraram na sala Dave conseguiu arrancar a atenção de Aaron para o envelope que tirou do casaco. A folha estava amassada e suja. 

—O que é isso?

Sem lhe dar uma resposta, Dave abriu o papel e começou a ler.

"Em nome dos habitantes da parte mais profunda da floresta, solicitamos a presença daqueles que dizem acolher consigo uma pessoa que veio além do véu. Se o humano que dizem ser pacifico não é uma ameaça para todos os outros reinos, então devem apresenta-lo sem ressalvas. Atenciosamente, Lios."

Ao terminar, os olhos dourados estavam fixos na folha de papel, inflamados de preocupação.

—Imagino que agora entendeu a urgência da situação.

Dave guardou o envelope de volta no bolso.

—Droga.

Em um gesto repentino, Aaron ficou de pé caminhando em direção a um dos vitrais.

—Aqueles malditos...

—Não pode negar o pedido deles, sabe muito bem que isso acabaria em uma grande confusão, e já temos problemas de mais para lidar com a falta de comida.

Os olhos dourados se perderam na paisagem da floresta, se concentrando na parte mais vasta onde aquela carta havia sido escrita.

—O que sugere?

Ambos se olharam fixamente, a raiva que nutriam um pelo outro ainda não havia desaparecido, mas a situação exigia que aquele sentimento ficasse de lado, pelo menos por enquanto.

—Que tal irmos juntos, não há como ignorar a voz de dois líderes. 

—Certo, mas também vamos precisamos levar Iani.

—Quer que eu a leve para a toca do Leão? 

—Também não gosto dessa ideia, mas se Iani for deixará claro que não existe ameaça alguma, quer prova maior do que isso?

—Está bem Dave, mas me diga...

Os olhos dourados brilhavam.

—O que acontecerá se eles não acreditarem?

—Então é bom nos prepararmos...

Lobos na floresta | Livro 1 | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora