Lobos na floresta | Livro 1 | Concluído

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Mahala

Iani seguiu Aiko por longos caminhos de flores e pedras até se aproximarem da floresta que crescia a perder de vista em direção ao céu, a cada passo dado por entre as árvores a garota sentia arrepios involuntários tomarem conta do seu corpo assim como uma sensação angustiante, quase como se não conseguisse respirar.

—Não acha melhor voltarmos Aiko?

—Estamos quase chegando.

—É seguro se afastar tanto?

—O lugar não fica longe — o pequeno virou o focinho para trás encarando a garota — Está com medo?

—Eu não diria medo...

Iani abraçou o próprio corpo sem saber de onde vinha aquela estranha sensação.

—Não se preocupe, não tem nada aqui para nos machucar, essa parte da floresta está dentro dos domínios do meu irmão e já estamos chegando.

Aiko continuou despreocupado pulando rochas e troncos enquanto Iani o seguia com um nó cada vez maior se formando em sua garganta, quando achou que não seria mais capaz de suportar aquela sensação de aperto no peito as árvores ao redor começaram a diminuir até que uma pequena clareira de grama alta surgiu, no centro do círculo verde uma enorme estátua estava de pé, parecia algo muito antigo, tanto quanto o próprio tempo e mesmo sem uma cabeça e parte do tronco Iani conseguiu definir a silhueta de uma mulher.

—Chegamos! — Aiko correu até o centro da clareira — Vem!

Mesmo quebrada aquela estátua exercia uma pressão esmagadora. Iani continuou parada por longos segundos apenas a admirando. Conforme o tempo passava o aperto no peito e o nó na garganta da garota abriam espaço para um sentimento novo, um na qual nem mesmo ela saberia dizer. Era apenas uma familiaridade. Uma curiosa familiaridade.

—Iani!

—Já estou indo!

Tentando não tropeçar nas pedras ou pisar nas flores a jovem foi ao encontro do lobinho que estava largado no chão, o corpo amassando a relva enquanto girava de um lado para o outro.

—O que está fazendo?

—Me coçando.

—Pulgas?

—Eu não tenho pulgas!É só coceira.

—Parece divertido.

Enquanto Aiko continuava rolando no chão Iani aproveitou para observar de perto a estátua coberta por folhagens e rachaduras. A pedra na qual havia sido esculpida era branca e lisa, nada que já tivesse visto antes, no dorso nu algumas figuras haviam sido gravadas assim como na base, bem abaixo dos pés descalços.

—Mahala — as palavras saltaram da boca da garota antes que ela mesma percebesse.

—Você consegue ler? — Aiko parecia surpreso.

—Acho que sim — Ela olhou os outros símbolos mas estavam apagados pelo tempo.

—Legal!Não sabia que você falava línguas antigas!

—Eu não falo, bom, não que eu saiba...

Novamente Iani sentiu o mundo girar. Aquela seria mais uma das novidades que a manteriam noites e mais noites em claro.

—Afinal de contas — a jovem sacudiu a cabeça tentando acalmar os pensamentos — Quem é Mahala?

—Mahala é um dos espíritos guias que veio ao nosso mundo há muitas eras atrás — o filhote arrumou a postura encarando a estátua — Aaron me disse que seu papel foi restaurar a paz e colocar fim A Guerra dos Reinos, e ela conseguiu, mesmo que tenha morrido no final.