Tem um garoto no sótão

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Maria de Lourdes

— Ótimo. Ele desmaiou. Está feliz agora? — A garota perguntou, ácida e raivosa, enquanto observava o corpo estirado de Felipe.

— Aquela coisa que coloca na salada resolve — o menino respondeu. — Ele não vai morrer por causa de um doce misturado com alguns litros de vodca e Catuaba.

— Ah, então foi isso que deu a ele? LSD, vodca e Catuaba? — Lola levantou e começou a se dirigir à porta do banheiro. Se continuasse ali, mais alguém ficaria desacordado naquela noite. — Vou atrás de Juno. Não saia daí.

Aquela área estava vazia. O local para o qual ela havia levado Felipe estava interditado. Por sorte, Lola conhecia todo o condomínio. O problema era que o sinal de celular era péssimo ali, no subsolo. Então ela teria que subir para falar com Juno. Nem queria imaginar a reação da sempre certinha Juno.

O irresponsável do Luan dera drogas e álcool a Felipe, que nunca tinha tomado nada mais forte que remédio para gripe em toda sua vida. Agora, o garoto estava estirado no chão de um banheiro sujo e interditado. Já havia vomitado e desmaiado, e Lola não sabia o que fazer. Luan também não ajudava muito, só sabia rir da situação como se não fosse nada demais.

A única coisa, ou melhor, a única pessoa em quem conseguia pensar naquele momento era Juno.

Apesar de terem se afastado um pouco no ano anterior, Juno era uma das suas melhores amigas. Mesmo que não se falassem muito agora, sabia que ela era a única que poderia ajudar a tirar Felipe dali em segurança. Os anos de amizade teriam que servir para alguma coisa. Além do mais, a festa estava acontecendo no prédio dela.

— Eu preciso da sua ajuda. É urgente — disse, quando avistou Juno dançando num canto isolado.

— O que tá rolando? — Ela perguntou, se aproximando de Lola. Parecia curiosa e preocupada ao mesmo tempo.

— Eu trouxe uns amigos. Um deles ficou chapado e agora está desmaiado no banheiro. — Lola tentou fazer parecer algo normal. — Você sabe... O de sempre.

— O de sempre — Juno concordou, como se tivesse entendido tudo. — Onde ele está?

Lola explicou para onde tinha levado Felipe, rapidamente. Juno pediu para que ela descesse, prometendo que a encontraria lá em baixo logo. Lola apenas concordou. Era o mínimo que poderia fazer. Ainda mais quando a culpa por tudo aquilo era sua. Como sempre era. Nos velhos tempos. Na época em que eram mais próximas.

Algumas coisas nunca mudariam.

Levou quase uma hora até Juno chegar. Ela estava com outra roupa e parecia cansada. Provavelmente, Lola havia acabado com a festa da garota. Contudo, Juno não parecia se importar tanto. Desde quando começaram a se afastar, ela só aparecia naquele tipo de festa quando era obrigada a ir.

— Você me salvou. De novo. — Lola abraçou Juno assim que a viu apontar no corredor do sótão.

— Sem problemas. Eu estou acostumada.

Um silêncio momentâneo pairou sobre elas. A sombra de um passado, de quando elas eram próximas, se fez presente. Lola logo tratou de afastá-la. Não precisava de nostalgia naquele momento.

— Achei melhor deixar ele aqui, no porão interditado, longe de toda bagunça — ela começou a falar, tentando se explicar. — Luan está cuidando dele. Que Deus não tenha deixado ele fazer nenhuma besteira.

— Quem é Luan? — Juno perguntou.

— Um cara que eu conheci hoje. — Abriu uma porta. — E aqui estamos.

Ovelhas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora