Maria de Lourdes
— Felipe! Felipe! Volta aqui! — Lola saiu gritando atrás dele, contudo, o menino se misturou à multidão de alunos que abarrotava os corredores do colégio.
Sentiu as lágrimas queimarem seus olhos. Por mais que tentasse segurá-las, elas teimavam em cair. O gosto salgado salpicou seus lábios e ela cerrou os olhos. Ainda assim, elas grudavam nos cílios e continuavam a escorrer pelas bochechas. Alguns alunos passavam, olhando-a com curiosidade. Outros voltavam seu caminho e a encaravam descaradamente, sem acreditar que Maria de Lourdes estava chorando em público.
Ao perceber os olhares, ela sentiu algo dentro de si queimar. Uma sensação de raiva misturada com vergonha e orgulho ferido foi apoderando-se dela. Era tão forte que a sensação de náusea voltou. Junto, vinha uma vontade de gritar, berrar, bater em alguém. Todos esses sentimentos chegavam até ela em ondas e se misturavam. Lola não estava aguentando mais.
Passou a mão pelos olhos, limpando as lágrimas e, num impulso, saiu correndo. Não via para onde ia. Seus pés apenas a levavam cegamente para o lugar mais longe dali. Maria de Lourdes ainda sentia as lágrimas descendo pelos seus olhos. Elas embaçavam sua visão. Só percebeu onde estava quando escorregou para a grama no parque infantil da escola.
Ali, na solidão da parte infantil do seu colégio, ela desabou ainda mais. Chorava alto e sentia seu peito subir e descer. Não sabia o que estava acontecendo consigo. Sua mente estava uma confusão. Não sabia por que estava tão abalada com aquilo. Normalmente ela apenas daria de ombros e seguiria em frente. Afinal, não era isso que ela sempre quisera? Desde o início, não queria acabar com aquela palhaçada de namoro falso e todos os perigos que aquilo trazia? Especialmente depois de descobrir que o pai de Luan conhecia o pai de Felipe? Não estava mais se entendendo.
Não conseguia mais ser indiferente com Felipe. Quando isso havia acontecido? Deve ter sido quando percebeu que já havia perdido sua melhor amiga. Não queria perdê-lo também, talvez.
Aquele garoto foi o primeiro que a viu através de todos os seus defeitos, de toda aquela pose de menina independente. E ele gostou do que viu. Gostou até dos defeitos horrorosos que ela tinha. Desde Eric. Ou foi o que Gabriel a fez acreditar com aquela conversar boba, e mentirosa de que Felipe estava apaixonado por ela.
Provavelmente ela estava assim por conta disso. Talvez porque ninguém se apaixonara por ela desde Eric... Talvez, ela finalmente tivesse percebido que poderia ser amada e isso foi-lhe tirado. Talvez ela estivesse sendo apenas egoísta.
Ver Felipe saindo por aquela porta foi como perder parte de si — porque ela sabia, com absoluta certeza, que ele jamais voltaria a olhar na cara dela. Felipe foi embora com sua melhor parte. Do mesmo jeito que seu pai fora. Do mesmo jeito que Eric foi, quando ela teve que deixá-lo.
Será que era por isso, também, que ela se importava tanto? Por que criou uma expectativa inexistente que foi quebrada minutos depois de criada?
Claro que ela sempre teria Luan, porém seu relacionamento com Luan era diferente. Eles eram iguais. Felipe não a tornava melhor, apenas acentuava suas melhores partes. Luan a ajudava a brilhar, mas não era um brilho do qual ela se orgulhava. Era a parte dela que não se orgulhava mais. Lola chorou mais ainda.
— Você esqueceu lá em cima.
Ela olhou para cima para ver quem estava falando. Entretanto, antes que enxergasse o rosto de seu interlocutor, viu uma mochila estendida à sua frente. Era a sua mochila. Uma mão pálida e sem corpo a segurava. Ela puxou a mochila e fechou os olhos. Sua visão estava anuviada devido a todo aquele choro.
Antes de tornar a abri-los, ela sentiu o calor de um corpo que não era o seu. Também sentiu o cheiro do perfume do único amigo que lhe restara. Ela deitou a cabeça no ombro dele, ainda de olhos bem fechados. Luan passou o braço em volta de seu corpo e a puxou para mais perto.
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Ovelhas Negras
Teen FictionO garoto popular. A garota problema. O nerd. Três adolescentes com absolutamente nada em comum. Uma noite. Uma festa. Um problema. Foi o suficiente para unir os três. Juntos, eles percebem que tem mais em comum do que apenas famílias tradicionais e...