Lola é um mistério a ser desvendado

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Felipe

Ele pegou o casaco. Nem estava fazendo frio. Era mais por hábito. Quando já estava na porta, lembrou-se de avisar ao pai que estava saindo. Gritou, dali mesmo, algo sobre ir à casa de Maria de Lourdes. Não ouviu a resposta, porém sabia que Alberto não o impediria.

O pai de Felipe estava mais feliz desde que descobrira a existência da namorada do filho. Ele só não sabia que era tudo uma grande mentira. E era melhor que não soubesse mesmo. Felipe pressentia isso. Alberto não gostava de ser enganado. Ainda mais por uma garota — ele não admitia que mulheres fossem mais inteligentes que ele ⸺ e com a ajuda de seu próprio filho.

A confusão estaria armada caso Alberto desconfiasse do que realmente estava acontecendo.

Era para manter as aparências que Felipe estava indo à casa de Lola. Seu pai pedira, ou melhor, exigira conhecer oficialmente a garota. Felipe enrolou durante toda a manhã, na escola, e o resto do dia também. Contudo, uma hora teria que dizer isso à Maria de Lourdes. Conhecendo a menina, seria melhor antes.

Estava andando pelas ruas da cidadezinha, já deserta àquela hora, quando percebeu que não sabia direito para onde ia. Ao ligar para Gabriel, para descobrir, ele explicou de um jeito bastante complicado e confuso. Lara nem sabia e Juno se recusava a falar. Os outros colegas não faziam ideia de onde Lola morava. O que era bem estranho, já que viviam numa cidade pequena.

Quando chegou à praça do centro da cidade, teve certeza de que havia tomado o caminho errado. Na explicação maluca de Gabriel, em nenhum momento ele acabaria ali. Já se dando por vencido, Felipe ligou para Lola. Já que ela era a única que sabia onde morava, então nada mais justo que fosse ela a lhe dar essa informação.

— Pra quê você quer saber isso? — Lola perguntou, desconfiada, do outro lado da linha, após passar o endereço.

— Pra nada não. — Ele desligou o celular, imediatamente, para não precisar responder.

Com o endereço em mãos, percebeu que não estava muito distante do destino. Gabriel que havia explicado tudo da maneira mais difícil e longa. A praça era uma forma de cortar caminho que, por acaso, ele utilizou. Bastava atravessar a rua, descer uma ladeirinha e virar à direita. Pronto. Estaria na rua da casa de Lola.

E lá estava ele. Na esquina da casa dela. Às sete da noite. Parado. Sem coragem de prosseguir. O que iria fazer ali, naquela noite, era muito sério. Mesmo que aquele não fosse um relacionamento de verdade. Felipe nunca antes levara uma garota para conhecer seu pai. Se Lola aceitasse, seria a primeira vez.

Estranhamente, ele se viu desejando que ela aceitasse, apesar da raiva que ainda sentia.

Criou coragem e caminhou em direção ao sobrado azul. Tocou a campainha e esperou alguns minutos. Da varanda, surgiu uma mulher. Pele negra, rosto fino. Fazia Felipe se sentir ainda menor, ali embaixo.

— Quem é você? — A mulher perguntou, em um tom alto. Algo no modo como ela falou fez Felipe se lembrar de Lola.

— Felipe. Um amigo de Lola — ele gritou de volta.

A mulher ficou em silêncio, observando-o. Felipe sentia o olhar dela sendo cravado em cada parte de seu corpo. Por fim, ela entrou. Felipe pensou, por um momento, que sua entrada havia sido negada, mas ouviu a porta ser aberta e a mulher falar baixinho e em modo de aviso:

— Não demore com ela.

Felipe assentiu com a cabeça e entrou. A mulher passou a sua frente, para lhe mostrar onde Lola estava. Ela parou em frente a uma porta de madeira, um pouco arranhada. Lá de dentro saiam sons meio estranhos, de alguma banda de rock alternativo norte-americana. A mulher começou a bater na porta o mais forte que podia.

Ovelhas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora