Lola faz isso o tempo todo

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Felipe

— Caixa postal — disse Juno, bloqueando a tela do celular. — De novo.

A menina revirou os olhos azuis e bufou, batendo na porta do reservado.

— Bem, agora podemos sair daqui? — Luan perguntou, tentando se mexer. Juno assentiu.

Felipe, Luan e Juno haviam passado os últimos dez minutos trancados dentro de um dos reservados do banheiro feminino. A ideia fora de Juno. Ela queria ligar para Eric, para saber se Lola estava com ele. Na cabeça dela, se ficassem em qualquer outro lugar da escola, seriam pegos facilmente matando aula. E, segundo ela, para ficarem realmente escondidos, tinham que entrar num dos reservados.

Os dois meninos haviam concordado com ela, porque queriam que Juno ligasse logo para Eric, mas já estavam arrependidos. O reservado era minúsculo e eles mal tinham espaço para mexer os braços. Felipe sempre acabava roçando alguma parte de seu corpo em Luan ou em Juno. Toda vez que isso acontecia, ele ficava vermelho e abaixava a cabeça, para os colegas não perceberem sua reação.

Quando Juno finalmente abriu a porta do reservado, Felipe pôde respirar aliviado. Não tinha mais a preocupação de não tocar em ninguém e não precisaria mais fazer um esforço desnecessário para não agarrar Luan na frente de Juno — aquela proximidade estava acabando com seus nervos e ele deu graças a Deus quando ficou longe de Luan.

— Vamos fazer o quê agora? — Luan chutou a parede. — Nossa única pista se foi.

Felipe ficou em silêncio. Pensava a mesma coisa. E a cada minuto que passavam sem notícias de Lola, mais preocupado ele ficava. Coisas horríveis podiam estar acontecendo a ela, naquele exato momento.

— Por que está tão preocupado? — Juno franziu o cenho para Luan de repente. — É só a Lola, ela vive sumindo e aparecendo de novo. Ela é assim.

Luan, que chutava a parede várias vezes, parou. Ele se virou para Juno com um olhar sanguinário. Felipe ficou imaginando se teria forças para separar uma possível briga entre os dois.

— Porque ela é minha amiga! — Luan gritou para Juno. — E ela não está num bom momento agora — acrescentou, à meia voz.

— Ela não é amiga de ninguém. — Juno riu ironicamente, como se Luan fosse muito burro por não perceber isso.

Ele sempre tivera certa simpatia por Juno. Ela era uma moça inteligente, bem resolvida, sabia o que queria e sempre alcançava todos os seus objetivos. Era alguém a ser admirada. Porém, o jeito como ela estava se referindo a menina pela qual ele achava que era completamente apaixonado... alguma coisa começou a queimar dentro de Felipe e ele se viu contando números em ordem crescente para se acalmar.

— Sim, ela é — ele finalmente disse. — Se você realmente amiga dela, iria perceber isso.

Juno deu de ombros, sem se importar.

— Se vocês dois querem continuar se enganando, o problema é de vocês — ela disse, como se estivesse abrindo mão de salvar a alma dos garotos. — Já fiz o que pude tentando afastar aquela garota de Felipe...

Dessa vez não foi apenas Luan que explodiu, chutando a parede com raiva. Felipe também não aguentou mais ouvir as declarações de Juno e começou a gritar:

— Mas que porra, Juno! — Ele xingou, em seguida, acrescentou: — O que aconteceu entre vocês, hein? Tu e Lola viviam grudadas e do nada começaram a quase se odiar!

Juno soltou uma risada seca e irônica diante da pergunta de Felipe.

— Ah, quer dizer que ela nunca contou pra vocês? — A menina loira parecia se divertir com aquilo, como se aquele fato fosse prova de que Lola não era amiga de deles. — Bem, não tem problema, eu conto: quando eu comecei a namorar, ela surtou. Via Ian como um inimigo, que queria separar a gente, apenas porque ele achava errado o estilo de vida que nós duas levávamos.

Ovelhas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora