Um diamante bruto

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Maria de Lourdes


Luan merecia algum prêmio especial por sua incrível capacidade de ser insuportavelmente chato. Não bastavam os desgastes dos últimos dias, Maria de Lourdes não podia descansar nem mesmo na sala de aula. Foram dois horários inteiros recebendo bilhetinhos do novo amigo. Aliás, colega. Ela se recusava a ser amiga dele.


Nos bilhetes, estavam piadas cuja graça apenas o próprio Luan enxergava. Além de serem irritantes até demais.


A menina já não aguentava mais. Estava prestes a levantar da carteira e enfiar o último bilhete dentro da boca de Luan e fazê-lo engolir o pedaço de papel. A raiva era tanta que os nós de seus dedos estavam vermelhos e as sobrancelhas, elas se uniam no meio da testa. Lola começou a inspirar pelo nariz e expirar pela boca, como as grávidas faziam, numa tentativa frustrada de se acalmar. Pensando em retrospecto, não sabia o motivo de ter contado para Luan sobre Felipe. Maldito erro. Já deveria saber que nada que fizesse iria, de fato, irritar o menino.


Lá para o meio da aula, Luan trocou de lugar com o aluno que estava sentado ao lado de Lola. Maria revirou os olhos e suspirou, rezando para ter paciência. Contudo, suas preces não foram atendidas. Mal Luan sentou e ela já lhe lançou um olhar mortífero, de puro ódio. O garoto riu e contou alguma piada em seu ouvido. Ela não gostou nenhum pouco do que ouviu e bateu, com bastante força, no braço de Luan.


- Ai! - Ele gritou, chamando a atenção de alguns colegas para si. - Não tenho culpa se você tá saindo com um cara nada a ver!


- Achei que você gostasse dele... - Lola respondeu irônica e voltou sua atenção para o professor.


- E eu gosto, mas... francamente! - Luan começou a rir. - Você e Felipe formam o pior casal da face da Terra!


Ao escutar a frase, Maria de Lourdes teve vontade de socar Luan até que ele estivesse desfigurado. E faria isso, caso o que ele estivesse falando não fosse a mais pura verdade. Os dois não tinham nada a ver. Completamente opostos. O único assunto deles era o maldito namoro falso.


Quem tinha mesmo a ver com ela era Eric. Ele sim era o encaixe perfeito da menina, com seus olhos azuis que sempre a faziam suspirar. Mas ela própria sabia que, se ficassem juntos, estaria assinando o contrato com a ruína dele. Sempre fora assim. E ela simplesmente estava cansada de arruinar a vida de alguém que amava tanto.


Sim. Lola amava Eric. Mais do que já amara qualquer pessoa e quase tanto quanto amava a si própria. Por isso mesmo, fazia o possível para ficar longe dele, mesmo que seus pensamentos sempre se voltassem para o menino de olhos claros, de alguma maneira.


Junto com a raiva que a assolava, ela começou a sentir lágrimas brotarem no canto de seus olhos. Então, Lola respirou fundo, levantou da cadeira e saiu da sala. Deixou a porta bater atrás de si com um estrondo e pôde imaginar o rosto espantado do professor e dos colegas. Entretanto, não se importava. Precisava de ar.


Desceu as escadas correndo. Sentia a raiva, a tristeza e a saudade preenchendo seus poros, o sangue correndo mais rápido por suas veias e esquentando o corpo. A cabeça começou a latejar de dor, devido ao estresse. Lola estava no último degrau da escada quando começou a ofegar. Segurou na ponta do corrimão, para se equilibrar. Porém, logo ela se abaixou e sentou na escada. Colocou a cabeça entre as pernas, esperando a respiração normalizar e a dor de cabeça passar.


Após alguns segundos, sentiu uma mão em seu ombro. O toque era macio e quente e a mão, pequena como a de uma mulher. Levantou a cabeça devagar, esperando encontrar a coordenadora ou alguma professora, entretanto foi decepcionada. O que ela viu foram olhos azuis, emoldurados por uma sobrancelha muito bem-feita.

Ovelhas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora