Maria de Lourdes
Os dois entraram confiantes na sala. O menino mais baixo falou algo com a professora. Em seguida, sentou novamente ao lado dela. Com o canto do olho, Lola viu Felipe seguir para o fundo da sala. Luan apontou para o garoto, contudo ele o ignorou veladamente. A sensação de que algo estranho estava acontecendo crescia a cada segundo dentro dela.
Desde o dia em que almoçou na casa de Felipe e ele se recusou a chamar Luan, Lola começou a desconfiar. Agora, Felipe nem a beijara de volta direito. Ele não estava apaixonado por ela? Na cabeça de Lola, só tinha uma explicação para isso acontecer: Luan tinha dito algo para Felipe. Aquele ciúme idiota dele estava estragando sua amizade com Felipe! E ela nem sabia porque se importava tanto com isso, mas o fato do mundo querer afastá-la dele, a fazia ter vontade de se aproximar ainda mais, só para provar que não seguia os desejos alheios.
Ela voltou a fitar o quadro e a observar a professora falando. Porém, nem escutava as palavras que saiam da boca da mulher. Muito menos entendia o que ela escrevia e que, supostamente, os alunos deveriam anotar. Lola apenas mordia a caneta, pensando sobre o problema que estava tirando seu sono.
— Vem cá, onde você achou Felipe? — A menina perguntou para Gabriel de repente.
— No banheiro, por quê? — Gabriel, que estava concentrado na aula, levou um susto ao ouvir a voz da colega e acabou borrando a página com a tinta da caneta. — Por que quer saber isso?
— Por nada. — Lola franziu o cenho, notando que Gabriel enxugava as mãos na calça jeans. — O que ele estava fazendo lá?
— Ele passou mal. Nada demais. Por quê? — Ele fitava Lola e sua voz falhava a cada palavra. A menina percebeu que ele estava se esforçando demais para não desviar os olhos.
— Você é um péssimo mentiroso — Lola disse, por fim, bem devagar.
Ela voltou sua atenção para a professora à frente, mesmo sem entender uma única palavra do que a mulher dizia. Gabriel continuou olhando a garota por alguns segundos. Lola podia ouvir os dedos dele tamborilando na mesa e o som do contato da pele da mão com a calça jeans. Ela sentia que Gabriel estava nervoso. Isso só aumentava suas suspeitas quanto a Luan e Felipe.
Lola tinha quase certeza de que Luan havia dito algo para Felipe. Talvez o ameaçado. As ideias sobre brincadeiras de Luan eram completamente diferentes das de Felipe. Lola nem queria imaginar o que seu suposto melhor amigo havia dito para seu namorado de mentirinha. Em sua mente, toda vez que pensava sobre o assunto, era algo ainda mais absurdo.
— Olha, eu não posso te contar — Gabriel atirou. A voz do garoto, além de muito baixa, estava um pouco assustada. — Mas você é a suposta namorada dele e ele vive falando que é apaixonado por você, então acho que tenho que falar isso pra você.
— Tá, para de enrolação e fala logo. — Lola estava impaciente e revirava os olhos a cada palavra.
— É que... bem... sabe... — Gabriel esfregava as mãos mais uma vez na calça jeans e falava o mais baixo que conseguia. — Tem alguma coisa acontecendo entre Felipe e Luan.
—Conta uma novidade, garotão. — Ela deu um suspiro, irritada. — Eu quero saber é exatamente o que está acontecendo entre eles, entendeu?
Lola olhava para o menino, inquisitiva. Queria respostas e esperava que Gabriel as tivesse. Todavia, seu colega apenas prestava atenção na aula e nada dizia. Por fim, ele deu de ombros e, sem nem olhar para ela, respondeu:
— Isso você vai ter que perguntar para ele.
Lola forçou um sorriso amarelo e voltou a fingir que prestava atenção na aula. Começou a brincar instintivamente com as tranças de seu cabelo. Algumas vezes, soltava suspiros. Toda vez que fazia isso, Gabriel olhava para ela. A atitude de Lola era sempre a mesma: virar o rosto. E se Luan estivesse ameaçando mesmo Felipe ou fazendo o garoto acreditar que estava sendo perseguido, ela nunca saberia. Felipe não falaria. Luan jamais se entregaria. E Gabriel se recusava a abrir a boca.
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Ovelhas Negras
Teen FictionO garoto popular. A garota problema. O nerd. Três adolescentes com absolutamente nada em comum. Uma noite. Uma festa. Um problema. Foi o suficiente para unir os três. Juntos, eles percebem que tem mais em comum do que apenas famílias tradicionais e...