Vitra

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Depois da péssima sensação que aquele simples portão me deixou, fui assolado por um terrível sentimento de solidão. Minha mãe supria todo e qualquer mal estar que eu tivesse, me ninando para acalmar minha alma se fosse preciso, mesmo eu sendo um moço de quinze anos.

Aquele lugar era desnecessariamente grande. Continha vinte e oito quartos, salas e outros cômodos inúteis para apenas uma família composta de um pai e um filho.

Mas algo muito nítido, comentei brevemente isso com Alfred, era a atmosfera daquele lugar. Como se algo estivesse pressionando meu peito, me dando um abraço frio e mórbido por trás... Era uma sensação surreal, e já estava se tornando perturbador. Uma coisa é você entrar em um cômodo, sentir tais sensações e depois poder sair dele, outra, é essa energia negativa ser emanada por toda a casa e você não poder sair porquê é simplesmente seu lar.

Eu olhava constantemente para todos os lados, sentindo aquela áurea negra pairar sobre mim. E parecia que só eu e Alfred sentíamos. Meu pai sequer reclamou de algo anormal, mas ele, geralmente, costumava ser um homem de muita pouca fé.

No entanto, ele gostava de brincar de ser cristão de vez em quando.

Sua única religião era o dinheiro e os dogmas do lucro.

Motivo esse pelo qual estávamos morando em uma mansão estranha, no alto de uma colina e supostamente isolada.

Muitos empregados trabalhavam pela casa. Os castiçais estavam com suas velas acesas, o que tornava o ambiente menos mórbido e assustador. Havia muitos quadros nas paredes, cortinas em todas as janelas e muita poeira úmida.

Olhei para o corredor do andar de baixo, que ficava depois da grande sala de jantar e jurei, jurei pela alma da minha mãe, ter visto um vulto escuro. Os pelos dos meus braços se eriçaram, uma onda de pânico começou a me tomar. Alfred estava ao meu lado e percebeu.

"O senhor está bem? Empalideceu de repente." Perguntou prestativo e preocupado.

"Você viu aquilo Sr. Alfred?"  Indaguei, apontando o indicador trêmulo em direção ao que me referi.

"Vi o que senhor?" Ele se esforçou para tentar acompanhar meu olhar. Sem sucesso.

A razão tomou conta de mim naquele instante. Deduzi que ainda estava muito abalado com a morte da minha mãe e que consequentemente, minha mente queria achar formas de contactá-la, fazendo com que eu acreditasse ter visto algo no corredor. Recompus-me e apenas balbuciei:

"Nada. Onde fica meu quarto mesmo?"

***

Sentado naquela cama, eu fitava minhas próprias mãos enluvadas e "trancadas". Como eu era infeliz. Em seguida, olhei ao meu redor, e aquela vontade de tocar as paredes, os objetos e entender a história daquele lugar me dominou. Cogitei a possibilidade de tirar as luvas e no quão imoral pedir aquilo para o meu pai parecia ser.

Havia uma jarra de vidro sobre a cômoda perto da porta. Ao que eu me joguei e deitei de vez na cama, ouvi um tilintar. Plim. Como se alguém tivesse dado uma leve batida com a superfície da unha. Não posso negar que instantaneamente sentei novamente, alerta, com os olhos arregalados e aquela sensação de morte súbita que estava me tomando.

A verdade? Eu estava apavorado; estava em pânico. Havia alguma coisa errada ali, pois mesmo achando que parte daqueles "fenômenos" se davam pelo efeito pós morte que minha mãe deixou, aquela sensação não me abandonava. Era algo de natureza totalmente inédita e macabra.

Como um abraço frio e mórbido por trás.

Tentei manter a calma, mas me sentia sozinho. Deprimido de todas as maneiras que um ser humano poderia estar. A tristeza foi bem maior que o medo, e logo pensei nas coisas ruins que eu estava sendo acometido, e aquela borbulha agoniada no peito se formando cada vez mais dolorida.

Chorei.

Tudo que eu queria era alguém que fosse meu escudo. Que me ajudasse, me mantivesse lúcido. Alguém que parasse aquela dor na minha alma que nunca parecia passar...

Pensando exatamente dessa maneira e desejando muito que isso acontecesse, adormeci.

No dia seguinte, acordei ainda sonolento e com muito frio. Encolhi o corpo dentro das cobertas grossas de tecido tingido de dourado e fitei a porta. O meu quarto era muito bem decorado, com móveis luxuosos sob medida de mogno. Acho até que meu pai comprara aquele lugar apenas para se exibir aos seus amigos canadenses. Comecei a me desvencilhar sobre a cama, arrastando os cobertores comigo. Quando consegui levantei, caminhei até a janela e afastei as cortinas.

A iluminação natural era parca e tristonha. Parecia um final de tarde ao invés de um alvorecer. Até aquele lugar era deprimente. Não mais do que as coisas dentro de mim.

Alguns empregados estavam usando pás para criar uma estrada que não estivesse tomada por neve. Ao longo do grande muro, havia várias árvores secas plantadas, e à esquerda uma pequena floresta cheia delas. Era assustadora, aliás. Fitei, logo em seguida, os grandes portões ao longe. Eles eram suntuosos e omnipotentes. Nada seria capaz de derrubá-los.

"... Way..." Murmurei pensativo.

Então eu escutei aquele rangido. A porta sendo lentamente aberta até bater na parede. Não me virei pois certamente era algum empregado.

Então eu ouvi novamente.

Plim...

Plim...

Virei instantaneamente já tendo um breve ataque de nervos. Meus olhos estavam arregalados, parecia que tinha uma corda sufocando meu estômago e o susto e o medo percorriam cada centímetro do meu corpo. A água vibrava dentro da jarra, e não havia ninguém por perto.

" Mas o que é isso?!" Minha voz saiu trêmula e levemente irritada.

De supetão, a porta fora empurrada e fechada, causando um estrondo no quarto e dentro da minha cabeça.

Quase sem ter controle do meu corpo trêmulo, me voltei para a janela tentando recuperar o ar.

Os trabalhadores estavam lá, normalmente, e nenhum sinal de que algo acontecera era nítido. Meus olhos percorreram a frente da minha casa e se chocaram novamente nos portões.

Cerrando os olhos, ponderei.

"Way. Eu preciso tocar naqueles portões."


Notas:já dá pra notar que o Frank é bem deprimido, não é?
E só p registar que o dom do Frank, nessa primeira fase, foi inspirado no dom de Michael Curry, do primeiro livro da saga " A hora das Bruxas" [é uma saga ótima, recomendo ]
E calma. Gerard vai aparecer logo hehehe
And well, espero que estejam gostando

Ghost In The Snow || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora