Et manus digitabulum (a mão e a luva)

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Notas: olá amoras como estão? Acabei de escrever este capítulo pq fui assistir A Freira hj e me inspirei. Já falei q sou medrosa p caralho? N sirvo p assistir filme de terror. Se bem q comparado com o filme isso aqui ta leve. Well, até q ficou bonitinho isso aqui, gostei hehehehe
E calma... Gerard tá chegando... Ele pode vir devagar, correndo... Quem sabe rastejante...


Nunca poderei explicar o alívio que passou a me circundar quando, quase que divinamente, Morrisset surgiu do corredor empunhada de uma lamparina. Ela olhou para a cozinha, tentando entender o que lá havia acontecido e logo em seguida para mim.

Franziu o cenho e percebeu que eu estava congelado pelo medo.

Correu até mim, naqueles passos delicados e limitados pela barra da camisola,  guiou-me até o meu quarto e me sentou na cama.

"Monsieur... O que aconteceu? Está pálido como mármore."

"Tem um demônio aqui dentro." Fitei o piso de madeira.

"Oh céus. Bem que minha prima disse para não vir até aqui." Ela exclamou apavorada.

"Você viu o que aconteceu na cozinha. Nenhum de nós teria forças para tal."

Robert entrou no quarto esfregando os olhos. Olhou para mim e apenas depois de algum tempo notou algo estranho. Perguntou o que foi e Morrisset explicou por mim.

"Mas aquilo não cai assim por conta própria. Não seria um ladrão?" Sugeriu.

Eu já o detestava. Com aquela demonstração de burrice, fiquei ainda mais irritado com sua existência.

"Eu vi uma coisa saindo da cozinha."  Fitei Morrisset.

Ela tinha algumas rugas, era loira. Tinha em torno de quarenta anos. Seus olhos eram castanhos, quase negros. O conjunto de sua feição resultava em algo... Angelical. Diferente do outro ao seu lado. Traços grossos e arrogantes. Traços burros.

"Uma coisa?" Ele perguntou.

"A mesma que vi no corredor. Era disforme e escura. Mas parece com algo... Algo de forma humana. Demônios assumem uma forma humana, não?"

"Acho que..." Morrisset cogitou meio perdida em seus pensamentos. "Acho que deveríamos dormir. Não conhecemos o passado desta mansão, muito menos o que de tão ruim aconteceu. Melhor deixarmos isto quieto. Ande, ande!" Falou enxotando Robert do quarto. Este, saiu sem se importar e ela fechou a porta logo em seguida.

Fiquei olhando para o piso. Decidi que passaria a noite com todas as velas do quarto acesas e uma lamparina ao lado de minha cama.

Não consegui dormir.

No dia seguinte eu estava nitidamente acabado, os empregados homens, que cuidavam geralmente do lado de fora da casa, tentavam carregar a estrutura de ferro. Parei na escada e observei. Robert tomava algo em sua xícara, encostado mal educadamente na grande janela. Atrás dele, no lado de fora, caía uma neve fina.

A visão era bonita, porém triste.

Ele tinha um sorrisinho sarcástico nos lábios. Fitava os empregados como quem fita um bobo da corte. Um olhar ridicularizado tomava seus orbes e sua barba parecia ter crescido da noite para o dia. Desejei que ele contraísse piolhos por todos os buracos de seu corpo. Inclusive nos pelinhos dentre as nádegas.

"Então você se diverte com o sofrimento alheio, Sr. McCraken."

Ele se engasgou com o que bebia, desejei muito que fosse veneno e endireitou a postura, antes relaxada.

"Não, monsieur Anthony." Pigarreou logo após.

"Pois bem. Não é o que parece." Apertei o corrimão.

Os sete homens passaram carregando a estrutura de ferro com muito esforço. Um deles, Ducobu, deu uma intensa e ameaçadora encarada em McCraken, que pareceu tremer dos pés a cabeça.

"O senhor está liberado hoje... Passeie pela propriedade, corte lenha... Faça algo útil." Sugeri.

"Mas seu pai..." Interferiu preguiçoso.

"Meu pai, monsieur McCraken, se ainda não percebeu, não está aqui. Agora vá..."

Ele assentiu, sabendo que tentar inverter minha vontade à sua não resultaria em uma boa conversa. E seria ridículo de sua parte se tentasse. Partiu para o corredor e se enfiou em algum cômodo.

Desci calmamente as escadas. Tirei a mão esquerda do corrimão. Com a direita fui tirando calmamente a luva. Depois a outra.

Não me importei em desobedecer meu pai. De certa forma, pode ser absurdo o que vou agora admitir, ele não merecia meu respeito e minha lealdade. Que ele fosse para o raio que o parta. A única coisa que  queria era sentir a energia da casa.

Caminhei e fui até a sala de visitas. Até onde eu sabia, os móveis eram originais. Estavam cobertos por lençóis brancos e por algum motivo as janelas estavam cobertas por placas de madeiras.

Fechei a porta.

Meu peito começou a doer. Não, não fisicamente. Era como... Se meu coração estivesse partido.

Senti uma cócega nas bochechas...

Eram lágrimas.

Eu me sentia muito triste e não sabia a razão.

Permaneci com as minhas mãos suspensas, hesitando em tocar os móveis.

Tocar. Esse sempre foi o meu medo desde...

Eu tinha cinco anos de idade. Caminhava por uma floresta com minha mãe. Ela estava logo atrás de mim, segurando uma cesta e colhendo algumas flores. O que eu não sabia, era que havia um poço abandonado naquele lugar.

Saltava como uma criança feliz, até que senti aquele buraco me engolir. Eu era uma criança pequena e na noite anterior àquela manhã, havia chovido torrencialmente. Passei a me afogar, escutei os gritos e o pranto desesperado de minha mãe.

Apaguei.

Quando acordei, estava sobre minha cama. Minha mãe dormia na poltrona, segurando firme um Rosário. Levantei confuso e toquei na parede para me apoiar.

Quando todas as imagens vieram de uma vez, eu como uma criança impactada pelo recente susto, comecei a chorar descontroladamente, acordando-a.

Tudo que eu tocava continha uma energia. Eu via fatos, tristes e felizes.

Por muitos anos eu não entendia nada daquilo.

Só depois vim entender que por conta daquele incidente no poço, e por ter quase morrido, talvez, Deus tivesse me dado este dom.

Mas claro, meu pai estragou toda magnitude que ser um "médium" significava.

Andei pela sala.

Toquei a parede e fechei meus olhos.

Eu via uma arma. Via sangue. Ouvi gritos e...

Pum!

Silêncio.

Pum!

Silêncio

Pum!

Silêncio.

Pum!

Tudo ficou escuro.

Abri os olhos, meu peito ofegava, meu coração estava disparado. Parecia que os ecos dos tiros faziam minha cabeça latejar.

Naquela sala... A que mais me atraiu e a que parecia ter uma energia extremamente pesada... Foi ali...

Nunca tinha sido assim. Sempre foram apenas imagens... Não entendia o quê estava me bloqueando e ao mesmo tempo expandindo meu dom.

Foi ali que aconteceu a tragédia. Não consegui nitidamente imagens. Senti pavor... Senti raiva...Medo... Uma sensação de fim me tomou as pernas, causando-me uma tremedeira.

Três mortes e ao que indicou a escuridão depois do último tiro, um suicídio.

Agora, o que era aquela coisa que se arrastou no piso da cozinha?

Ghost In The Snow || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora