Cimiterium(Cemitério)

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Nas mais vastas das possibilidades, decidi apenas tentar manter a coerência por fora. Por dentro eu estava em um completo caos.

Ainda tentava entender a natureza daquele fenômeno último.  Eu tentava ao máximo calibrar minhas emoções, porém, o único e lógico adjetivo que consegui caracterizar foi: imoral.

Eu nunca tive amigos. Poucos foram os que passaram pela minha vida. Estudei em casa por conta de minha mãe.  Se fosse pela vontade do meu pai, estaria preso pelos grandes muros de um colégio interno. Aonde quero chegar contando esses fatos? Tudo que me foi dito sobre contatos, amor e sensações, fora totalmente mostrado com superficialidade. Havia as regras da Igreja que todos seguiam corretamente. Parecia até que todo e qualquer toque entre duas pessoas fora do casamento era pecado.

Mas sempre me disseram que eu era inteligente e aquela situação no meu quarto despertou algo de cunho sexual. A palavra imoral voltou a minha cabeça. Seria tão imoral assim? Era contraditório. Fora apenas um arrepio no ombro.

Ou um abraço frio e mórbido por trás...

Intencional e desconhecido ou não, permanecia imoral.

As coisas entre mim e Robert se apaziguaram depois daquela experiência assombrosa do cômodo secreto. Eu ainda não o adorava, algo me dizia que ele era um tanto suspeito e rabugento.

Acomodei-me na cadeira. O pintor terminava meus olhos e alguns detalhes no fundo. Minhas costas doíam, minhas orelhas queimavam, diziam que quando isso acontece era por alguém estar falando de você e eu sentia um leve ardor nos olhos por tentar mantê-los abertos. Atrás do pintor estavam McCraken e Morrisset. O primeiro me olhava estranho, como de costume. Até para um desconhecido ele olhava daquele jeito meio... Como se estivesse flertando. A segunda esbanjava um sorriso orgulhoso e sem dentes no rosto, o que deixava suas bochechas adoravelmente rosadas.

Alfred estava adoentado. Vivia de cama e isolado. Tossia muito e tinha febres ao entardecer. Ouvi rumores pelos corredores de que era tuberculose. A palavra me causava arrepios terríveis.

A morte. Ali. Sempre me rondando com seu capuz e sua foice. Implantando a ideia de sua vinda antecipada através de mensagens subliminares ao meu redor. Mas eu tentava ser forte. Juro que sim. Repetia isso todos os dias quando acordava, ajudava a levantar da cama.

Os afazeres não faziam sentido. Era tudo cordialmente pensado para ser executado. Era vazio e monótono. Não tinha pessoas...
Viver era um abraço frio e mórbido por trás. Era sem sentimento. Eu tinha tanto, mas por dentro eu não tinha nada.

Não posso esquecer do meu dom, que já não sei mais se é dádiva ou uma maldição.

Ao que o pintor anunciou o fim, rapidamente me levantei da cadeira sentindo o efeito de passar duas horas em uma só posição. Morrisset segurava uma bandeja com uma jarra de suco, logo se aproximou e me ofereceu. Me servi e tomei rapidamente.

Ela saiu levando o copo e o pintor parecia limpar as mãos em um pano qualquer. Andei até Robert que estava parado perto da janela.

"Tem planos para hoje?" Perguntei com as mãos para trás e aquela postura ereta de sempre.

"Não."  Respondeu desconfiado.

"Pois vista o seu casaco. De preferência use também luvas e cachecol."  Sorri convidativo.

"Para o que exatamente?" Pareceu nervoso de repente e preocupado.

"Vamos sair."

"Não pode sair."

"Ah eu posso sim senhor."

"Você me dará problemas." Ele sussurrou olhando para os lados.

"Sei que gosta de uma aventura. Espero por você no portão." Dei as costas e saí de seu campo de visão.

Ao que caminhava em direção ao portão, escutei um assobio[*do início da música hang in high*]. Mas este não era igual ao que eu ouvi da outra vez, era uma melodia diferente. Vinha dos lados da floresta de árvores secas. Parecia algo... Parecia um assobio de músicas de faroeste. Olhei naquela direção e sorri fracamente, satisfeito em saber que ele estava por ali. Algo estava acontecendo para não aparecer e isso estava me irritando. Era como se todo o pavor que ele me provocou não fosse nada.

Fiquei encostado no portão, rezando intimamente para não ter nenhum dos homens do meu pai trabalhando por ali naquele instante. Avistei Robert saindo da mansão, com seu sobretudo quase felpudo de tão velho e aquele cachecol marrom rasgado. Por um momento me ocorreu que ele guardava algum segredo. Eu tinha medo do que era, mas poderia saber apenas o tocando sem as luvas.

Ao que ultrapassamos o portão de ferro, descemos com dificuldade aquele terreno íngreme e desregular. Fiquei entalado muitas vezes em montanhas de neve. O tempo não estava bom naquele dia. O céu, mais negro que o normal, derramava pequenos flocos de neve, acompanhados de um vento uivante e assustador. Não víamos nada além de cinco metros, o que me causou certo desconforto.

Vistamos o pequeno cemitério. Adentramos e percorremos por entre os túmulos, sentindo a inquietação da curiosidade.

Queria estar sentindo a presença daquele ser, mas nada aconteceu.

Aproximei-me dos maiores moimentos, eram cercados por grades de ferro. Espremi os olhos para ler, mas não consegui enxergar nada pois havia neve me impedindo.

"Entre aí e limpe os túmulos." Ordenei para Robert, que me olhou indignado.

"Quer que eu violente um túmulo?!"

Não pude evitar o revirar de olhos.

"Não. Apenas limpe a neve dos títulos das lápides."

Então ele o fez. Robert era meu tutor, não meu “serviçal”, mas estranhamente fazia tudo que eu mandava. Era subalterno à mim. E eu maldosamente gostava disso. Que Deus me perdoe.

Então eu pude ler: no túmulo esquerdo Donna Way, boa mãe e querida por todos; ao meio Donald Way e nada mais; e no da direita Michael Way, um filho doce. Percorri meu olhar pelo resto do moimento e não havia o quarto túmulo. O túmulo que eu queria ver. Estava faltando o túmulo dele. Andei o procurando, Robert logo atrás de mim e quando eu percebi que O Fantasma na Neve não estava ali, desisti. Voltei ao moimento dos Way.

"Ave maria gracia plena dominus..."

Então, antes de terminar minha oração por eles, achei que ninguém tinha rezado quando morreram, vi de longe uma mulher. Ela vestia preto e tinha o cabelo bem armado. Era meio transparente. Sorriu para mim e foi envolta por uma luz branca e sumiu.

Então eu entendi.

Bastou apenas uma oração para eu libertar Donna Way.

Mas onde estavam os outros? Onde estava ele?






Nota2024: oe pessoal. Eu realmente queria ta numa fase bem produtiva, entregando tudo q prometi e interagindo. Mas ultimamente eu nem sei como eu consigo levantar de manhã e fazer as coisas básicas como escovar os dentes e comer. É uma fase bem estranha e pesada. Geralmente, eu escrevo e imagino como determinado personagem poderia se sentir em relação a alguma coisa e revisando esse capítulo, nunca me identifiquei tanto com algo que escrevi:

"Mas eu tentava ser forte. Juro que sim. Repetia isso todos os dias quando acordava, ajudava a levantar da cama.

Os afazeres não faziam sentido. Era tudo cordialmente pensado para ser executado. Era vazio e monótono. Não tinha pessoas...
Viver era um abraço frio e mórbido por trás. Era sem sentimento. Eu tinha tanto, mas por dentro eu não tinha nada."

Então sei la. To cansada de ficar prometendl as coisas e essa merda me derrubar e eu n ser capaz de fazer nada.
So to falando isso, pra se caso vc tbm se sinta assim, procure ajuda. Ou converse com alguém.

Enfim, estraguei o clima. Mas acho q a gente n tem q ficar mastigando e engolindo tudo que sente e pensa o tempo todo.

Ghost In The Snow || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora