Capítulo 20

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Kendrick se encontrava na Sala das Armas, em um longo banco de madeira ao lado de dezenas de seus companheiros, membros do Exército Prata. Ele examinava sua espada enquanto afiava. Seu espírito estava abatido. O falecimento de seu pai o tinha abalado mais do que ele poderia dizer. Enquanto seu pai tinha vivido, a maneira como o mundo percebia sua relação com ele tinha lhe causado problemas. MacGil era seu verdadeiro pai. Ele sabia disso no fundo do seu coração. MacGil sempre o havia tratado como um verdadeiro pai e o considerava um filho de verdade. O filho primogênito de verdade. Contudo, aos olhos de todo o mundo, ele era ilegítimo. Por quê? Só porque seu pai tinha escolhido outra mulher para ser sua rainha.

Era muito injusto. Ele aceitou o seu papel de bastardo e tinha feito o papel do filho bom por respeito a seu pai. Ele obedientemente tinha reprimido seus sentimentos toda a sua vida. Mas agora que seu pai estava morto, e especialmente agora que Gareth havia sido nomeado rei, algo dentro de Kendrick já não poderia aceitar o estado atual das coisas. Algo dentro dele ardia. Não era o desejo de ser rei; era apenas o desejo de que o resto do mundo reconhecesse que ele era o primogênito dos MacGil, que ele era um filho legítimo — tanto quanto qualquer um dos seus meio-irmãos.

Enquanto Kendrick permanecia ali, afiando sua espada com uma pedra uma e outra vez e fazendo um barulho estridente que cortava a sala, ele pensava sobre todas as coisas que haviam ficado sem ser ditas por seu pai. Ele desejou que ele tivesse tido mais tempo: desejou ter tido uma chance de dizer ao pai quão grato ele estava por ter sido criado como um dos seus filhos legítimos; a chance de dizer-lhe que sem importar o que os outros pensassem, ele era seu verdadeiro pai, e ele seu verdadeiro filho; a chance de dizer-lhe as palavras que ele nunca tinha dito: que ele o amava.

Seu pai tinha sido tirado dele muito cedo e sem aviso prévio.

Kendrick afiava a espada com mais força, apertando mais a pedra contra ela à medida que a raiva crescia dentro dele. Ele encontraria o assassino do seu pai e ele mesmo o mataria. Ele estava determinado. Muitos suspeitos estavam em sua cabeça e hora trás hora ele ponderava um atrás do outro. Quem ele ponderava acima de tudo, infelizmente, era aquele em quem ele mais temia pensar. Aquele que estava mais próximo dele. Seu meio-irmão mais novo, Gareth.

Bem no fundo ele não podia deixar de pensar que Gareth estava por trás de tudo de alguma forma. Ele se lembrava daquela reunião, da raiva de Gareth ao ser preterido em favor de Gwendolyn. Por ter sido criado com ele e ter apenas alguns anos de diferença, ele sabia muito bem da má índole de Gareth desde que os dois se conheceram. Gareth sempre tinha invejado Kendrick, por ser mais velho, por ser o primogênito. Ele sempre tinha visto Kendrick como um obstáculo. Gareth não se deteria diante de nada para chegar ao seu reinado.

Kendrick afiava a espada enquanto ponderava outros suspeitos; Havia muitos inimigos que seu pai tinha acumulado, inimigos do estado, os inimigos que ele tinha conquistado nas batalhas, lordes rivais. Eles estavam mais distantes e era mais fácil pensar neles. Ele esperava que fosse um deles. E ele iria explorar cada um. Porém sem importar o quanto ele tentasse pensar nos outros, vez após vez ele encontrava a si mesmo pensando novamente em seu meio-irmão.

Kendrick sentou-se e olhou para os outros membros do Exército Prata, todos estavam cuidando de suas armas naquele dia triste. O sol de verão tinha sido substituído por um nevoeiro súbito e por pancadas de chuva. O dia após o solstício de verão sempre trazia grandes mudanças e sempre foi considerado um dia de manutenção, de preparação para a nova temporada. Era também o dia em que a Legião ia para A Centena. Kendrick lembrou-se da partida de seu novo escudeiro Thor, e sorriu. Ele tinha tomado gosto pelo rapaz e esperava grandes coisas dele.

Kendrick estudava os membros do Exército Prata que estavam sentados ao redor da mesa e fazendo brincadeiras. Muitos deles eram guerreiros aguerridos, todos com armas formidáveis, ao observá-los, como sempre, ele sentia gratidão por ser um membro de suas fileiras. Eles o haviam aceitado como um verdadeiro membro — e ele tinha feito por onde merecer isso. No início — quando ele era mais novo — tinha sido recebido com cautela, muitos supunham que ele só estava ali por causa do pai, ou que ele, sendo parte de realeza, os veria como inferiores. Mas lentamente, ao longo do tempo, ele havia conquistado seu respeito. Ele lutou para conquistar seu espaço, lado a lado com eles nas batalhas mais difíceis e eles puderam ver que Kendrick era como eles. Eventualmente, eles o aceitaram como um dos seus. Kendrick tinha muito orgulho disso. Sempre que alguém tinha tentado mostrar-lhe favor por ser filho do rei, ele insistia em ser tratado como um dos homens comuns. Com o tempo, os homens tinham percebido que ele era genuíno e tinham chegado a amá-lo. Durante muitos anos, Kendrick sabia que ele tinha se tornado o membro mais amado da família real, mais amado até mesmo do que seu pai. De fato, ele era o único que por mérito próprio, era respeitado e tratado como um verdadeiro soldado pelo Exército Prata.

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